Capítulo 12. Festa

Merheia voltou do platô para sua casa sem Catleia, a mãe de Rude e verdadeira Luna da Alcateia Flor de Lótus. Conversaram e concordaram que ela devia se manter escondida, então ela foi para o castelo de lorde Castel, o irmão de Ramón. Os dois irmãos não se davam bem, por motivos óbvios, Castel era um erudito recluso, que não gostava de ostentação, o oposto de Ramón, que queria sempre estar no controle de tudo. Lá ela estaria segura.

Ramón estava feliz por sua fêmea finalmente estar prenha, mas quando olhava para ela, não tinha sentimentos e nem desejo de macho, algo se apagou dentro dele e se não fosse o filhote, teria mandado ela embora ou até matado.

Maura percebeu a indiferença do Alfa, era como se ele não sentisse mais a ligação e ela tinha lhe dado a poção, como todo dia. Precisava entrar em contato com o bruxo de sangue, para saber o que estava acontecendo. Mas antes, pegaria um pouco do sangue da prisioneira e passaria em si, diluído como perfume, pois o que tinha, acabou.

Desceu as escadas para a masmorra, onde Ramón prendia seus inimigos e seguiu até a cela. Como estava escuro dentro da cela, não percebeu de imediato, que não havia ninguém ali. Quando procurou e não achou, correu pelo corredor, olhando todas as celas e estavam vazias.

Só então resolveu acender uma tocha e descer até o mais profundo dos buracos, para conferir se a outra prisioneira estava lá, mas também não a encontrou. Deu um grito que mais parecia de uma bruxa, do que de uma loba e saiu resmungando.

— Então foi isso, mas como aquela requenguela conseguiu derrubar essa grade? Como conseguiu tirar a outra prisioneira, se estava presa com bruxaria? Preciso ir correndo consultar a bruxa.

Naquela mesma noite, depois de verificar que o Alfa estava mesmo dormindo, vestiu uma capa com capuz negro e saiu de casa para visitar a bruxa. A casa da bruxa ficava em um lugar que ninguém suspeitaria, era uma casa simples e comum, em um bairro da periferia dos humanos, por coincidência, a rua onde ficava a casa, era bem próxima à casa de La Cruz.

*

Rude continuou observando a casa do doutor e em determinado momento o médico saiu com uma roupa embrulhada e pendurada em um cabide e foi até o Alfa.

— Tome um banho no banheiro externo e vista esta roupa. Dentro do bolso tem um convite com o endereço de uma festa em que iremos esta noite, quero que esteja lá, para proteger June se for necessário.

— Porque ela precisa de proteção e de que terei que protegê-la?

— Homens gananciosos e lascivos fizeram muito mal aquela jovem e você tem a obrigação de protegê-la, já que é sua companheira.

— Você quer dizer que estes homens poderão estar nesta festa?

— Nunca se sabe.

Malek se retirou e foi se arrumar, confiando que Rute faria tudo que precisasse para proteger June. 

Dentro da casa, As mulheres se arrumavam e June, depois de vestida, penteada e maquiada por Rosa, foi levada até o espelho para ver como ficou. Olhou e não se reconheceu mesmo porque, não tinha o costume de ficar olhando para sua imagem. Mas ficou admirada com o que viu. Os dois anos que passou longe da casa de La Cruz, lhe fizeram bem. 

É claro que o vestido ajudava muito, era vermelho e envolvia seu corpo sem apertar, era longo com um rasco na perna e tinha as costas nuas. Seu cabelo estava comprido e caía em ondas castanhas pelas contas e ombros. Seus olhos grandes e âmbar, estavam contornados de preto, fazendo a cor sobressair e o batom vermelho, completava o look.

Olhou-se toda e Rosa a admirava com prazer. Colocou uma corrente com um pingente de brilhante, em seu pescoço comprido e ficou perfeita.

— Você está linda, minha filha. — elogiou Malek, entrando no quarto.

Elas olharam para ele e também elogiaram. Rose se encolheu um pouco, porque ele mantinha a aparência de quando tinha seus quarenta anos e foi convertido, mas ela parecia mais velha,  mesmo ainda sendo muito bonita.

— Você também está linda querida e eu continuo te amando da mesma forma.

Se abraçaram, mas uma preocupação ficou na cabeça de June: e se ele encontrasse sua mãe, que era sua verdadeira companheira? Saberia a resposta no dia seguinte, pois libertaria todos, naquela noite.

Desceram as escadas e entraram no carro. Era o último, um jaguar anos 60, o xodó de Malek. Seguiram para o salão da prefeitura, onde seria a festa e June observava tudo em volta, queria saber onde tinha um ponto de táxi, que a levasse até a periferia. Tinha algum dinheiro, que seu pai passou a lhe dar para seus gastos e usaria para isso.

Quando chegaram à entrada do salão, todos olharam para eles, admirando a beleza do trio, mas certos homens se concentraram em June e ela os reconheceu. Gravaria o máximo possível sobre eles e os pegaria, um a um. Seguiram cumprimentando a todos pelo caminho, até a mesa reservada para eles.

Malek avistou Rude, de pé, próximo a uma pilastra, ocultando parte do corpo. Estava bonito e parecido com o pai. Apresentou a filha para alguns conhecidos, notando os olhares invejosos das mulheres e cobiçosos dos homens. A premiação começou e claro, Malek recebeu a sua homenagem, houve o jantar e depois o baile no centro do salão.

Alguns safados, fizeram questão de convidar June para dançar, soltar piadinhas, fazer insinuações e ela aproveitou para, fingindo interesse, arrancar deles as informações que necessitava para achá-los. Para alguns, que demonstraram cobiça, ela informou que estaria na casa de La Cruz, naquela noite, e os olhos deles brilharam em antecipação. 

Depois de dançar com quem lhe interessava, pediu licença ao pai e a madrasta e se retirou, saiu do prédio e foi para o ponto de táxi, mas um dos convidados a quem tinha dito para onde ia, correu atrás dela e lhe ofereceu uma carona, que ela, prontamente aceitou.

— Pensei que o Cruz tivesse fechado a casa por uns tempos. — Comentou o homem, que era um comerciante do varejo.

— Sim, mas farei uma visita especial, hoje.

— Que bom, então, que fui convidado.

— Sim, que bom, mesmo! — respondeu melosa.

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