Capítulo 7. Aprendizado

As aulas de June iniciaram, primeiro, Malek ensinou tudo sobre as mutações lupinas e ela conseguiu passar pelas três mutações básicas: humana, lupina e os dois juntos, meio a meio. June se esforçou e conseguiu aprender rapidamente, já tinha muita experiência em suportar a dor e essa experiência foi muito útil. Agora, levantava a noite, depois que Merheia dormia ou se ausentava, como costumava fazer, ela saia para correr na floresta.

Sentir a liberdade e o vento passando entre seus pelos, era a melhor sensação do mundo. Ousou e conseguiu caçar animais maiores, pular o rio, saltar galhos e pedras altas e estava cada vez mais forte. Começou a respirar cadenciado e sentir a natureza, se dedicou a perceber melhor os sons e enxergar as coisas minuciosamente.

Sentia até vibrações de energia no ar e nos dias de tempestade, sentia como se pudesse chamar os raios para si, puro magnetismo. Sua vida era completamente diferente da antiga e tinha dentro de si, a certeza de que podia conseguir realizar qualquer coisa. Estava deitada, nua, no platô, no alto de um monte, observando a lua que estava exatamente sobre ela.

— Obrigada, você me respondeu quando eu mais precisei, acho que foi você, por causa da sua ligação com os lobisomens. Estou muito feliz com minha nova força, mas eu quero mais, quero poder de fogo, quero queimar todos que fazem mal aos que não tem como se defender. Dá pra me conceder mais esse.

Os olhos dela ficaram vermelhos, a loba se manifestava, como se suplicasse também, querendo mais. Porém, naquele momento, tirando uma luminosidade branca e abundante, que emanou do astro, nada de diferente aconteceu. Deixou a loba no controle e foi para casa, deitou como humana, em sua cama de humana, mas dormiu profundamente como uma sobrenatural.  

A partir desta noite, June começou a ter sonhos estranhos e misteriosos. Se via em um corredor escuro e estreito e descia uma escada circular, que nunca acabava e acordava toda suada, sem entender o porquê de ter esses sonhos esquisitos. Levantou e estava animada para as primeiras aulas, que terminaram por serem muito chatas.

Assim como teve que ler vários livros sobre a história dos lobisomens e depois da Alcateia, também precisou ler sobre feiticeiros, bruxos e magia. No início, quando tinha recém aprendido a ler e escrever, era muito lenta, mas a prática foi tornando cada vez mais fácil. Mas o chato foi ter que aprender os nomes das plantas, em latim 

Foram semanas aprendendo sobre ervas, minerais, fórmulas, animais e maneiras de fazer poções. Decorou e decorou, até passarem a prática. Fez muitas poções, achou o elemento que combinava com a energia da loba e não era uma varinha, era uma pedra azul, em forma de gota, que passou a usar pendurada no pescoço e todo dia, energizava ela, com a energia da loba.

Treinava escondida, para Merheia não saber seu progresso e já possuía várias poções guardadas. Os sonhos continuavam, mas a cada dia, um novo elemento era acrescentado. Agora, a escada era larga e de pedra e levava a uma masmorra. Acordava e não fazia questão de lembrar, já havia se tornado um lugar de estimação.

— Vamos, June. Hoje iremos praticar em um lugar especial.

— Ou seja, um lugar secreto.

— Mais ou menos isso.

Merheia abriu um portal e passaram por ele, saindo em um platô, onde o chão era coberto de gramínea e um círculo de pedras altas de granito, cercavam um círculo plano de mármore, no chão. 

— Venha para o centro, vamos descobrir qual o elemento escolherá ceder sua magia a você. Concentre-se, segure sua pedra e pense no elemento. Pode começar com a água, por exemplo.

June queria descobrir, mas não queria que ela soubesse.

— O que eu faço, penso, falo, invoco, o que exatamente?

— O que você quiser, da maneira que achar que deve ser. Tente.

— Tá bom, então.

Ela centrou sua mente, focando no elemento água e falou, sussurrando:

— Á g u a a a

Nada aconteceu, não queria água e ela passou para o próximo elemento: 

— T e r r r r a 

Sentiu a terra em um leve movimento sobre seus pés e parou de chamar. Só ela sabia que podia contar com a terra. Passou para o próximo elemento:

— A a a r r r 

Nada aconteceu e passou para outro elemento, mas dessa vez, ela queria muito e novamente sussurrou, mas com força:

—  F O G O

*

Ouviu-se um uivo em toda a Alcateia, teriam a reunião da Lua cheia naquela noite e além da comemoração a volta da fogueira, também teria a famosa caçada pela companheira. Todos ficaram eufóricos, os machos, pelo motivo óbvio e as fêmeas pela festa em si. Os que se transformariam pela primeira vez, estavam ansiosos, pois podiam ser companheiros de alguém.

— Esta noite será muito especial, não use nenhum perfume, quero o seu cheiro puro, me estimuando. — ordenou o Alfa a sua Luna.

— Claro, meu Alfa, estarei perfeita para acasalarmos e concebermos nosso filhote.

— Confio em você, querida. — fez um carinho no rosto da fêmea, mas não gosta dela, não com aquele amor apaixonado que diziam sentir os companheiros.

A noite chegou e todos se reuniram ao redor da fogueira, assaram a carne de caça, comeram e se fartaram, compartilhando histórias heróicas da Alcateia. Estavam todos felizes e quando a lua cheia estava bem alta, os novos se transformaram e logo depois as lobas correram, ganhando uma distância dos machos.

A Luna falsa, sentiu pela primeira vez o cheiro de seu companheiro e era um rapaz novo, que se transformou pela primeira vez. Se ocultou e esperou, seguiu o cheiro do lobinho e o capturou, rapidamente, acasalando com ele, próximo a cachoeira, por trás de uma pedra, onde sempre esperava o Alfa.

Como o rapaz era novo, ela o seduziu e sua ejaculação foi muito precoce. Afastou ele rapidamente, enquanto estava sonado e fingiu estar sendo atacada e quando o Alfa chegou, não pensou duas vezes e matou o jovem. Jogou longe o corpo e acasalou com sua fêmea em sua forma de lobisomem, sem perceber o cheiro do outro, por causa da poção que ela usava.

O som ouvido pela floresta era de pura luxúria, muitos acasalamentos e provavelmente, muitos filhotes foram concebidos e a esperança da Luna, era que ela também tivesse concebido e esperava mais que um milagre.  

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