Capítulo 6. Planos

June acordou sem saber onde estava e com medo, pulou da cama para olhar pela janela e viu que era uma floresta e não a cidade e principalmente não era um porão imundo, em uma casa de podridão humana. Lembrou que tinha conseguido sair da casa como um lobo e mais nada.

Olhou o quarto onde estava e era decorado de forma simples, com o necessário, cama, guarda roupa, mesa e cadeira e uma porta, que quando abriu, viu que dava para um banheiro. Entrou, fechou a porta e cuidou de suas necessidades. Tomou um banho, pois sentia a pele estranha e quando terminou, secou-se e vestiu um robe que estava ali e só então saiu pela porta do quarto.

A primeira pessoa que viu, foi o doutor Malek e sorriu.

— Querida, você acordou, que bom. — disse o médico, levantando da cadeira onde estava sentado e indo até ela, que o abraçou.

— Que bom que estou aqui com o senhor.

— Desculpe, filha, por não ter te protegido.

— Olá, também estou aqui. — disse Merheia.

— Oi, não conheço você. — respondeu June, séria.

— Eu sou a dona dessa casa e fui eu quem te ajudou a sair de lá. Meu nome é Merheia.

— Desculpe, mas não me lembro muito bem o que aconteceu.

— Venha, filha, sente-se, vou lhe servir algo para comer.

Malek havia levado muita comida, feita por sua esposa, Rosa, e colocou na mesa, diante dela. June estava com muita fome, mas por ter passado fome por todo o tempo em que estava presa, não conseguia comer muito. Experimentou beber um pouco de suco e pegou uma salsicha. Foi comendo devagar, deixando seu estômago se acostumar.

— Precisamos conversar com você. — disse Malek.

— O que é? Querem saber onde eu estava, quem me levou ou o quê?

— Já sabemos tudo isso, June. É outra coisa, muito difícil de dizer. Vou esperar você terminar de comer. — disse Malek.

Ela enfiou o último pedaço de salsicha na boca e ainda mastigando, falou:

— Já terminei…

— Bem, é difícil falar…

— Então eu começo: por quê estou aqui e não em casa? Porque Rosa mandou a comida e não veio checar como estou? Quem exatamente é Merheia e porquê ela mora no meio da floresta? Estou presa?

— Uau! Sua mente pensa rápido. — disse Merheia.

— Bem, como não encontrei você, pedi ajuda para Merheia e fizemos um trato.

— Eu te encontrei e você ficará comigo por um ano, para ser treinada na arte da magia.

— Uhuuuuu, super apoio, serei uma loba bruxa? Você é uma bruxa? — perguntou franzindo as sobrancelhas, cismada.

— Sou uma feiticeira, mas nasci assim e você não, mas bruxaria é diferente. Com a magia da loba, você pode aprender.

— Acho que entendi. Se eu fosse Rosa, também não viria.

— Mas não é só isso. — começou Malek e contou tudo sobre sua conversão e seu encontro com a mãe dela, que devia ser sua companheira lupina.

— Mas que mxrdx! Que mxrdx! — xingou June.

Levantou, andando e socando o que via pela frente. Suas lembranças de sua mãe, eram só de dor e desgraça e agora descobria o responsável.

— O senhor, por acaso, faz ideia do que aconteceu com ela? — gritou, cuspindo de raiva.

— Eu não sabia o que estava fazendo…

— E não foi procurá-la? Deixou-a grávida, sozinha, quase uma criança, à mercê daquele monstro que prostitui as próprias filhas, ainda crianças? Os humanos sabem ser muito mais monstruosos que os lobisomens, sabia?

— Eu não a encontrei mais, depois que consegui me controlar. Procurei e mesmo amando minha Rosa, queria fazer a coisa certa.

— Pois agora, eu te digo, ela está na casa de la cruz, servindo de procriadora das mercadorias daquele monstro. O que vai fazer, "papai"? — falou, com desdém.

Malek se dobrou em si mesmo, sentado na cadeira, como um derrotado e chorou.

— JÁ CHEGA!   Agora acabou o drama, Malek não teve culpa, você sobreviveu e não temos tempo para dramas, bebam isso. — colocou dois copos de drink na mesa e olhou firme para os dois — A go ra!

Os dois beberam sem nem perceber e logo estavam mais tranquilos.

— Você quer se vingar do tal monstro e salvar sua mãe? — perguntou Merheia.

— Sim, mas quero mesmo é pegar todos aqueles pedófilos nojentos, antes, me lembro de cada um deles, com seu fedor e mãos cheias de dedos.

— Então, treine comigo e você terá poder para acabar com todos eles.

Malek não falou nada, só queria que sua filha o aceitasse, pois ele e Rosa já a aceitaram e queriam adotá-la. Seria muito bom ter uma família, finalmente.

June aceitou, mas seus planos não eram os mesmos de Merheia, que estava acostumada a ser seguida e dar ordens, por ser muito poderosa. Mas June tinha outro pensamento, sofreu muito como escrava sexual e agora que tinha poder, não se submeteria nunca mais. Era fraca, desnutrida, apenas uma menina e não conseguia se livrar de seus abusadores, até agora.

Aprenderia tudo que pudesse, o mais rapidamente possível, se esmeraria em aprender e quando aprendesse o suficiente, sumiria dali e nunca mais ninguém a veria.

*

Rude estava no centro de uma floresta, distante da Alcateia de seu pai. Sabia que sua mãe havia sido aprisionada, só não sabia onde. Seu pai era o único cego naquela situação, pois só podia estar enfeitiçado. Foi uma bruxa que sequestrou sua mãe e enfeitiçou seu pai e ele tinha quase certeza que era a Luna de seu pai, uma usurpadora.

Ele derrubou várias árvores com seus socos de lobisomem enfurecido. Os outros lobisomens saíam de perto, quando ele estava assim. Precisava extravasar, pois com o poder acumulado de vários Alfas que matou, tinha força em excesso. Ainda não tinha encontrado sua companheira e ficava descontrolado depois de uma batalha.

Recentemente recebeu uma mensagem que confirmava sua teoria de que seu pai estava enfeitiçado, mas não conhecia uma bruxa poderosa o suficiente, para desfazer o feitiço e enfrentar a feiticeira que protegia a Alcateia Flor de Lótus. Ele parou de socar as árvores para pensar:

” Flor de Lótus significa renascimento, será isso que farei, tirarei meu pai das garras daquela bruxa maldita, resgatarei minha mãe e ressuscitarei nossa família. "

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