Capitulo 8. Fogo

— F O G O O O

June sentiu as mãos aquecendo e chamas vermelhas e amarelas surgiram, não só nas mãos, mas no entorno e subiram, formando uma parede de fogo entre June e Merheia. Do lado de June, o fogo não queimava, mas Merheia precisou se afastar, embora estivesse feliz pelo fogo escolher June.

Em frente a June, o fogo formou imagens, primeiro foram lembranças:

" — Não, papa, esse moço não, ele machuca June.

— Vá, pirralha imprestável — disse De la Cruz, estapeando o rostinho infantil.

Ela foi e entrou no quarto e em meio a tudo que o homem fazia de ruim com ela, estava o fogo, vendo tudo. "

June passou a mão pelas cicatrizes nos braços, redondinhas, feitas por cigarros e charutos. O fogo desfez as imagens e uma labareda foi em direção à June, se tornou azul no caminho e cobriu as cicatrizes. Ela sentiu sua pele aquecer, até em suas partes íntimas e quando a chama voltou, não havia mais marcas.

O fogo mostrou outra imagem, e já não era de seu passado, era de sua chegada a Alcateia e ouviu dentro de sua mente, " não a transformarei, não vale a pena, mande-a embora ", era a voz do Alfa, rejeitando-a. Logo em seguida, mostrou a imagem de seus sonhos e a forma de um castelo e tudo sumiu.

Merheia sorriu e bateu palmas, indo até June e abraçando-a.

— Você conseguiu, é mais forte do que eu pensava, podemos iniciar seu treinamento. Você será muito poderosa.

— Podemos voltar agora? Estou cansada e com fome.

— Está bem, querida. Você foi maravilhosa e merece um banquete.

A feiticeira abriu o portal e passaram, direto no meio da floresta. Estava amanhecendo e muitos casais ainda dormiam, agarrados e o odor sexual era muito forte.

— Eca! O que aconteceu? — perguntou June, enojada.

Merheia abriu outro portal e saíram  dentro de sua casa.

— Por quê não viemos direto para cá, evitaríamos ver aquele bacanal.

— Coisas de magia, não posso misturar. Esse interior foi feito com magia diferente. Posso sair dele, mas não posso entrar.

— E aquela visão grotesca?

— É… esqueci, ontem teve lua cheia e deve ter tido caçada. É um lance de lobos e esqueci completamente. Passamos mais tempo do que eu esperava no platô.

— Então, teve transformação e acasalamento, ontem?

— Sim, desculpe, seria sua apresentação, podia até encontrar seu companheiro.

— Besteira…fome, quero comer.

— Sim, vem. 

Merheia fez surgir alguma alimentos, mas gostava de comida real, então foi para a cozinha e ligou a cafeteira para passar o café, fez ovos mexidos com bacon e serviu a mesa. Sentaram e se fartaram e só então, Merheia começou a falar das próximas aulas.

— Você disse que serei muito poderosa, posso saber por quê isso te interessa.

— Bem, desconfio que o rei está enfeitiçado e não falta muito, para a Alcateia virar alvo de quem está por trás disso.

— É, maldade existe em todo lugar e eu pensava que era a única que sofria, aprisionada por ela.

— São os dois lados da moeda, cara ou coroa o bem e o mal, yin e yang e por ai vai. Existem bruxos brancos e bruxos negros, mas os malvados mesmo, são os bruxos de sangue. 

 — Então foi um bruxo de sangue, e como se vence um desses?

— Por isso estou treinando você. Sendo uma lupina e podendo usar magia do fogo, será meu apoio ideal para confrontar a Luna.

— Uma coisa me intrigou quando chegamos, o cheiro. Não achou ruim, não parecia cheiro de lobo.

— Não tenho o seu nariz, querida e quer saber, vou dormir um pouco, estou exausta. Você vem?

— Vou, sim. Obrigada por tudo, foi bom.

Merheia sorriu, bocejou e subiu para seu quarto, estava com a mente cansada, mas cheia de planos. June deixou ela subir,  arrumou tudo e depois que percebeu o silêncio total, saiu, deixando sua loba tomar o controle e seguiu para a floresta.

Os casais de companheiros já tinham saído e o cheiro ruim, sobressaiu. A loba seguiu farejando e chegou ao corpo do jovem morto. Cheirou todo o corpo e encontrou três odores distintos, guardou-os na mente, pois não eram conhecidos. Ouviu um som e se escondeu por trás das águas da cachoeira.

Um lobo  enorme chegou e farejou o ar, sentindo que uma fêmea tinha estado ali. As águas ocultaram a loba e o cheiro da loba. Ela voltou à forma humana, para contornar a pedra, no canto da cachoeira e se aproximar do lobo sem ser vista. Sentiu o cheiro, antes de ver e reconheceu um dos odores que estava no corpo. Olhou devagar e levou um susto.

Ramon percebeu a mudança da fêmea e apurou os instintos de caçador, percebendo exatamente por onde ela vinha e esperou, quando ela deparou-se com ele, face a face, muito próximos. Os dois se assustaram. Ele reconheceu a jovem que Malik atropelou e ela só se assustou, ao ser surpreendida.

Foi puxada pelo braço e questionada:

— O que faz aqui?

— Senti o cheiro ruim e vim procurar a causa, só isso.

— Você foi transformada?

— Quem é você? — Ela reconheceu a voz, mas não sabia quem era.

— Sou o Alfa desta Alcateia e se você está aqui, sou seu líder.

— Um líder que não quis me transformar, sinto muito, mas não. Nasci de um pai lobo e uma mãe humana. Não devo nada a você.

O Alfa franziu a testa, mas ficou calado, tinha que enterrar o corpo, não queria que mais ninguém visse e duvidasse de sua Luna.

— Então, vá embora e esqueça o que viu.

— Também não quero saber de você e do que fez. Adeus.

Ela ia voltar andando pela floresta, mas foi paralisada e não conseguiu prosseguir. Perdeu a consciência sem perceber e foi carregada para um lugar que não sabia onde era e nem quem a levou. Foi trancada na cela mais inferior da masmorra, onde não tinha piso ou luz. Era totalmente fechada e pior do que todos os lugares que já esteve.

— Ainda bem que fui atrás de você, ela podia comentar a morte do jovem e não podemos permitir. Não podemos deixar nenhuma suspeita pairar na mente do povo. — disse uma fêmea.

— Está bem, mas quanto tempo ela ficará aqui.

— Esqueça ela, querido, ela não existe mais.

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