Talvez eu estivesse em choque ou ficando maluca, mas entendi o que Tyler disse sobre as atitudes do xerife. Ainda que fosse meu avô que guardasse pedaços humanos e Tyler tivesse no meio disso. Era o xerife Brown que me dava medo.
Não consegui ficar muito tempo na rotisseria, depois que tive certeza que Tyler havia ido embora, peguei Angus e voltei para a pensão antes de anoitecer.
Tomei um banho longo, tirando de mim toda aquela energia mórbida, que escapava também em forma de lágrimas. Eu estava confusa e chateada por conta de tudo aquilo.
Quando desliguei o chuveiro, meu celular estava tocando insistentemente. Era Tyler, ignorei, mas abri as mensagens.
“Por favor fala comigo, me deixe explicar”
“Estou preocupado com você, não devia ficar sozinha.”
“Me atende.”
Me obriguei a descer para jantar, a comida da pensão era ótima e ficar na presença das crianças que moravam ali poderia me fazer bem, só não esperava atrair atenção da anciã.
- Parece distante\, srta. Collins – Matre disse em tom casual.
- Só estou cansada.
- Não é um bom momento para se mostrar fraca\, nós mulheres\, seja como nós ou como você\, temos um poder gigantesco nas mãos na troca de lua.
- Troca de lua?
- Sim\, amanhã é lua cheia. O que significa que nosso poder está á flor da pele.
- Não me sinto assim.
- Apenas busque a energia\, pode se surpreender com o que é capaz.
Eu não me sentia capaz de nada, enquanto todos comiam e eu beliscava, abri o google e comecei a pesquisar por imobiliárias na região, estava decidida a ir embora, nunca devia ter ido para aquela cidadezinha para começar.
Tyler voltou a me ligar, desliguei e ele ligou de novo. Matre colocou a mão sobre a mim e disse baixinho, porém firme.
- Lembre-se querida. Poder.
Não saberia dizer se ela tinha razão, mas Tyler precisava de uma resposta. Me afastei da mesa e me sentei no sofá no saguão, uma sala pequena e aconchegante, pela janela pude ver uma fina chuva cair.
Aos poucos os outros moradores da pensão foram dormir, me deixando sozinha naquele lugar.
Liguei para o contato Ty, tocou apenas uma vez antes que ele atendesse falando baixinho.
- Um minuto\, não desliga.
Ouvi alguns ruídos que eu não saberia identificar, logo depois, som de chuva e ele voltou falando em uma altura aceitável.
- Que bom que você ligou.
- Você disse que podia explicar.
- Não assim\, me deixe ir até você.
- Não\, Tyler. Não quero te ver agora\, preciso de espaço.
- Tá bem. Mas sei que você não vai acreditar no que eu tenho para falar.
- Por que você não tenta?
Ele respirou fundo e disse calmamente.
- Minha família é muito antiga\, meus ancestrais faziam parte de uma tribo nômade que cultuava um Deus pagão. Esse Deus nos presenteou com força e sentidos aguçados. Por isso sinto cheiros que você não sente e consegui quebrar as tábuas da janela com as mãos.
- Eu queria uma explicação\, não uma fantasia.
- Não é fantasia.
- Não dá pra acreditar que você me acha assim tão burra. Que pode vir com essa conversa e eu vou acreditar – eu sabia que estava me alterando\, mas não conseguia evitar.
- Tá bem\, olha\, eu posso provar. Amanhã é lua cheia\, vá para o sótão da pensão á meia noite e olhe para a floresta\, eu vou estar lá.
- E o que?
- Você vai ver com seus próprios olhos\, depois pode me chamar como quiser\, Licantropo\, canide\, lobisomem.
- Não me liga mais.
Desliguei o telefone e bloqueei o número dele. Porque Tyler estava agindo como se eu fosse uma idiota. Era esse poder que Matre disse que estaria aflorado?
Patético.
Tudo o que eu queria era me deitar na cama e me afundar nela, depois de virar de um lado para o outro sem conseguir dormir, aquela caixa no quarto antigo de minha mãe voltou a me assombrar.
- Pelo menos eu não me apaixonei por ele\, não é\, Angus?
O cão levantou a cabeça ao ouvir o nome.
Eu precisava saber quem era Gwen e R. antes de sair daquela cidade de uma vez por todas.
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Atualizado até capítulo 80
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