Se eu ficasse ali parada pensando sobre as tábuas na janela, perderia o dia todo e ainda não acharia uma resposta, então decidi ocupar a minha mente desfazendo as malas.
O corredor não era tão assustador de dia, passei por ele arrastando a mala maior de rodinhas, antes da primeira porta, haviam vários porta-retratos pendurados nas paredes.
Algumas eram fotos comuns, da rotisseria, fotos familiares, uma pescaria com amigos. A que mais me chamou atenção era mais antiga e ficava mais para baixo. Mostrava uma família, a mulher sentada com uma criança no colo, um menino mais velho em pé e atrás dele, o pai. Seria um retrato normal se o rosto da criança mais nova não estivesse sido riscado com força, quem fez aquilo devia estar com muita raiva.
Pela casa em que estava e pela família, eu sabia que aquela era a minha mãe, de repente não me senti bem-vinda ali. Mas como não tinha escolha, entrei no quarto e ascendi a luz, estava abafado e escuro.
- Vou precisar de um pé de cabra se quiser deixar um pouco de luz entrar.
O quarto era simples, uma cama, uma escrivaninha e a porta do armário, mas parecia bem preservado, comecei tirando o monte de casacos e camisas de flanela do armário, tudo para dentro de uma caixa de papelão, ao contrário da cozinha, o cheiro não era tão ruim.
Mas antes de colocar minhas coisas ali, resolvi ver o segundo quarto, na esperança de ser um pouco melhor.
Não era, o papel de parede infantil estava gasto e desmanchando, havia uma cama de solteiro de ferro e uma penteadeira antiga, claramente o quarto de uma adolescente há uns quarenta anos atrás.
Abri o armário para ver se ainda tinha algo dentro, nada além de um punhado de vestidos. Estava prestes a fechar e me contentar com o outro quarto quando uma caixa no fundo do armário chamou minha atenção, ela estava atrás dos vestidos, parecia escondida.
Me abaixei e a puxei, devia ter o tamanho de um micro-ondas e tão pesada quanto, quando consegui coloca-la onde tinha luz, abri com cuidado.
Não que eu tivesse medo, afinal a casa era minha agora, então tudo o que havia dentro dela também. Ainda assim, aqueles segredos eram de outra pessoa.
Hesitei por alguns minutos antes de olhar dentro da caixa, logo em cima, havia uma polaroid que mostrava duas mulheres sorrindo, reconheci uma delas como sendo minha mãe.
A saudade apertou meu peito, deixei a foto de lado e embaixo dela havia vários papéis e cartas, Peguei uma delas, a grafia era masculina e pelas poucas palavras foi realmente um homem que a escreveu.
“Para minha doce e amada, Gwen.
Ontem a noite foi o primeiro de muitos encontros, espere por notícias minha.
R.”
- Quem é R? E quem é Gwen?
Havia mais alguns bilhetes apaixonados do mesmo homem, passei algum tempo lendo, a cada palavra, meu sorriso crescia, parecia um amor proibido, escondido.
No meio daquelas cartas também haviam flores secas, pedras bonitas apesar de nenhuma ser preciosa, pulseiras feitas á mão. Ele devia ser pobre e nem por isso deixou de presentear sua amada.
Peguei um envelope timbrado rosa, dentro um cartão de aniversário que dizia:
“Para a melhor amiga que uma Collins poderia querer.”
Essa era a última prova que precisava para ter certeza que essa caixa não era da minha mãe e sim dessa Gwen. Mas porque minha mãe guardaria as coisas de outra pessoa.
A última coisa na caixa era uma folha dobrada em dois abri e me deparei com uma certidão de óbito, por curiosidade mórbida desci até a causa da morte “NATIMORTO”.
Senti um calafrio subindo pela espinha com aquela palavra e congelei, quando o cabideiro despencou, derrubando os vestidos no chão.
- Ai Meu Deus - gritei tão alto que minha garganta doeu – chega\, eu não vou ficar nessa casa.
Joguei tudo de volta dentro da caixa e a tampei, peguei minha mala e enfiei de volta no carro, voltei apenas para pegar o Angus que não reclamou de ser carregado outra vez para o veículo.
- Calma\, Angus\, deve ter algum tipo de hotel nessa cidade.
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Atualizado até capítulo 80
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