- Precisamos de luvas – ela abriu o armário da dispensa;
- E eu disso – peguei um grampo de plástico para prender
sacos de comida e coloquei no nariz.
- Você é tão exagerado.
- Não estou exagerando\, vou ficar com as geladeiras e você
com os armários, vai ser mais tranquilo.
Ela balançou a cabeça lentamente com um sorriso lindo e
confiante.
- Depois de ter sido atacada pelo Mickey Mouse? Quero
distância de alimentos secos.
- Tenho que insistir.
Nos encaramos por longos segundos, mantive a voz grave e a
expressão séria, mas logo Martha estava gargalhando e me lembrei do grampo no
nariz.
- Você é mesmo muito engraçado\, Tyler.
Ela esticou as luvas e abriu a primeira geladeira, respirei aliviado
ao perceber que só tinha bebidas.
- Acho que vou guardar essas cervejas.
- Tem que tirar o gelo delas\, coloque ali na pia – apontei para
o lado oposto dos freezers.
Abri o primeiro, apesar de congelado, o cheiro de carne
podre era insuportável, comecei tirando tudo, desde sacos de fígado sem data
até filés já cortados.
- Então\, você disse que aqui vendia um patê de carne.
- Fígado – corrigi – era o melhor que já provei.
- Eu dispenso – ela fez uma cara engraçada de nojo.
Estava esvaziando as bebidas com calma, enquanto eu me
empenhava em fazer tudo o mais rápido possível. Queria achar logo os restos
humanos antes que ela visse.
Agora, porque o velho Collins guardava restos de pessoas
para minha alcateia?
Bem, a resposta é bem simples, nós não precisamos matar, mas
precisamos desesperadamente comer durante a transformação, vez ou outra isso
tem o mesmo significado, então, quando não era um servo ou um urso que cruzava
nosso caminho e sim um homem. Nós íamos até a rotisseria na manhã seguinte e
nos deliciávamos com o patê de fígado de boi e um bom bife, enquanto ele lidava
com os restos, desde que meu pai persuadiu Collins a guardar os restos de nossa
caça.
Além disso, tínhamos uma política de sempre matar apenas homens
mais, criminosos principalmente.
O problema maior era que o velho Collins era um porco, nunca
limpava a sujeira direito.
Martha era lenta, o que me fez relaxar um pouco, um freezer
após o outro sendo esvaziado, não percebi quando ela abriu a geladeira dupla e
começou a jogar tudo em um saco de lixo.
Ali era onde ficava guardado todo o molho e recheio das
tortas, não dá para acreditar que o velho Collins guardaria carne humana ali,
mas quando Martha gritou horrorizada, eu sabia que ela tinha achado primeiro.
Ela se encolheu perto da pia, apontando para a geladeira.
- É uma orelha\, uma orelha\, Tyler.
- Calma – me aproximei a fim de dizer que era apenas
impressão dela, mas quando olhei, não dava para negar que era mesmo uma orelha.
- Temos que chamar o xerife.
Ela tentou pegar o celular no bolso, com as mãos trêmulas.
Avancei até ela e segurei seus pulsos.
- Não\, Martha. Espera.
- Esperar? Temos que avisar a polícia.
- Acredite em mim\, é melhor não. Eu vou limpar isso e depois
nós conversamos.
- Conversar?
Ela me olhou por um tempo, por mais que eu tentasse manter a
expressão branda, sua expressão de horror apertou meu coração.
- Martha\, não é o que você tá pensando.
- Tem partes humanas no meu freezer e você sabia disso? Como
pode não ser o que eu estou pensando.
Ela estava apavorada, seus olhos cheios de lágrimas me
comoveram, mas eu não podia deixar que ela entregasse tudo.
- Esse lugar é mais do que você pensa\, Martha. É uma cidade
sombria e não há uma pessoa que não se corrompe morando aqui. Seu avô foi uma
dessas pessoas, mas se chamar o xerife, isso vai cair sobre você.
- Não\, eu só cheguei a uma semana.
- Você o conheceu.
- Se eu contar\, você também será preso?
- Não\, o xerife busco uma forma de eliminar minha família há
tempos. Ele não me prenderia, ao invés disso, me levaria para a floresta e
daria um tiro na minha nuca.
Ela deu um passo mais longe da geladeira, me dando espaço para
fazer a limpeza, era difícil saber o que tinha na mente dela.
Fui eficiente e rápido, não queria prolongar a cena, além
disso, estava ansioso para explicar tudo a ela, mas quando voltei levei o
último saco de lixo para fora ela trancou a porta.
- Martha? – perguntei pelo vidro.
- Vai embora.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Sueli Parajara Bento
não sabia que lobisomem comia carne humana
2024-01-18
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