Acordei com o celular vibrando sob minha cabeça, saí do
quarto em silêncio e ssó atendi quando cheguei a cerca que dividia o pasto.
- O que houve?
- Ele está chorando e inquieto\, dei tylenol pra ele\, mas não
adiantou.
- Ele precisa de algo mais forte. O que você tem?
- Só esse\, você pode vir por favor? Minha cabeça está
estourando, estou quase ligando pra emergência.
- Não! Eu estou chegando.
Desliguei o celular, voltei para casa apenas para escovar os
dentes, calçar o tênis e pegar um moleton, ainda era cedo, a brisa da manhã
estava gelada, machucando meu rosto enquanto eu corria o máximo que podia pela
floresta densa e escorregadia.
Eu gostava de correr a noite, era mais confortável, com a luz
do dia eu podia ser visto mais facilmente, isso me apavorava.
Esperava que Martha pudesse valorizar isso.
Saí da floresta atrás da escola de Grey’s Fall e peguei a
rua principal, o café já estava aberto, parei de correr e comecei a andar, não
queria chamar a atenção.
Quando cheguei a porta, Martha me esperava ali, apavorada,
dava para ver que andou chorando.
- Como ele está?
- Mal.
Subi as escadas correndo, me ajoelhei ao lado do cachorro e
tirei o frasco de morfina do moleton, junto a uma seringa.
- Eu não quero ver isso.
- Ele vai melhorar logo.
Injetei e quase instantaneamente o cão se acalmou, seu choro
foi ficando mais baixo até cessar.
- Viu só\, ele está bem. Não é\, Angus? – mas não ouvi Martha\,
apurei os ouvidos e percebi seus batimentos cardíacos ficando mais intensos, me
virei para encontrá-la na entrada do corredor que dava para os quartos, imóvel
– Martha?
Me aproximei, ela estava com os olhos brancos e a pele
pálida, congelada em uma expressão de horror, a sacudi algumas vezes até que
ela acabasse voltando a si.
- Aconteceu de novo?
- De novo? Isso é normal?
- Não. Eu preciso sentar.
Voltei com ela para a sala e a coloquei no sofá, já que ela
recusaria a poltrona.
- O que foi isso\, Martha?
- Eu não sei\, tenho tido uns apagões\, algumas visões\, eu não
sei.
- Desde o acidente? Siga meu dedos – coloquei o indicador
diante dos olhos dela e arrastei de um lado para o outro, ela acompanhou
perfeitamente.
- Não\, antes\, eu acho. Desde que peguei as chaves da rotisseria.
- Pode ser estresse\, tem um hospital na cidade vizinha\, o
médico aqui só atende com hora marcada.
- Não sei se é uma boa ideia dirigir.
- Eu levo você.
Ela levantou os olhos para mim, me mantive firme, não queria
parecer o caipira do interior obcecado. Mesmo com a missão de atraí-la, devia
ir com calma.
Precisava passar através do olhar que minha única intenção
era garantir que outro cão não fosse atropelado.
- Tá bem\, acho que não tenho escolha.
- Para\, você precisa ficar bem para abrir a loja.
Martha sorriu e me estendeu a mão, ela parecia esgotada. A
segurei e ajudei a levantar, ela arrastou os pés até o carro.
Liguei o motor e arranquei, eu não era de dirigir, mas me
saía muito bem quando precsava.
- Não dormiu bem?
- Não\, é meio assustador ficar na casa de uma pessoa que
morreu, ainda mais alguém que você não conhece.
- Não parece o tipo de pessoa que tem medo de fantasmas.
- Não é isso. Só achei a casa estranha\, ainda me pergunto o
que vim fazer aqui.
- O que quer dizer?
- Você vai me achar maluca – ela riu sem muito humor.
- Porque não tenta? Talvez eu seja tão maluco quanto você.
Ela suspirou e evitou meu olhar, pegamos a estrada que
passava em frente a fazenda.
- Eu estava tendo pesadelos com a minha mãe\, com meu avô\,
com as chaves da rotisseria. De alguma forma isso parecia me querer aqui, fui
obrigada a vir – Martha balançou a cabeça.
Ela estava envergonhada, mas eu não estava julgando,
acreditei nas palavras dela, era o único motivo para uma garota daquele tipo vir
para Grey’s Fall.
- Tudo bem\, você vai ver o médico e vai melhorar.
Avistei a placa que separava o limite da cidade, depois
disso chegaríamos rápido ao hospital.
- Viu só\, não vai demorar muito agora.
Mas assim que olhei para Martha, percebi que seu nariz
estava sangrando.
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Atualizado até capítulo 80
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