Todo aquele trabalho me deu calor, enquanto subia as
escadas, tirei a camisa que vestia, não foi intencional. Mas assim que vi a
expressão de Martha, soube que se sentia provocada por mim.
Não tinha intenção de me aproveitar disso, embora tenha que admitir
que gostei de saber.
- O que foi? Nunca viu um homem sem camisa.
- Já sim\, muitos – ela deu de ombros – posso ir até o café
agora? – perguntou com ironia.
Me deitei no sofá, acariciando a cabeça de Angus, ela pegou
a bolsa e saiu.
Passei a olhar aquela sala com atenção.
No passado, os Collins agiam como mediadores entre nós, os
lobos e os caçadores, funcionou por muitos anos, mas com a chegada da família
Brown, tudo se perdeu.
Eles não aceitavam viver em paz, queria que fossemos
eliminados. Nos caçaram em nossa própria cidade, nos expulsaram, compraram
propriedades, atingiram cargos altos na prefeitura, nos jogaram ás margens. E o
pior, convenceram a cidade que éramos malignos.
Os Collins se acovardaram e abaixaram a cabeça para os
caçadores.
Naquela época, nossa alfa era fraco, ele se recusava a matar
pessoas, éramos lobos, não animais, como ele dizia. Se meu pai fosse o alfa ele
jamais deixaria isso acontecer, teria exterminado a família Brown assim que descumpriram
a primeira regra.
Bem, isso é o que ele acredita, mas os Brown não são uma
família qualquer de caçadores. Eles tem um segredo, uma profecia. Uma criança
nascida na lua de sangue, fruto de uma relação santa de amor sublime e que terá
força total em um quarto de um século.
Sei que parece conto de fadas, mas a profecia diz que essa
criança é capaz de destruir os Lycan. Desde que minha família soube sessa
criança, buscamos o nascido em lua de sangue, sem sucesso. A última foi a pouco
mais de duas décadas, o que torna a criança mais perigosa naquele momento.
Quando eu nasci, nossa realidade já era a de pária. Eu me
contentava com a pecuária e em passar mais tempo na cidade vizinha de Blue’s
Ville do que ali, mas a rivalidade permanecia, principalmente com o xerife Haword
nos perseguindo por cada galinha roubada na região.
Ouvi a voz dele do lado de fora e me aproximei da janela,
ele tinha parado Martha enquanto ela voltava para casa.
Eu não conseguia ouvir o que ele dizia, mas Martha parecia
desconfortável com a conversa, o ódio subiu pela minha espinha, se
transformando em uma ira descontrolada, agarrei as tábuas da janela da sala e
as puxei de uma vez, arrebentando a madeira e atraindo a atenção dos dois para
mim.
Martha acenou e e correu de volta a rotisseria, o xerife
permaneceu na rua, me encarando com julgamento. Ele sabia que minha família
procuraria Martha, como fez com o avô dela. Ele também sabia que eu não era o
alfa e talvez nunca seria, mas eu ainda era um lycan, mostrei os dentes muito maiores
para ele e senti os pelos brotarem na lateral do meu rosto.
A porta atrás de mim se abriu e precisei me controlar,
retrair minhas unhas até estarem aceitáveis.
- O que ele queria?
- O xerife? Nada\, só me pergunta como estava me instalando.
- Parece que não gostou.
- Eu acho ele estranho – ela colocou as sacolas sobre a mesa
– não tinha nada fresco pelo horário, mas peguei o que sobrou então tem ovos
mexidos e cookies, croissant, essas coisas.
- Nada de carne?
- Gosta de carne?
- Você não?
- Sim\, mas se não tiver\, tudo bem\, ainda mais no café da
manhã.
- Não é mais tão cedo assim – peguei um bolinho de amoras e
dei uma grande mordida – vai descobrir que o pessoal aqui gosta muito de carne.
Seu patê de fígado é bem famoso.
- Não sei fazer isso.
- Você aprende. Mas o segredo é um bom corte\, seu avô
comprava de nós.
- Da pecuária Montgomery?
- Sim\, somos bons no que fazemos\, posso voltar a entregar
aqui quando quiser.
- Não sei\, acho que vou pensar melhor depois de comer.
Martha era educada, usava prato para cortar o pão e vários
talheres, mastigava em silêncio e era extremamente bonita, seu nervo no pescoço
saltava e contraia com a mastigação, levando minha visão até o colo descoberto.
Ela puxou o decote ao perceber meus olhares, mas sem nenhuma
intenção de se cobrir, apenas para dizer que sabia que eu estava olhando.
- O que vai fazer a tarde? – puxei assunto apenas para
evitar o silêncio.
- Não sei\, acho que desfazer as malas\, dar uma cara mais
minha pra essa casa.
- Acho que está evitando mexer lá embaixo.
- Eu cheguei ontem\, me dê uns dias\, ok?
- Okay. Então vai tirar essa decoração de apocalipse Zumbi?
Ela riu, levando a mão a boca e assentiu.
- Tenho uns quadros da minha mãe que vão dar uma cara nova á
sala, odeio esse ar deprimente.
- Meu pai conhecia a sua mãe – deixei escapar sem pensar.
- Mesmo? Me conta\, eram amigos?
- Ahn... não exatamente.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Sueli Parajara Bento
deve ser ela essa criança poderosa
2024-01-17
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