Capítulo 9 – Martha

O olhar de Tyler me fez perceber que havia algo errado no

meu rosto, passei a mão espalhando o sangue para a bochecha, pra depois

perceber o que estava acontecendo.

- Não faz isso\, vai piorar.

- Volta.

- O que?

- Volta.

Não dava para explicar, nem mesmo entender o porquê, mas eu

sentia uma força me chamando de volta para Grey’s Fall.

- Não\, você tá louca? – ele riu alto – você precisa de um

médico.

- Tyler.

Ele ficou sério e me olhou com seus profundos olhos

castanhos.

- Depois\, eu te levo de volta\, eu prometo.

Mais uma coisa que eu não saberia dizer por que, confiei plenamente

nele, como a ´´ultima coisa que eu podia me agarrar.

- Eu devo mesmo estar ficando louca – resmunguei para mim

mesma enquanto abri o porta luvas atrás de um lenço de papel.

Tyler estava acelerando mais, mesmo assim levamos mais vinte

minutos até o hospital. Eu não esperava que a cidade vizinha fosse assim tão

longe. Ele parou e me deixou descer.

- Vou estacionar e te encontro lá dentro.

- Está bem.

Segui para a recepção onde duas atendentes batiam papo, parei

no balcão e logo uma se virou para mim.

- Bom dia\, preciso ver um médico.

- Tem plano?

- Não\, vai ser particular.

Ela apoiou uma ficha no balcão e me deu uma caneta.

Responder aquele monte de questões estava me deixando mais tensa a cada linha.

- Aqui.

- O médico vai atender você em breve\, pode se sentar.

Eu não queria sentar, nem ficar quieta e nem estar ali. A

recepção estava vazia, então imaginei que seria rápido.

Tyler entrou de cabeça baixa, mas sem perder nada do que

estava em volta.

Ele era o típico rapaz do interior. Cabelo castanho moldando

a barba por fazer, ombros largos em um moletom cinza claro, magro, mas com

músculos bem definidos e visíveis. Em outro momento, me faria perder o ar.

- Quer um refrigerante? – perguntou apontando para o corredor.

- Não\, mas pode ir\, eu estou bem.

Ele assentiu, seguindo na direção apontada, percebi uma

máquina de refrigerantes no final. Tyler tinha se afastado apenas alguns passos

quando o médico apareceu e chamou pelo meu nome.

- Bom dia\, Srta. Collins. Eu sou o doutor Davis\, pode se

sentar.

Subi na maca, meus pés ficaram pendurados como de uma

criancinha.

- Então\, bateu a cabeça?

- É\, eu sofri um acidente.

- Pode ser uma concussão. Mas vamos examinar você.

Ele se aproximou com uma lanterninha e verificou meus olhos.

- Está doendo?

- Não\, mas tenho tido apagões e pesadelos. Ah\, e meu nariz

sangrou.

- Seus reflexos estão bons. É incomum ter uma lesão assim e

não sentir dor, mas vou pedir que faça alguns exames.

Percebi um movimento na porta e vi que Tyler estava ali,

encostado no batente, isso me deixou tímida, mas agradecida em não estar

sozinha.

- Qual sua idade\, Srta. Collins?

- Vinte e dois.

- Você tem plano?

- Não\, senhor.

- São exames caros\, mas que precisa fazer em breve – o médico

fez anotações em um receituário e me entregou – se tiver mais algum sintoma,

volte para me ver. Ou quando estiver com a ressonância em mãos.

- Obrigada\, doutor – saltei da maca.

- E talvez deva procurar ajuda psicológica.

- Tá bem\, obrigada.

Tyler pegou o receituário da minha mão enquanto caminhávamos

pelo corredor.

- Por favor\, diga que você tem um aparelho de ressonância no

seu não consultório de não veterinária.

Ele riu e balançou a cabeça.

- Desculpa\, isso vou ficar te devendo. Como se sente?

- Sinceramente\, igual a quando cheguei.

Ele colocou a mão em meu ombro, apertando levemente.

- Vou te levar para casa e ver Angus\, mas posso ficar um

tempo.

- Não quero te atrapalhar – parei na porta do carro e

esperei que Tyler destravasse por dentro, entrei e fechei o cinto, minhas mãos

trêmulas pela ansiedade de voltar para Grey’s Fall.

- Tudo bem\, tirei o dia de folga hoje e como deve imaginar\,

não tem muito para fazer por aqui.

Ele sorriu, acolhedor e sincero.

Os últimos dias antes de deixar meu trabalho no Starbucks e ir

para aquela cidade, me deixaram tão fragilizada, que mesmo sendo uma mulher

independente e inteligente, fiquei imensamente feliz em ter ele por perto.

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