O cachorro foi forte durante a cirurgia, apesar de algumas
quedas nos batimentos e da pressão arterial devido a hemorragia, quando
terminei, quatro horas depois, ele ainda respirava.
Senti um cheiro doce e floral, depois ouvi uma batida na porta
enquanto tirava as luvas sujas, a essa altura, esperava que Martha tivesse ido
embora, mas como ninguém batia na porta naquela casa, só podia ser ela.
- Entre.
- Oi\, já acabou?
- Sim\, ele vai dormir por um tempo e vai precisar de
cuidados, mas vai sobreviver.
Ela entrou e fechou a porta, seus olhos percorreram todo o cômodo
ensanguentado, os olhos arregalando cada vez mais.
- Ele estava com uma coleira ou identificação?
- Não\, acho que não tem dono. Pode ficar com ele?
Eu não podia, sabia que Ryan não diria nada aos outros, mas
se meu pai chegasse e encontrasse aquele cachorro ou a garota, as coisas podiam
sair do controle.
- Você o atropelou\, agora é responsável pela recuperação dele.
- Mas eu não tenho como cuidar de um cão agora\, ainda mais
desse tamanho.
- Estava de passagem?
- Não exatamente\, vou dirigir a rotisseria.
- Hum – minha boca encheu d’água com a lembrança da torta de
maça – vamos nos ver muito, então.
- Ainda não é certeza que vou abrir\, quanto ao cão\, posso pagar
pela maior parte das despesas, mas ficar com ele é impossível.
- A rotisseria é perfeita\, é calmo\, arejado e você parece
uma boa pessoa. Fique com ele até se recuperar e depois eu arranjo um bom lar,
aqui ou na cidade vizinha.
Martha pensou por alguns segundos, mordiscando a parte
interna da bochecha o que criava uma covinha linda.
Na verdade, ela toda era bonita, de um jeito diferente das
garotas dali, sua voz e jeito de falar deixavam claros que ela era de cidade
grande.
- Está bem. Por alguns dias.
O cão abriu os olhos apenas por um segundo, mas o suficiente
para que nós dois concentrássemos nossas atenções nele.
- Obrigada – ela disse com lágrimas nos olhos – ele quase
morreu por minha causa.
Tive pena dela, não tinha se tocado que quase tirou uma vida
até aquele momento. Mas ao perceber que a noite caía rapidamente, eu sabia que
precisava tirá-la de lá.
- Quer que eu a acompanhe?
- Eu ficaria muito feliz\, não sei como pegá-lo.
Fiz o favor de apanhar o cão e deixá-lo no banco de trás
enquanto Martha entrava e ligava o motor. Assim que sentei no banco do
passageiro, percebi o espanto em seu rosto.
- Achei que tinha concordado que eu a acompanhasse.
- Sim, mas achei que
ia com seu carro.
- Eu não tenho carro\, prefere que eu fique?
- Não\, claro que não. É que achei que me guiaria como o
xerife fez – ela ligou o motor e deu a volta até a entrada da fazenda, sem
notar que a raiva revirava meu estômago só pela menção de Haword Brown.
- Conheceu o xerife?
- Sim\, precisei ligar quando bati o carro\, mas sinceramente
ele não me ajudou em nada – ela riu, me fazendo relaxar um pouco.
- É\, normalmente ele é assim.
- Você sempre morou em Grey’s Fall?
Era uma conversa casual, pela estrada de terra, não havia
muito para se distrair.
- Sim\, nasci aqui.
- E tem muitos lugares para se distrair?
- Festas e essas coisas? Não. Mas tem um motoclube na cidade
vizinha, ás vezes vamos até lá.
- Você e seus amigos.
- Eu e minha família – ela assentiu\, mostrando que não tinha
mais perguntas, era a minha vez de mostrar interesse – você era parente do
velho Collins?
- Sim\, ele era meu avô\, mas nunca o conheci.
- Seus pais não falavam muito dele?
- Minha mãe. Nunca conheci meu pai. E não\, ela não tinha uma
boa relação com ele, acho que nem se falavam.
- E o que ela acha de você estar aqui?
- Ela morreu há dois anos.
Martha ficou séria e focada na estrada, dois anos era pouco
tempo para superar a perda de uma mãe, sei disso porque a minha se foi á cinco
vezes isso e ainda sentia a falta dela como no primeiro dia.
- Sinto muito.
- Obrigada. E obrigada por me ajudar.
Ela parou o carro em frente a rotisseria, com a chegada da
noite, os outros lugares estavam fechadas e a rua vazia, de repente pareceu
tensa, principalmente quando pegou as chaves no painel do veículo.
- Você está bem?
- Pode levar o cachorro lá pra cima?
Saí do carro para pegá-lo, ela foi para a porta com as
chaves na mão, Martha tentou abrir, mas tremia tanto que não conseguia encaixar
a chave na fechadura.
- Desculpe\, sei que ele está pesado.
- Eu aguento bem mais que isso. Não se preocupe\, fique
calma.
Martha finalmente acertou a chave e rodou, o clique me fez
arrepiar, ela acendeu a luz e entrou.
O lugar tinha um cheiro horrível de comida estragada e mofo,
mas para Martha esse cheiro estava bem mais suave.
- Acho que ficou muito tempo fechado\, o apartamento deve ser
por aqui – ela já subia as escadas, a segui de perto.
Quando criança, sempre tive curiosidade de saber o que tinha
lá em cima, em minha imaginação infantil, pensava em montes de açúcar e
recheios espalhados por todos os lados, mas por mais que eu tentasse artimanhas
para subir, nunca consegui.
Quando Martha abriu a porta do apartamento, foi
decepcionante.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Ama paula Jesus
não tô entendendo bem?
2024-07-16
0
Sueli Parajara Bento
ela deve ser uma loba
2024-01-17
1