Por sorte só precisei rodar alguns minutos antes de encontrar uma pensão que aceitasse cachorro, sorte porque era a única na cidade.
Um casarão coloquial que no passado deve ter sido o que havia de mais luxuoso no mundo, ainda tinha um certo encanto, diferente do apartamento em cima da rotisseria, a pensão toda gritava “vintage”.
- Quantas noites? – a jovem no balcão perguntou ao fazer check-in.
- Vocês têm plano mensal? Eu vou dirigir a rotisseria\, mas não sei quando vou me mudar para lá – talvez depois de uma reforma completa que não será feita por mim\, é claro.
- Não.
- Hum. Nesse caso\, acho que vou começar com cinco diárias.
- Isso dá cem dólares.
- Nossa\, okay – peguei a carteira e entreguei meu cartão á ela\, que me deu uma chave de número dezessete.
- Primeiro andar.
Agradeci e ao me virar, fui surpreendida por um sorriso simpático de uma mulher bem mais velha, mas de aparência forte, com os cabelos grisalhos contornando o rosto.
- Boa tarde\, você deve ser a nova Collins.
- Bem\, sou uma Collins desde que nasci – brinquei sutilmente – mas cheguei á pouco na cidade.
- Seja bem-vinda. Vejo que vai ficar conosco.
- Sim\, por um tempo.
- Imagino que a casa de um homem idoso não seja mesmo atrativa para uma jovem\, vai ficar mais confortável aqui.
- Assim espero.
- Eu sou Genevra Montgomery\, mas todos me conhecem como Matre.
- Montgomery? Como a pecuária.
- Sim\, é o negócio do meu filho\, Fred.
- Acho que conheci o filho dele\, Tyler.
- Sim\, um bom menino. O cachorro é seu? – ela apontou para o sofá do hall onde eu havia deixado Angus.
- É sim\, mas está se recuperando de uma cirurgia\, ele é bem silencioso\, prometo que não vai incomodar.
Mas o que é que eu estava falando? O cachorro era temporário.
- Melhor ter um cachorro que um homem\, acredite em mim – ela sorriu\, eu concordei.
A mulher colocou a mão em meu ombro a fim de dizer que a conversa havia acabado, mas assim que ela tocou, minha cabeça rodou e tive aquelas estranhas visões outra vez, mas agora tinha mais sangue, garras afiadas e pude jurar que ouvi uivos.
\= Você está bem?
- Estou só cansada.
Ao subir para o quarto carregando Angus com dificuldade, pude relaxar na cama grande no centro do cômodo. Ali eu poderia me sentir uma rainha da era vitoriana.
Mas com a vantagem de ter um celular.
Virei na cama e digitei uma mensagem para Ty. Uma conversa curta, não queria incomodar. Mas quando a noite chegou, eu não consegui aguentar. Tirei uma foto do quarto, tomando cuidado para mostrar as minhas pernas nuas, com a legenda: “Pode me chamar de medrosa”, e enviei por MMS.
Na mesma hora ele respondeu com um SMS.
“Está na pensão?”
“Sim, o apartamento é sinistro, eu estava com medo, aqui não vou ter que me preocupar com faxina e comida, vou ter tempo para cuidar da loja que você quer tanto ver aberta.”
“Falou com alguém?”
“Só com a recepcionista, mas conheci sua avó, ela é ótima.”
Levou dez minutos até que ele respondesse depois disso.
“Certo, não acredite em nada do que ela diz sobre mim, lol”.
“Pode deixar que você já me deu tudo o que eu podia querer saber a seu respeito.”
“Isso parece bom, também já tenho uma opinião a seu respeito”
“Espero que boa.”
“Não dava para ser diferente, você é única Martha.”
Pode ser que eu estivesse no modo romântica boba depois de ler aqueles bilhetes apaixonados, mas eu tinha que admitir que Tyler era um homem que eu nunca pensei em conhecer e estava me atraindo em um momento muito delicado da minha vida, onde eu estava sozinha e fragilizada.
“Acho que ninguém te dá mais trabalho que eu.”
“Cuidar do Angus e te levar no hospital não é trabalho algum, falando nisso, marcou a ressonância?”
“Vou pesquisar preço em outros lugares.”
“Tá bem, só não esquece de se cuidar e me manda notícias.”
Mas então me lembrei das tábuas estraçalhadas na sala de jantar e fiquei tensa outra vez. Eu precisava saber mais sobre Tyler antes de me envolver assim.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Vivi
adoro 💞 estória cheia de mistérios
2024-01-16
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