capítulo 10 – Martha

Tyler examinou Angus e o ajudou a se levantar para usar o

banheiro na varanda, deois deixou tudo limpo para o cão, lhe deu água e uma boa

parte do patê de fígado que ainda estava bom, o restante da geladeira e dos

freezers já tinha passado da validade.

Eu estava tranquila e com o coração calmo desde que o carro

passou pela placa de bem-vindo de Grey’s Fall, mas estava confusa.

- Ele está melhorando. Logo vai poder se livrar.

Eu estava pensativa.

- Ou ficar com ele de vez.

- Não teme espaço aqui pra um cachorro.

- Martha\, é um cão\, não um elefante – Tyler se sentou do meu

lado e me encarou por alguns segundos.

- Está com fome?

- Estou\, mas para cozinhar qualquer coisa temos que tirar

tudo o que está estragado – era a décima vez que Tyler fazia cara de nojo ali

dentro.

- Está falando do apartamento ou da loja?

- Os dois\, mas acho que podemos começar por aqui.

- Ou vamos ao café\, no final da rua.

Ele pareceu desconfortável, ficou sério e travou a mandíbula.

- Acho que não vai querer que a cidade toda saiba que está andando

comigo.

- Por quê?

- Nem todo mundo por aqui gosta as gente.

- Da pecuária?

- Da minha família.

Eu estava intrigada, mas não queria enchê-lo de perguntas.

- Bem\, eu posso ir ao café e pegar algo para a viagem – me levantei\,

sentindo o ânimo voltar para o meu corpo e com um sorriso, dei uma taref a ele –

enquanto você limpa.

- Acha que me importo em fazer serviços domésticos? – ele também

se levantou, andou até a cozinha lentamente e tirou o moleton, sem o tecido

cobrindo, dava para ver o volume sob sua calça, mais do que qualquer cara que

eu tenha conhecido – eu faria qualquer coisa para parar de sentir esse cheiro.

- Que exagero\, não está tão ruim assim. Eu só sinto quando

abre a geladeira.

Ele abriu a geladeira e sua reação foi intensa, ele se arrepiou

todo e teve ânsia.

- Cristo.

- Bem\, já que você ficou com essa tarefa\, eu vou buscar a

comida.

- Não – ele mudou de ideia\, mas para pior – você vai ficar e

limpamos juntos – Tyler pegou uma vassoura no canto e jogou para mim, tive que

pegar no ar – Anda. Limpeza, depois comida.

- Sério?

Ele sorriu e abriu um saco de lixo, jogando tudo que estava

na geladeira, com pote e tudo.

- Vai me deixar sem vasilhas\, assim.

- Quer lavar isso? – ele levantou um vidro com uma massa

verde.

- Não\, pode jogar.

O restante da cozinha não estava ruim, mas ao abrir os

armários, algo se mexeu e vi um rabo comprido e fino. Gritei tão alto que meus

próprios ouvidos doeram e subi em uma cadeira.

- Um rato!

- Onde? – Tyler perguntou calmamente.

- No armário. Tem que jogar tudo isso fora.

- Calma\, vou tirar ele daí.

- E se tiver mais?

- Ah\, com certeza tem mais.

- Eu não acredito que dormi na casa com um rato bem aqui.

Eu estava apavorada, tremendo.

Existem muitos ratos em Nova Yorque, mas nunca deixei de

sentir medo, eu detestava esses bichos.

- Quando Angus melhorar\, ele vai caçar todos para você e

provavelmente comê-los. Mas enquanto isso, eu faço esse favor.

Tyler foi rápido, abriu o armário e enfiou a mão de uma vez,

pegando pelo rabo, o animal que se rebatia.

- Eu estava enganado\, era só ele\, deve estar aqui a bastante

tempo, quer adotá-lo?

- O que? Não. Tira isso daqui.

- Você quer que eu o mate ou só jogue fora?

- Joga fora\, por favor.

Tyler passou por mim, abriu a janela da cozinha e puxou com

força uma das madeiras pregadas até que ela cedesse.

- O que está fazendo?

Mas ao invés de responder, ele arremessou o rato pela

janela, o animal caiu no asfalto e saiu correndo.

- Posso te ajudar a descer? – ele me estendeu a mão\, eu

queria tanto segurar e me apoiar nele, o abraçar e chamar de “meu herói”.

- Você estava com um rato na mão.

- Tá bem – ele se virou para a tarefa – desça sozinha.

Tyler era espirituoso, mas bruto. Jogando tudo em sacos com eficiência,

encontrei luvas de borracha e comecei a fazer o mesmo, ele pegou os sacos de

lixo pesados e os desceu, assim eu podia ver o chão da cozinha novamente.

Lavei a geladeira antes que ele voltasse, não queria que

sofresse mais, varri o chão e fui para a lavanderia, me surpreendi com a

quantidade de vasos de terra com plantas já secas, eram apenas mudas, deviam

ter sido plantadas a pouco tempo e não cuidaram bem, também havia uma sacola

com uma imensa quantidade de sementes.

Tyler voltou e eu tratei de fechar logo a porta, afinal não

queria que ele me fizesse limpar mais nada, estava faminta.

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