A cada quilometro que eu avançava na estrada, me perguntava
como cheguei a isso. Dirigindo acima do limite de velocidade em uma terça feira
de manhã, depois de ter deixado o trabalho e meu apartamento alugado para dirigir
uma rotisseria quando eu mesma nem sabia direito o que era.
Grey’s Fall ficava no limite norte do Texas, bem, ela ainda
fica. É quente e tem recorde em ataques de coiote e outros animais, além de um
monte de caipiras que se conhecem.
Minha mãe nunca disse muito sobre o lugar, apenas que se
sentiu aliviada em se mudar para uma cidade grande assim que eu nasci.
Ela era uma boa mãe, tirei os olhos da estrada apenas para me
tranquilizar com a foto de nós duas pendurado no retrovisor, mas foi o
suficiente para um animal, vindo de algum lugar da floresta. Tentei frear, o
carro rodou, batendo a lateral no cão que entrara no caminho e não consegui
controlar, saí da estrada batendo contra uma árvore.
Minha cabeça foi direto para o volante, uma dor aguda
irradiou do lugar, tão forte que vi flashes de outros lugares, como fotos
passando na minha mente feito um filme, algumas eu reconheci, as chaves da
rotisseria, a estrada, meu rosto no espelho. Mas outras eram estranhas e
assustadoras, olhos de lobo, pelo de animal correndo entre as árvores, cinza e
mesclado, a lua cheia, sangue.
Me ajeitei e tirei o cinto, o ardor da marca que ele causou
me fez arrepiar, olhei para trás. O animal no meio da estrada estava imóvel,
exceto pela barriga, subindo e descendo com a respiração pesada.
Precisava agir, peguei o celular no porta copos e saí do
carro, enquanto ligava para a emergência também me aproximava do animal.
- Oi amiguinho. Me desculpe.
- Departamento do xerife – a voz do outro lado da linha
parecia entediada.
- Alô\, eu sofri um acidente na estrad...
- Que tipo de acidente?
- Atropelei um cachorro e...
- Pode me dizer onde está\, vamos retirar o animal assim que
possível.
- Eu passei pela placa de entrada da cidade há uns seis
minutos...
- Vou enviar alguém em breve.
- Você me deixar terminar? Eu atropelei o cão e perdi o
controle, bati em uma árvore. Preciso de um guincho também.
- Quem tá falando?
- Meu nome é Martha Collins.
- Não consegue ligar o carro? - ela não parava de interromper\, era irritante
e muito antiprofissional.
- Posso ter sofrido uma concussão.
- Espera.
Ouvi uma voz masculina no fundo, não tendi o que disse, mas
alguns segundos depois a atendente voltou com a solução.
- O xerife está a caminho.
- Obrigada – mas antes que eu terminasse a palavra ela já
havia desligado.
- Fique firme cãozinho.
Me senti tão culpada por aquela vida se esvaindo, passei os
dedos no pelo escuro do animal, tão preto como a noite, os olhos castanhos
pareciam implorar por ajuda, não tinha coleira apesar do pelo marcado no
pescoço e estava nitidamente subnutrido.
Voltei ao carro e peguei um pacote de snacks de carne na
sacola do posto de gasolina.
- Consegue comer? – coloquei as tiras de carne aos pedaços
na boca dele, o cão chorou, mas engoliu alguns pedaços – vai ficar tudo bem.
Eu me senti na obrigação de ajuda-lo, durante a infância,
pedi um cachorro em cada Natal e aniversário, sempre recebendo não como
resposta, eu tive gatos, pássaros, hamsters, nunca nenhum cão. O fascínio que
eu tinha nesses animais havia esfriado até aquele momento.
Me assustei com a sirene repentina que o xerife ligou ao se
aproximar, ele parou perto e saiu, se aquele fosse um filme adulto do site com
X, eu estava disposta a atuar.
Nem percebi que continuava agachada, ele se aproximou, a
barba por fazer manchando seu rosto claro parecia áspera de um jeito delicioso.
Ele não sorriu ou mostrou empatia alguma.
- Deixa que eu pego essa coisa.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Sueli Parajara Bento
estou gostando
2024-01-17
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