CAPÍTULO 18

Após ele derrubar o alicerce de um muro e tentar culpar outro funcionário, Pai e filho começaram uma forte discussão acarretando o pedido de demissão por parte de Bernardo.

Isso acabou manchando um pouco a relação deles, mas como todo pai, ele nunca desistiu do filho, apesar de seus erros seguidos, mas se tratando de Bernardo, errar era uma qualidade do garoto.

Teve o dia o qual leu o diário de sua irmã. Para o azar da garota justamente nessa parte ela confessava que gostaria de perder a virgindade o mais breve possível e contou para seus pais.

Beatriz quase apanhou deles e por consequência, levou um sermão que durou horas. Não contente com isso, Bernardo aproveitou uma visita de Aisha na casa deles, e se intrometendo em uma conversa das garotas sobre Henry.

Insinuando na frente das garotas e de sua mãe que esse seria o garoto que Beatriz iria perder a virgindade, ressuscitando novamente todo o conflito antigo, criando uma forte mágoa em Beatriz.

Mas o que ninguém sabia, nem mesmo Aisha, era que na época Beatriz namorava escondido outro garoto, seu nome era. Michael.

Bia o havia conhecido em uma das festas que Aisha costumava dar. Eram tantos convidados que a amiga se perdia em meio aos comprimentos e escapulidas que sempre dava, fazendo Beatriz sempre ficar sozinha.

Em um desses momentos, Michael, que era muito mais velho que a jovem, se aproximou. Mostrando-se simpático e de bom papo, não demorou muito para ele ganhar a confiança de Beatriz.

A pedido dele, Beatriz nunca contou sobre eles e seus encontros escondidos. Porém, com o passar do tempo ela foi se sentindo atraída por ele e não demorou muito para que começassem a ficar.

A verdade é que nunca passaram. Para a garota, beijos e amassos estavam de bom tamanho, ela não queria pular etapas, apesar de sua curiosidade em perder a virgindade, não queria apressar, não agora, que estava curtindo o rapaz e se convencendo de que seria com ele.

Por outro lado, Michael foi mudando seu jeito. Quando notou o jogo duro da garota, começou a mostrar impaciência, querendo forçar situações que foram desgastando a relação.

Até que percebeu que não conseguiria nada com ela e assim nunca mais a procurou. Isso atingiu Beatriz como uma facada no coração. Doeu muito e demorou para curar, mas ela teve que sofrer em silêncio, pois ninguém poderia saber.

No entanto, depois de ler uma matéria sobre relacionamentos abusivos, percebeu que nada que rolava entre eles

era normal.

Na época, a única pessoa que ela confiou em dizer foi uma novata latina recém vinda de Cuba, Gabriela Herrera. Foi uma amizade muito rápida e bem intensa.

Gabriela não conhecia ninguém e Beatriz viu a garota da mesma forma que se enxergava quando mudou de cidade e entrou para o colégio Vallery, sozinha.

Com o passar do tempo, Gabriela foi conhecendo outras garotas, fazendo novas amizades e acabou se distanciando de Beatriz.

A garota acabou ganhando fama de fofoqueira e todos sabiam que se quisesse que alguma coisa se espalhasse rapidamente, era só contar para Gabriela.

Bia mantinha seus olhos em seu prato de cereais, apesar de por dentro sua curiosidade berrar, ela sabia que o certo seria ignorar aquela mensagem do Michael.

Era um fantasma do passado que queria manter distância. Enquanto engolia de forma esfomeada o cereal, muitas questões pairavam em sua cabeça. A mais importante era como aquele ser iníquo tinha conseguido seu número de telefone.

Sua vontade era de responder xingando, soltando toda sua raiva acumulada ao longo desses dois anos. Todavia, ignorar também era uma opção tentadora. Ele não merecia sua atenção mesmo que fosse usada para ofender. Então, enquanto bebia o leite que tinha sobrado na tigela, Bernardo entrou na cozinha.

— Feliz?

— Pelo o que, Bernardo?

— Pela mãe ter brigado comigo até agora.

— Ah! Nem notei.

— Hoje você está muito engraçadinha.

— Obrigada. Eu tento. — Ela ficava a todo momento lendo a mensagem de Michael.

— O que tanto mexe nesse celular?

— Se isso te incomoda, sinto muito, mas nem ligo.

— Por que você é tão bruta comigo?

— Ainda pergunta?

— Sou seu irmão mais velho. Me preocupo com você.

— Bernardo, acho seu senso de preocupação um tanto quanto duvidoso.

— Tudo isso é por causa daquilo, ainda?

— Não sei do que você está falando.

— Claro que sabe.

— Não sei!

— Sabe sim!

— Sei nada!

— Deixe de ser orgulhosa, sabe exatamente do que é.

— Quer saber?! Sim, você tem razão. Eu me lembro exatamente daquela fatídica tarde de sábado. Passava na TV o filme Forest Gump e eu vestia uma blusinha azul meia estação e um short jeans, quando você idiotamente fez aquilo.

— Foi apenas uma brincadeira.

— Você acha aquilo uma brincadeira, Bernardo? Além de idiota é um insensível.Voce expôs minha vida pessoal para nossos pais. Acha isso apenas uma brincadeira?

— Falando assim até pareço um vilão.

— Olha… Por isso levou um chute da bonitinha, Você é um irresponsável e sempre será.

— Agora você pegou pesado.

Bernardo se mantinha calado. As duras palavras de Beatriz haviam lhe acertado como um soco na boca do estômago. Ele realmente se sentiu envergonhado.

Nunca havia pensado nos sentimentos da irmã e por alguns segundos passou um filme em sua cabeça. Todas suas escolhas erradas, tudo que não havia feito até hoje. Já era um homem, mas com atitudes infantis.

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