CAPÍTULO 14

Jonas por um segundo quase caiu na armadilha da mãe, mas conseguiu raciocinar e continuou firme na negação.

Ele conhecia a mãe que tinha, sabia que aquilo era uma isca. Independente de quem fosse a garota não mudaria a questão do castigo ou pior, ele teria de convidar a garota para que sua mãe a conhecesse.

Era fora de cogitação porque Beatriz não era sua namorada. Sem contar que ele nem saberia como convidar a garota. Deu um beijo no rosto da mãe e subiu para seu quarto.

Jonas sempre pensava em Beatriz, era normal para ele. Ainda se culpava pelos deslizes naquele dia na casa da Aisha. Havia ensaiado tantas vezes como se comportar na frente dela, como se mostrar confiante.

Conseguiu fazer por alguns minutos, mas por alguma razão se perdeu e voltou a ser um perfeito idiota. Só de lembrar de sua gagueira já lhe deixava irritadiço. Definitivamente, Beatriz tinha o poder de deixá-lo nervoso.

Por outro lado, enquanto achava se aproximar de Beatriz, acontecia o inverso com Henry. Desde aquele dia, não teve mais notícias do amigo. Henry era um ano mais velho que ele.

Já tinha terminado a escola, mas sempre via o amigo com sua moto na frente da escola, sendo desejado pelas garotas. Com seus óculos escuros e seus cabelos esvoaçantes ao vento.

Henry sempre fazia questão de comprimento o amigo, independente de quem estivesse ao seu lado. Jonas apenas devolvia com um aceno com a cabeça. Pegava sua bicicleta e ia para casa. Ao pensar nisso, Jonas lembrou do amigo que segundo a polícia estava desaparecido.

Começava a ficar preocupado, pois nem as ligações ele respondia. E isso era estranho, não era algo que Henry costumava fazer.

Apesar da amizade com Henry já não ser mais como antes, ainda mantinham certo contato. Distantes é verdade. Voltando alguns anos atrás, Jonas e Henry pareciam irmãos.

Faziam de tudo juntos e muitas vezes Henry dormiu na casa de Jonas e vice-versa. Tudo começou a mudar após a morte da mãe de Henry. O garoto alegre e sorridente deu lugar a um triste e mal humorado. a convivência com o padrasto foi piorando cada vez mais.

Henry começou a andar com pessoas estranhas e foi nesse ponto que a amizade dos dois acabou se rompendo.

Jonas se viu sozinho e sem amizades. E seguiu sua vida e seu jeito "nerd", enquanto Henry seguiu sua vida "descolada''.

Ficou surpreso quando viu seu amigo aparecer de moto na escola. Com jaqueta de couro preta. Nunca conseguiu entender ao certo como Henry conseguiu comprar a moto, porque naquele momento ele praticamente havia deixado a casa do padrasto e dormia na casa de seus novos amigos.

O novo Henry era popular e de certa maneira, fazia Jonas sentir uma pequena ponta de inveja.

Ele foi a primeira pessoa a saber da doença de Jonas. Na época deu muita força ao amigo, além de conselhos para poder suportar tudo.

Com o passar do tempo, foram perdendo contato até apenas trocarem comprimentos casuais. Henry começou a andar com babacas e acabou se tornado um também.

O que foi irônico, afinal, era tudo o que ele dizia que nunca se tornaria. Começou a colecionar garotas, eram como troféus para ele e seu grupo de amigos. Só queriam usar as garotas para conseguir sexo e depois dar um chute na bunda delas.

Eram famosos por isso, mas como eram populares, as garotas se iludiam e por fim sempre tinham esperança de que com elas seria diferente. Nunca aconteceu, era pura ilusão.

Enquanto Jonas recordava sua amizade, escutou o celular vibrar em cima da cômoda. Ele ficava na expectativa de receber alguma mensagem de Beatriz, o que nunca tinha acontecido, porém acreditava que um dia iria acontecer.

Quando pegou o celular ficou surpreso, não era Beatriz, mas sim, Henry. E a mensagem dizia:

"Jonas, precisamos nos encontrar para conversar. Preciso falar com você urgente.

Estarei esperando você no local secreto. Aguardo você em uma hora"

O garoto deu um pulo da cama. Ainda estava de castigo, mas tinha que ir. Parecia muito importante, precisava ir até onde o amigo estava.

Saindo do seu quarto, ele percebeu que sua mãe estava na sala. Seria arriscado passar sem ser visto, então voltou para seu quarto e fechou a porta. Ficou pensando o que poderia fazer para sair dali.

Olhando para a janela teve a resposta. Pegou o capacete, as cotoveleiras e jogou em direção ao jardim. Depois atravessou a janela descendo com cuidado o parapeito.

Passando agachado pela janela para que sua mãe não o visse, colocou o capacete, as joelheiras e pegou sua bicicleta. O local secreto a qual Henry se referiu era a antiga pedreira.

Quando eram crianças e não queriam ser encontrados por ninguém, iam para lá. Ficavam jogando pedras do alto da colina, falavam sobre seus problemas e depois iam embora.

Na maioria das vezes era Henry quem mais lamentava. O fato de nunca ter conhecido seu pai, as brigas com seu padrasto. Jonas sempre acabava confortando o amigo, o que resultava em sorrisos tímidos.

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