CAPÍTULO 9

Jonas sempre quis ter um momento a sós com ela, mas sentia uma pontada no coração, pois sua alegria era resultado de uma enorme tristeza da garota. A vida muitas vezes é cruel e irônica, por caminhos tortos e sofridos se encontra a felicidade.

Jonas esperou a chegada de seu pai. Escutou do seu quarto sua mãe nervosa cobrando uma postura firme da figura patriarcal. O jovem sabia que seus atos não ficariam impunes e apenas esperou seu pai vir até o quarto, o que não demorou muito.

— Jonas, posso entrar?

— Sim, pai.

— Acho que você já sabe o motivo de eu estar aqui.

— Imagino que sim.

— Não vou ficar perguntando quais foram seus motivos, já tive a sua idade e seria hipócrita falar que nunca fiz coisas sem pensar.

— Se o senhor sabe disso. Então por que vou ser punido? A mãe é muito preocupada, o senhor sabe disso.

— Mas Jonas, você tem um agravante o qual eu não tinha e a maioria dos jovens de sua idade não têm. Essa sua doença filha, tem que levar a sério. Sim, sua mãe se preocupa muito, mas não tiro a razão dela. Já parou para pensar que se você caísse daquela moto o risco que correria? Jonas, você tem Hemofilia. Sabe que seu sangue tem dificuldade de coagular. E ainda por cima você não tem carta. Ainda tenho de listar os erros para que você entenda o risco que correu?

— É… Bom… Eu sei que pisei na bola.

— Fico feliz que reconheça isso. Agora me diga, quem é a garota?

— Como assim? — Os olhos de Jonas ficaram arregalados.

— Eu disse que já tive sua idade. Então conhecendo você como conheço. Só faria uma coisa dessas por causa de uma garota. Prometo que não contarei para sua mãe. Segredo nosso. Então, quem é ela? Valeu a pena?

— É uma amiga da época do primário. E sim… Valeu a pena cada segundo.

— Fico feliz por você, filho.

Os dois não tinham costume de se abraçarem, aquele era o momento ideal para tal ato, mas foi selado por uma passada de mão no cabelo do filho, bagunçando seus cabelos.

Jonas sabia que esse gesto era o máximo de expressão de amor que seu pai teria, e isso bastava ao garoto.

— Bom! Você ficará de castigo por dois meses.

— E toda essa história sobre já ter tido minha idade?

— Você entendeu errado. Eu já tive a sua idade, hoje sou seu pai! Vou avisar sua mãe que conversamos e de seu castigo. E filho, espero realmente que essa garota valha a pena. — Ele sorriu e foi embora.

Jonas fechou a porta e a trancou. Esperou alguns minutos e depois de checar se seus pais estavam no quarto, deu início ao seu plano de ir devolver a moto para Henry.

Mas logo desistiu, seria arriscado demais ir escondido levar a moto. Depois de tudo o que seu pai tinha falado, seria idiotice fazer isso. Então ele ligou para Henry e o fez prometer vir buscar sua moto. Seu argumento de que sua mãe jogaria a moto na rua foi muito convincente.

Claro que Jonas também queria sua bicicleta de volta e o medo de ouvir de seu amigo que ela não estava com ele, congelava suas pernas.

Alguns minutos depois Henry chegou. Ao ver da janela do seu quarto seu amigo chegando com ela e segurando um capacete, sentiu-se aliviado.

Sem deixar seus pais virem a chegada do jovem, Jonas desceu sorrateiro até a porta de entrada com a chave da moto nas mãos.

— Jonas, mas que merda foi essa?

— Eu peguei sua moto emprestada, oras!

— Isso eu sei. Mas é pedir muito, me avisar? Tem ideia da gritaria que a Aisha fez? Ela achou que vocês eram ladrões. Ainda bem que te reconheci pela camiseta e depois tive a certeza quando encontrei sua bicicleta.

— Desculpe-me! Não deu tempo. Foi uma emergência.

— Emergência do que?

— Tinha que levar uma pessoa para casa.

— Então me diga. Quem era a garota na garupa? Eu não consegui enxergar, muito menos a Aisha.

— Ela era parte da emergência.

— Como assim, Jonas? Não estou entendendo.

— Era a Beatriz Pozzi.

— O que? Aquela garota chata que vive no meu pé? Mas a Aisha garantiu que ela não viria para a festa.

— Ela não veio. Quer dizer. Ela chegou pela manhã depois que a casa estava vazia e viu você no quarto com a Aisha. E só pra constar, ela não é chata.

— Que seja… mas sério? Ela nos viu?

— Sim. E acho que viu tudo. Até o que não podia ver.

— Putz!

— Mas quer saber? Vocês mereceram isso. Por que você fica alimentando a chance dela ficar com você. Já que ela é tão chata como você diz?

— Você não entende, Jonas. Mesmo se eu tentasse explicar você não entenderia.

— Tente!

— Eu sou descolado. Tenho moto e sou desejado. É normal ter garotas atrás de mim. Só não gosto de me apegar.

— E você acha isso legal?

— Como eu falei. Você não entende.

— Sendo bem sincero, Henry. Acho isso idiotices. Desde que você começou a andar com aqueles caras estranhos, você mudou. Começou a fumar e virou um idiota.

— Você tem sorte de eu gostar de você, Jonas. Caso contrário, lhe daria uma surra. — Henry solta um curto sorriso.

— Nos conhecemos desde crianças. Você é o único amigo que eu tenho.

— Eu sei. E isso é um grande problema. Só seguimos caminhos diferentes, Jonas. Ainda sou o mesmo Henry.

— Será? Você tem estado muito estranho. Parece estar preocupado com algo. Percebi isso a algum tempo. Só não tive a chance de falar.

— Está tudo bem! Relaxe. E na próxima vez, deixarei essa coisa para trás. — Ele aponta para a bicicleta.

— Você não é louco. Se eu não te matar, minha mãe certamente mataria. — Os dois riem juntos. — Uma última coisa. Falei para minha mãe que eu vim de moto, pois você pediu. Tinha bebido muito e tals e assim te ajudei.

— Ok. E aí, aceitaram numa boa?

— Não.

— Deixaram você de castigo?

— Sim.

— Certas coisas não mudam mesmo, Jonas. Preciso ir. Tenho alguns assuntos pra resolver com a Aisha. — Ele sobe na moto e coloca o capacete.

— E Henry, se cuide.

— Você também, Nerd!

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