Alianças
Toda história é
marcada por grandes acontecimentos, mas nesse momento vivo o pior
deles.
Sentada na sala da
minha casa em um sofá vazio e uma chuva fria caindo como as lágrimas
que escorrem pelo meu rosto. Minha mãe levou as crianças para sua
casa até eu ver como será minha vida daqui para frente.
Seguro nossas
alianças nas mãos e tenho meu olhar fixo sobre elas. Lembro-me do
nosso casamento ainda jovens e cheios de sonhos. Tínhamos tantos
planos que foram ficando pelo caminho, com o passar do tempo nem
fazíamos mais questões de nada daquilo que planejamos, tínhamos
outras prioridades.
Ontem pela manhã
você estava comprando carne para o churrasco do final de semana,
programou as próximas férias para irmos a praia e visitarmos sua
mãe que mora no interior, você estava feliz e me beijou ao acordar
e disse que me amava.
Era um habito tão
corriqueiro que apenas disse que eu também te amava. Poderia tê-lo
abraçado e feito amor como dois apaixonados, se eu soubesse que essa
era a nossa última manhã eu não teria saído da cama.
__ Paula, você quer
um café?
__ Não tia Célia,
estou sem vontade alguma.
__ Você não pode
ficar assim, Laerte não gostaria de te ver nesse sofrimento.
__Então por que ele
me deixou?
__ Não foi uma
escolha dele, ele não poderia imaginar uma fatalidade dessas,
ninguém pode.
Ela me olha com
piedade e eu só queria um instante no tempo, onde eu pudesse lhe
dizer tudo que estou sentindo e nos despedirmos, tinha tantas coisas
para dizer que talvez um tempo não fosse o suficiente mas o
necessário para marcarmos nossa despedida com um beijo eterno que
mesmo do outro lado da vida ele sentiria.
Era depois do almoço
e as crianças brincavam no jardim da casa simples de classe média
que pagamos às duras penas as prestações. Eu arrumava a cozinha do
almoço enquanto Laerte assistia ao jornal. Eu ouvi ele me chamando
em um tom desesperado e corri para ver o que acontecia, pensando ser
alguma coisa com as crianças. Chego na sala e ele está passando mal
com dor no peito e arritmia. Ele nunca sentiu essas coisas, o ajudo a
se deitar no sofá e ligo para a emergência, corro na cozinha para
pegar uma água com a esperança de que isso vai passar rapidamente.
Quando volto o encontro sem vida, meu coração disparou e os meus
gritos de desespero se ouvia a quarteirões. As crianças correram ao
meu encontro e eu as impedi de vê-lo daquele jeito. Busquei forças
onde não tinha e os vizinhos vieram saber o que se passava. Uma
amiga pegou as crianças para que eu pudesse conversar com o resgate.
__ Nome completo:
Laerte Oliveira; idade: quarenta anos.
Respondi a um imenso
questionário e minha dor estava cada vez maior. As pessoas eram
solidárias pois já somos vizinhos e amigos há muitos anos, eles me
ajudaram com o funeral pois eu não tinha como arcar com as despesas.
Ninguém imagina morrer aos quarenta, a empresa onde ele trabalhava
não dá suporte para falecimento.
Aconteceu tão
rápido que em menos de vinte quatro horas tudo acabou. Seus pais e
irmãos vieram para o enterro e já foram embora, não perguntaram
nem se eu precisava de alguma coisa para as crianças. Nem os vi irem
embora.
Agora estou aqui sem
conseguir pensar em como será daqui para frente. Pela primeira vez
em doze anos eu não tenho resposta para um problema. Laerte sempre
me perguntava o que deveríamos fazer e eu sempre tive respostas. Mas
agora não sei o que fazer. Não trabalho desde que José nasceu, ele
está com nove anos e depois de três anos nasceu Antônio, hoje com
seis. Meus filhos ainda são pequenos e não tenho com quem
deixá-los. Minha mãe trabalha fora e minha irmã também. Eu não
tenho pai e minha família é muito pequena e agora estou sem rumo.
__ Paula, venha
comer alguma coisa. Você não pode adoecer, seus filhos precisam de
você e essa dor daqui a pouco passa e você vai sentir apenas
saudades.
__ Será, tia! Eu
sinto que meu peito vai explodir.
__ É assim mesmo,
eu também perdi meu esposo e foi terrível, até que precisei pagar
as contas e as dívidas que ele me deixou. Cuidei das minhas filhas e
dei conta de estudá-las e casar as duas. Agora vivo para meus netos
e dele restou apenas a saudades.
__ Eu me lembro,
tia! A senhora foi muito forte, mas não sei se terei essa mesma
força. Estou sem chão e parece que me falta o ar.
__ É assim mesmo,
quando seu pai abandonou sua mãe com você e sua irmã pequena a sua
mãe sofreu a mesma coisa. A dor talvez fosse até maior, ele foi um
cafajeste irresponsável, que não pensou nas filhas e na dor que
vocês sentiram. Ao menos você enterrou seu marido honrosamente e
não o viu caído na sarjeta com outra mulher.
__ Isso é verdade,
eu honrei meu esposo durante toda nossas vidas juntas, não tenho
nada com que me envergonhar.
Foi bom ter essa
conversa com minha tia. Ela demonstrou muita sabedoria e cuidados com
as palavras. Levanto-me e vou até a cozinha comer alguma coisa. A
comida fica entalada na garganta, olho para a mesa e seu lugar vazio
a mesa. Uma angústia toma minha alma e parece que ele vai chegar e
me abraçar por trás e dizer que sentiu o cheiro do café.
Ele era tão feliz
que não precisava tocar uma música para que ele me puxasse par uma
dança com nossos corpos coladinhos. Estava sempre feliz com tudo e
agora foi partilhar seu brilho com as estrelas.
__Como vou viver sem
você? O que vou dizer para nossos filhos?
Durmo chorando e me
questionando.
Acordo cedo e tenho
que ir na escola das crianças e ir na empresa pegar seus pertences
do escritório. Nunca fui na firma e nem sei ao certo onde é. Mexo
nas suas coisas, pego uma pasta com documentos da firma e encontro o
endereço certo. Eu sempre estive ocupada demais com as coisas
domésticas que nunca me envolvi no seu trabalho. Guardo de novo pois
ainda não tenho coragem para mexer nas suas coisas pessoais.
Chego de frente a um
imenso prédio em mármore preto, subo por um elevador :
__ A senhora precisa
de alguma coisa?
A recepcionista me
pergunta sendo simpática:
__ Sim, eu sou
esposa de Laerte Oliveira e vim buscar seus pertences.
Ela me olha
espantada e me deixa com uma pulga atrás da orelha:
__ Meus sentimentos,
ficamos sabendo hoje cedo quando chegamos para trabalhar.
__ Obrigada!
__ A sala do doutor
Laerte é a quinta a direita, a senhora pode ficar à vontade que a
secretária dele irá te ajudar.
Minha cabeça dá um
nó, ele era doutor em quê?... Secretária? Para mim ele era
corretor de imóvel. Deve haver algum engano,
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Sofia Abraão
Eu amooooo essa autora! Já li vários livros e me apaixonei por todos!
2024-12-12
2
Vanda Farias de Oliveira
primeiro livro que leio de sua autoria espero gostar
2024-11-30
1
Patrícia Barbosa Ferrari
Começando a ler o livro hoje 11/12/24 às 23:41
2024-12-12
0