A secretária volta por um corredor e me olha assustada:
__ Ele vai recebê-la! Por favor, me acompanhe.
A sigo pelo corredor e estou em pânico. Será que estou fazendo o certo? Tenho minhas dúvidas, mas, já estou aqui e não vou me amedrontar. Estou levando meu currículo, caso ele me dê uma oportunidade.
Ela abre a enorme porta pivotante e pede que eu entre.
Meu coração dispara ao ver o homem do elevador.
Estou em choque e minhas palavras estão presas na garganta, ele tem um olhar frio e arrogante. Mas ao mesmo tempo enigmático.
__ A senhora gostaria de falar comigo?
__ Sim, eu preciso falar, com o senhor.
Estou gaguejando como uma idiota, respiro fundo e ele me aponta a cadeira a sua frente:
__ Se puder ser objetiva, eu agradeço.
Respiro fundo e faço o meu papel de viúva carpideira. É no tudo ou nada.
__ Eu sou Paula, esposa do Laerte que trabalhava para o senhor.
__ Eu sei quem é você. Eu fui ao velório, meus sentimentos.
__ Obrigada! Mas, o que me trouxe aqui é porque estou precisando de trabalho. Laerte não me deixou nenhuma economia, estou passando necessidades com meus filhos e minha mãe está no hospital, só vim por desespero e preciso muito de uma oportunidade.
__ Você está falando a verdade?
Ele se levanta e caminha por trás da cadeira onde estou sentada e sinto seu olhar sobre meus trajes simples, não sei o que é usar uma roupa de grife ou uma sandália, que não seja de alguma promoção.
__ Por quê eu mentiria?
Falo baixinho, estou com muita vergonha.
__ Seu marido era o melhor corretor que tínhamos aqui na empresa, ele ganhava melhor que todos os outros corretores. Nesse último ano ele vendeu um condomínio inteiro e duas coberturas. Só o dinheiro que ganhou era o suficiente para não trabalhar o resto da vida.
__ E onde está esse dinheiro? Nosso carro e nossa casa só foram quitados agora com seu óbito. As últimas economias acabaram com as despesas do mês e paguei o médico da minha mãe com a poupança dos meus filhos.
Falo me levantando e me colocando a frente do homem que me olha friamente.
__ Eu não tenho essa resposta, ele nunca me falou de você e muito menos dos filhos, eu nunca soube que era casado.
__ O senhor nunca viu nossas fotos na sala dele?
__ Não, já te disse, eu nem sabia que ele era casado. Fiquei sabendo no velório quando a vi ao lado do caixão.
É como se desse um tapa na minha cara. Tive vontade de sair correndo, como Laerte pode esconder sua família e por quê?
__ Eu não sei o que falar! Desculpa-me ter tomado seu tempo, foi um erro vir até aqui.
Saio da sua sala correndo, me sentindo humilhada e enganada, não vendo o chão onde piso, novamente esbarro na loira que faz uma grosseria me diminuindo ainda mais e finjo não escutar.
__ Olha por onde anda, eu não sei o que esse tipo de gente vem fazer no andar da diretoria.
Escarlate, avisa na recepção que ninguém mais entra na diretoria sem hora marcada e com identificação.
Ouço ela dando ordens para a secretária que está tremendo e engolindo em seco.
Olho para as minhas mãos e esqueci o envelope em algum lugar. Não me importo com mais nada.
Saio do colossal prédio de mármore preto, sinto me ínfima e impotente. Começo a andar sem rumo, passo uma mensagem para Carol pegar as crianças na escola por mim.
__ Laerte, o que você fez das nossas vidas? Quem é você Laerte? Porquê me escondeu tantas coisas?
Éramos amigos e confidentes, você era meu porto seguro e hoje eu não sei nada a seu respeito.
Falo em voz alta, caída sobre meus joelhos no meio de uma praça repleta de gente. As pessoas me olham e parecem assustadas. Choro muito até que uma senhora me ajuda a levantar e me serve uma garrafa d'água.
__ A senhora está bem?
__ Sim, estou. Agora estou melhor. Obrigada!
__ A senhora precisa de ajuda para chegar em casa?
__ Não! Eu estou bem, meu carro está aqui perto. Desculpa-me se assustei a senhora.
Falo para a mulher que tenta me ajudar.
__ Eu sou, Marta. Trabalho aqui perto e estava saindo do serviço quando te vi chorando desesperada e vestida de luto.
__ Sim eu estou enlutada, perdi meu marido há um mês e estou sem rumo.
__ Não fique assim, tudo se ajeita e por mais difícil que seja a vida se encarrega de colocar no lugar.
As palavras da mulher me confortam e no desespero da solidão eu a abraço forte e desabo em lágrimas.
Ela me acompanha até o carro e me entrega um cartão: Acessória jurídica, causas cíveis.
__ A senhora é advogada?
__ Sim, sou. Se precisar de alguma coisa é só me procurar.
Eu a agradeço e volto para casa. Não tenho forças para falar nada a respeito do que me aconteceu. Eu entro para o quarto e vou tomar meu banho, aviso a Daniel que não vou trabalhar essa madrugada pois estou passando mal.
Carol cuida das crianças e eu não saio de dentro do quarto. Preciso de um tempo para colocar minha cabeça em ordem. Fui vencida pelo cansaço, pela tristeza e o desespero.
José e Antônio deitam ao meu lado e fazem silêncio respeitando minha dor. Dormimos os três juntos nos protegendo de um mau invisível e imaginário.
Por mais que eu procure, não encontro respostas, estou absorta em um mundo paralelo onde eu busco um princípio e um fim para esse sofrimento e não consigo sair dele.
Sou trazida de volta ao mundo dos viventes pelo toque do celular de Laerte. Meio que em transe eu me levanto e atendo:
__ Alô! Laérte?
__ Oi, com quem estou falando?
__ Eu gostaria de falar com Laerte Oliveira, ele está?
__ Quem está falando?
__ Sou amiga dele, ele ficou de me ligar para marcarmos a reunião na segunda-feira e não ligou.
Com quem estou falando?
__ Com a esposa dele.
__ Eu não sabia que Laérte era casado.
__ Acho que você não é a única.
__ Eu posso falar com ele?
__ Infelizmente não será possível, ele faleceu há um mês.
__ Como? Não pode ser! Meus sentimentos, espero que você fique bem.
__ Obrigada, mas, é a respeito de quê essa reunião?
__ São com os sócios de um investimento que ele faria nos próximos meses.
__ Será que poderíamos nos encontrar, preciso resolver algumas coisas que Laerte deixou pendente, de repente você possa me ajudar.
__ Com certeza, eu estou no litoral essa semana e no sábado estarei aí na capital, me liga nesse número. Meu nome é Isabel.
__ Tudo bem! Te ligo na sexta.
Marcamos o compromisso e já sei por onde começar a investigar o rastro desse dinheiro.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Joane Miranda
certamente tem que saber onde foi parar o que ele ganhava,e passando tantas necessidades e ainda com 2, filhos pra criar, com certeza Deus vai orientar e descobrir onde foi parar??????
2024-12-29
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Ivelise Rodrigues
Sei não mais para começar desconfio que essa Escarlate deve ser irmã ou foi amante também do Laerte já que ninguém sabia da existência do casamento e da família dele
2025-02-01
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엘리 케이로스
CÃO SARNENTO DE HOMEM . MORREU TARDE O CANALHA PROVAVELMENTE ENGANOU DRSDE O PRIMEIRO DIA DE CASAMENTO.
2024-12-10
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