Saio às pressas, Carol está chorando nervosa. Eu não tenho mais lágrimas para chorar, estou muito abatida e o desespero toma conta.
Chegamos no hospital e o médico quer conversar conosco, ele é um senhor muito aparente na faixa dos seus cinquenta anos e parece ser um grande profissional:
__ Dona Elisabete não pode mais esperar, eu consegui um acordo com o hospital, eles colocarão os custos do stent para o sistema de saúde e vocês terão que pagar a penas as custas médicas, no caso os médicos envolvidos.
Eles estão com problemas no hospital e o sistema não quer custear todos os procedimentos. Coisas da política que interferem na saúde pública.
__ E de quanto estamos falando agora?
__ Três mil, é o valor que recebemos do sistema.
__ Pode fazer. Esse valor eu tenho guardado para uma emergência.
Meu coração fica apertado pois é o dinheiro da caderneta das crianças, é a única reserva que tenho. Mas, pelo menos, não preciso vender o carro. Por enquanto!
__ A cirurgia será feita ainda hoje, ela não pode mais esperar.
Ficamos na recepção do hospital esperando por notícias, ora ou outra eu mando uma mensagem para Daniel, minha preocupação com eles é grande e não tenho sossego.
Depois de algum tempo fomos comunicadas que ela está bem e terá que ficar na UTI por um dia. Ela não pode receber visitas e está dormindo.
. Fomos para casa mais tranquilas e durante o trajeto conversamos e decidimos que vamos morar todas juntas, a mãe não vai poder continuar trabalhando, elas pagam aluguel e precisamos cortar despesas e vamos fazer uma economia para uma emergência. A vida é feita de surpresas que nem sempre são boas.
O domingo passou e quase não fiquei com meus filhos. Chegamos em casa e gritos de gol e conversas em auto tom se ouvia do quarto das crianças.
__ Acho que estão no vídeogame.
Falo olhando para Carol.
__ Ou matando o babá! kkkk
Abro a porta do quarto e uma arena foi montada para o jogo, tem bacia de pipoca, garrafa de refrigerante, biscoitos e doces por todo lado.
__ Mãe! Ele perdeu para o José, ele se acha esperto mas não consegue ganhar de mim no futebol.
A alegria das crianças mostra que não sentiram minha falta. Por um lado me tranquiliza mas pelo outro percebo que o que eu sinto ninguém sente. Enquanto eu morro de preocupação eles nem sentem minha falta.
__ E aí? Como foi a cirurgia?
Daniel fala se levantando do chão e se colocando a minha frente olhando dentro dos meus olhos, até que Carol nos interrompe:
__ Deu tudo certo, daqui a três dias ela estará em casa.
Ela fala me dando um leve empurrão para dentro do quarto.
__ Que bom! Sendo assim eu já vou, indo.
__ Espera, vou fazer um café para a gente.
Carol fala toda oferecida e ele aceita com um sorriso maroto. Enquanto ela prepara vou para o meu quarto tomar um banho e retirar esse cheiro de hospital.
Foi um banho rápido, visto uma roupa leve e sento-me na cama. Não tenho vontade de sair daqui agora, minha vontade e deitar e dormir por horas.
Abro a gaveta do criado e vejo o celular de Laerte, está descarregado e deve estar cheio de mensagens de trabalho. Um mês dentro dessa gaveta deve estar congestionado.
O coloco na tomada e o deixo carregando. Saio do quarto e vou tomar o famoso café da Carol. Eles estão conversando e estou alheia ao assunto.
Vou até o quarto da bagunça e pego a caixa que eu trouxe do escritório do Laerte. Retiro o porta retrato das crianças e coloco no aparador da sala e o que contém a nossa foto eu coloco no meu quarto. As coisas dele ainda tem seu perfume e sinto muitas saudades.
Volto para a cama onde espalhei suas coisas e calmamente vou olhando todos os papéis. São contratos em andamento, anotações de clientes e valores dos imóveis a serem vendidos.
Acho estranho que sempre fizemos economias, não podíamos viajar por estarmos sempre apertados financeiramente, tínhamos a prestação do carro, da casa e no dia de pagarmos o cartão de crédito ele sempre pedia para eu economizar nas compras. Sendo que eu não comprava nada para mim, ou era alguma coisa para as crianças ou coisas para casa.
Meu cabelo, minha unha, depilação ou qualquer coisa relativo a cuidados pessoais eu fazia esporadicamente, quando havia algum evento para irmos, mesmo assim quase não saíamos. E vejo agora os valores exorbitantes dos apartamentos que ele vendia.
__ Para onde ia essa dinheirama?
__ Do quê você está falando, Paula?
Eu e essa mania de pensar em voz alta. Carol entra no quarto vendo-me cheia de papéis nas mãos.
__ Sabe quanto custa um apartamento de cobertura que Laerte vendeu o ano passado?
__ Não!
__ Três milhões e sabe quanto é dez por cento de três milhões?
__ Trezentos mil?
__ Sim! E ele ganhava entre seis a dez por cento desse valor.
__ Não pode ser! Vocês viveram doze anos numa magrela danada.
__ Eu sei! Mas não é só isso. Ele vendeu um prédio inteiro esse ano, e duas coberturas, onde ele enfiou esse dinheiro?
__ Minha irmã, você precisa descobrir. É muita grana par um humilde corretor de imóveis.
Estou foliando os documentos e fazendo algumas anotações e tive uma ideia.
__ Para descobrir o ninho do rato, terei que ser o gato.
__ Não entendi nada do que você falou.
Carol fala me olhando assustada e fica sem entender.
Eu junto todos os papéis e os guardo na caixa novamente, apenas a agenda eu coloco no criado ao lado da minha cabeceira. Vou ler página por página desse quebra-cabeça.
Não consigo dormir tamanha minha euforia, vou cedo para o serviço, trabalho até o horário certo e venho em casa tomar um banho e levar as crianças para a escola.
As deixo no colégio e vou até a empreiteira onde Laerte trabalhava, peço a recepcionista que me leve até o CEO:
__ Mas a senhora tem horário marcado com ele?
__ Não, eu não tenho mas diga a ele que é a viúva do doutor Laerte Oliveira.
__ A moça engole em seco e vai até o poderoso CEO.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Luzia Helena
começando a ler agora e já gostando muito
2024-12-17
2
Nádia Ribeiro
começando lê agora 21/02/2025
2025-02-22
1
Maria de Fatima Chaves
Eita vai descobrir tanto segredos estou aguardando kkk
2025-02-08
2