Eu tive uma crise de ansiedade por causa do almoço marcado, raramente fico assim, sempre trabalho meu autocontrole, aprendi isso com muita terapia, mas dessa vez foi inevitável.
Pedi a minha secretária que fizesse uma reserva no restaurante que eu mais gosto, é um lugar tranquilo, bucólico e com o melhor vinho francês servido no território nacional. Gosto de coisas simples mas bem-feita, amo comida gourmet e um bom vinho. Sou seletivo em tudo, desde a roupa que uso, a comida que como e as pessoas com quem me simpatizo.
Eu não consegui me concentrar nos contratos que estou estudando, a sua imagem não sai da minha cabeça e fica martelando, meu excesso de neurônios faz minha cabeça doer, meu peito dói e faço um exercício de autocontrole.
Saio de empresa e vou visitar uma obra de um condomínio novo que estou iniciando. Gosto de acompanhar de perto, isso me relaxa para não ficar pensando uma coisa só. Caminho por entre os trabalhadores e vejo o andamento da obra. Converso com os responsáveis pela obra e tiro algumas dúvidas. Isso fez com que meu foco mudasse e meu coração acalmasse.
Andando pelo imenso pátio da construção luxuosa, fiquei pensando no relatório que o financeiro me passou, medito nos números que me foram passados e penso que seria praticamente impossível uma pessoa ganhar tanto dinheiro assim com imóveis, em anos de recessão ele foi o Steve Jobs do setor imobiliário. Não me deu prejuízo, fechou contratos grandiosos e aumentou o capital da empresa. Como se somente ele tivesse acesso à lista de compradores. Os outros corretores ganharam entre vinte a trinta e ele ganhou Trezentos num mês.
Os meus pensamentos processam rápido e coloco minhas mãos na cabeça, os números vagueiam como fleches.
Respiro fundo, solto o ar e lembro do almoço com Paula. Converso com o arquiteto a respeito de algumas dúvidas e peço que vá até o escritório na próxima semana.
Chego cinco minutos, atrasado no prédio da empresa, minhas mãos estão suando e meu coração disparado. A vejo linda saindo para o estacionamento, seus cabelos soltam com o vento que lhe afaga o rosto, ela olha para os lados a minha procura e não percebe que estou a poucos metros, dentro do Porsche Panamera, preto.
Ela parece constrangida ao me ver, a cumprimento e abro a porta do carona para que entre, seu perfume é suave, uma fragrância adocicada, nada que remete a perfumes caros, mas a essência é deliciosa.
Entro no carro e me sinto com sorte por ter a mais bela mulher ao meu lado. Seu jeito humilde e manso me cativam e sua voz firme mostra que é resolvida, porém carente. Ela não se ajeita com o cinto e a ajudo com o mesmo e minha mão toca seu corpo. É o suficiente para meu corpo arrepiar e a sensação de satisfação encher meu peito.
Eu a orientei a procurar um advogado para fazer um rastreio nos documentos do seu marido e descobrir o paradeiro do dinheiro, mas acho que ela terá surpresas pouco agradáveis com essa história. Quando disse a ela para não confiar em ninguém, eu falava até mesmo no seu falecido esposo.
Ao sair do restaurante, encontramos minha prima que por algum motivo quer ver Paula pelas costas. Eu já sei quem passa as informações para ela, só poderia ser Escarlate, era a única que sabia do almoço. Agora terei que mandá-la embora, eu não aceito mentiras, traições e falta de caráter. Eu gosto de pessoas em quem eu posso confiar.
Voltamos do almoço e ela entra comigo no elevador eu a olho de lado, sem constrangê-la fixando meu olhar sobre seu rosto. Ela pode me interpretar mal e entender que é assédio.
Sou surpreendido quando ela me olha e agradece:
__ Obrigada pelo almoço e por ter me orientando, eu estava realmente precisando de uma orientação, eu não sabia por onde começar.
__ Não precisa agradecer, só fique atenta às mínimas coisas, é devagar que se vai ao longe.
A porta do elevador se fecha e a vejo até o último segundo.
__ Senhorita Escarlate!
Na minha sala, agora!
Ela está tremendo e seus olhos rasos d'água:
__ Pois não?
__ A senhorita contou para dona Bianca onde eu estava almoçando?
__ Não senhor! Eu jamais falaria a respeito da vida particular do senhor a ninguém.
__ Então me explica como ela descobriu o restaurante onde eu estava almoçando?
Ela não vai mentir, ela sabe que dessa conversa depende seu emprego. Ela treme e está com desespero na voz.
__ Eu estava ligando para o restaurante e ela estava ouvindo a conversa atrás de mim, quando olhei ela já tinha ouvido.
Estou de pé encostado na mesa e ela está a minha frente. Penso em o que fazer e como fazer. Fecho meus olhos e os meus punhos, pratico o auto controle e respiro fundo:
__ Senhorita Escarlate, quando isso acontecer você tem que me avisar, eu estava pronto a dispensar seus serviços por não poder confiar na senhorita, eu quero acreditar que foi um equívoco e que não irá se repetir e que eu possa confiar plenamente na sua discrição e profissionalismo. Eu não quero ser injusto, mas não terei outra opção se coisa parecida se repetir.
__ Eu prometo ao senhor que não vai se repetir e caso acontecer eu conto ao senhor.
Vi sinceridade em seu olhos, eu costumo estudar o comportamento corporal e facial das pessoas, é uma maneira que adquiri para saber se posso confiar ou não nas pessoas.
O resto do meu dia foi tranquilo, pedi para não ser incomodado. Vou ler até o último contrato que era minha meta para essa semana. Fico até mais tarde no escritório, peço aos seguranças que me esperem na sala de espera. Quando fico até mais tarde eu não gosto de ficar sozinho, não tenho medo, apenas receio por não confiar nas pessoas.
O silêncio do prédio vazio me ajuda a concentrar nos meus objetivos. Enquanto o barulho da minha mente me distrai com a imagem dela e a sua voz gravada na minha memória.
Temo criar algo que só eu sinta, por isso tenho que ter cautela e não me apaixonar para não sofrer.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Rosalia Torres de Oliveira
Estou gostando...interessante que ele conta que tem TEA e isso é raro aparecer em livros assim.
2025-02-25
0
Joane Miranda
vixi se apaixonou pela funcionária e isso não vai dar certo
2024-12-29
1
Eliana Gomes
bom estou amando essa história
2024-12-22
1