Entro pelo enorme corredor e as salas ainda estão com poucos funcionários, chego na sala com a placa doutor Laerte oliveira.
__ Em quê posso ajudá-la?
__ Sou esposa do Laerte Oliveira e vim buscar seus pertences.
__ Meus sentimentos, nós ficamos muito abalados com o que aconteceu e vamos sentir muita falta dele, era um excelente profissional.
__ Obrigada! Mas por quê vocês o chamam de doutor?
__ Ele era o melhor aqui na empreiteira, quando era lançado um projeto ele conseguia vender todas as unidades em pouco tempo. Sempre saia na frente dos outros corretores e o CEO dava- lhe preferência para os lançamentos.
__ Você trabalhava direto com ele?
__ Sim, sou secretária de três consultores e doutor Laerte era o que mais precisava do meu trabalho.
__ Obrigada, por tudo. Ele deveria gostar muito de trabalhar com você.
Falo entrando em sua sala que ainda tem seu cheiro e sinto uma saudade imensa.
Olho em uma estante de madeira na sala muito bem decorada, um conforto imenso passando status e poder. A foto dos nossos filhos estão decorando a sala.
E uma foto de nós dois está sobre a sua mesa. Fernanda, a secretária me traz uma caixa e começo a colocar suas coisas dentro. Ela me olha com os olhos rasos d'água e eu não tenho mais lágrimas para chorar.
Abro a gaveta da sua mesa pego todos os papéis e agendas, não tenho tempo para ver do que se trata, apenas os coloco na caixa. Em casa com calma vou fazer uma vistoria.
Saio da sala e me despeço de Fernanda que está chorando.
Sigo pelo corredor e tenho pressa para sair do prédio, estou me sentindo sufocada.
Entro no elevador e um casal está descendo para o térreo, eles não se olham . A mulher loira tem um ar empoderado, o homem é uma pintura em forma humana. Seu perfume amadeirado marcou presença dentro do elevador. Eu fico o tempo todo com os olhos fixos na caixa que está em meus braços, ao sair do elevador a mulher esbarra em mim com brutalidade e uma agenda cai da caixa, me abaixo para pegar e o gentil senhor pega para mim. Eu o agradeço e saio do elevador em direção ao carro. O homem misterioso fica me olhando entrar no carro até eu sair. Passo na escola e converso com as professoras para informar que José e Antônio não virão a aula essa semana, explico a situação e volto para casa. Deixo a caixa no quarto de bagunça e fecho a porta, não tenho coragem para mexer com nada.
Vou a casa da minha mãe buscar as crianças e elas ainda não querem vir para casa, minha irmã fala para eu deixá-los mais um pouco e ter paciência, eles parecem ter medo de enfrentar a verdade.
Fico um pouco com eles e lhes faço companhia, depois volto para casa.
Encaro minha solidão, às vezes choro, me desespero mas sei que vou vencer essa batalha.
Começo a esvaziar o guarda-roupas e tirar suas coisas. Cada peça tem uma história e um momento registrado. Fecho meus olhos e é como se ele estivesse me perguntando se lavei sua camisa ou bermuda. Levo sua camisa ao nariz e sinto seu cheiro. A que eu mais gostava eu guardo dentro da gaveta junto com minhas roupas de dormir. Seu perfume e sua loção pós-barba eu guardo junto com meus poucos perfumes. Faço as malas de roupas e as coloco no carro para doar em algum brechó beneficente.
Sua Aliança eu coloco em uma caixa e a guardo como lembrança eterna do nosso amor.
Uma semana se passa e a realidade bate a nossa porta. Vou ao banco e acesso a conta conjunta e só temos dinheiro para as despesas de no máximo dois meses. O financiamento da casa foi quitado, por estar em seu nome assim como a do carro. A escola das crianças está em dia mas não vou poder mantê-los em escola particular. Vou ter que transferi-los para uma escola pública.
Meus filhos são compreensíveis e entenderam que vão ter que me ajudar, eles aceitaram numa boa.
Começo a espalhar currículo por toda parte, preciso arrumar um emprego nem que seja meio período.
Faço qualquer serviço para que não falte nada aos meus filhos. Um vizinho me fala que precisam de ajudante na padaria onde trabalha, o problema é que o serviço é de três às oito da manhã. Como não tenho outra opção vou conversar com minha irmã para dormir aqui em casa.
O primeiro dia, ou seja, a primeira madrugada foi bem. Eu fiquei muito cansada mas dei conta. Antes eu não precisava trabalhar, meu esposo era o provedor da casa e não deixava faltar nada. Eu não esbanjava e fazia a economia dentro de casa. Agora eu tenho que fazer tudo sozinha, sinto tanto sua falta. Não por causa de ter que trabalhar mas porque seu abraço no final do dia era o meu descanso. Minha alegria ao vê-lo chegar com seu sorriso lindo que me passava a confiança de que tudo está bem e estamos todos juntos e seguros no nosso lar.
A mulher quando fica viúva não perde apenas o marido, mas o amigo, o confidente e o amante. O sentimento é de que nada será como antes e que a solidão será sua companheira para o resto da vida.
Na minha cama, abraçada ao seu travesseiro, eu choro todas as noites. Ouço passos no corredor e a porta se abre, meu Antônio está assustado e com medo:
__ O que foi meu amor?
__ Eu sonhei com o papai, ele disse que estava com saudades de casa.
O choro é inevitável.
__ Ele falou isso, meu amor?
__ Sim! Ele disse para a senhora não ficar chorando, porque ele está bem.
Eu abraço meu pequeno e contenho às lágrimas, ele dorme em meus braços e eu me acalmo.
Sou grata porque tenho meus filhos, eles me dão forças para suportar a cada dia. E é por eles que vou sair nas madrugadas para o trabalho, por eles eu vou matar um leão por dia.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Anonymous
Se o marido era o melhor em vendas, já era pra ter um bom dinheiro guardado já que ela não esbanja dinheiro, ele devia ter vida dupla uma amante acho que ainda vai descobrir
2025-03-26
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Neusa Menezes
Ai...ai....ai! Vivi isto.É desesperador.
Não tem nada que amenize a dor.
2025-02-26
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Rosilene Oliveira
tô gostando da história 💓😘😋
2024-12-26
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