Acordo cedo e vou para o encontro com Izabel, a amiga do Laerte. Chego a uma cafeteria no centro e procuro sem saber quem é a pessoa. Vi sua foto de perfil e por achar parecida eu me aproximo de uma mesa, a mulher me olha com ar superior. Ela é muito bonita e elegante. Não é uma mulher simples, seus cabelos bem cuidados, sua pele banhada em cremes caros e sua roupa de grife. A bolsa é o meu salário de um ano.
__ Bom dia! É a senhora Isabel?
__ Sim, e você deve ser Paula Oliveira.
__ Sim, Paula Martins Oliveira.
Estendo minha mão em sua direção e nos cumprimentamos, ela pede que eu me sente e a garçonete nos atende, peço um café preto, sem açúcar.
Ela me olha admirada e me fala:
__ Você é muito nova, disse que estava casada há doze anos com Laerte, isso mesmo?
__ Sim, temos dois filhos, José com nove anos e Antônio com seis.
__ Espero que possamos dar continuidade com o projeto que estávamos planejando.
__ Eu não sei, preciso saber detalhes desse projeto.
__ Acho estranho você não saber, você era esposa, apesar de nunca ter ouvido falar de você.
__ Ele não comentava a respeito para nos proteger. Queria nos manter distante dos negócios.
Ela me olha de um modo interrogativo e não consigo decifrar sua feição.
__ Qual era o projeto?
Pergunto e ela me entrega uma pasta com o croqui de um grande condomínio de alto padrão, com piscina, sala de jogos, academia e até lojas de conveniências. As pessoas não precisariam nem sair do condomínio para fazer compras. Tem um shopping dentro do condomínio.
__ Onde é isso?
__ No sul do país, o terreno nós já compramos.
__ Nós, quem?...
__ Os investidores, eu tenho uma grande construtora no estado gaúcho e Laerte estava me ajudando a contactar os melhores fornecedores de material e ele já estava trabalhando na negociação das vendas dos apartamentos. Ele era um dos investidores e entrou com a compra de seis apartamentos na planta.
__ Ele comprou e chegou a pagar por esses imóveis?
__ Não, ele ia fazer a transferência depois que nos reuníssemos. Naquele dia em que te liguei foi para marcar a reunião.
__ Então não foi concluído a compra?
__ Não, por isso estou aqui. Quero saber se você vai manter o acordo que seu marido fez comigo.
__ Ele assinou algum documento?
__ Não, foi apenas verbal. Ele estava estudando as condições e queria um desconto maior por comprar na planta e em início de obra.
__ Eu não posso manter o acordo feito entre vocês.
__ Como não? Era um planejamento dele que você deveria concluir em memória do seu esposo.
__ Eu não fiz parte desse acordo, é uma quantia exorbitante pelo que estou vendo. Eu não tenho como pagar.
__ Laerte tinha uma lista de compradores para esse investimento, eu preciso saber quem são, ele deve ter anotado em algum lugar e se eu não vender um terço desses apartamentos urgentemente, eu não terei como concluir a obra.
__ Eu sinto muito, ele levou consigo para o túmulo, sua lista de clientes, seus negócios e o seu dinheiro. Ele me deixou sem nada e com duas crianças. Eu não posso te ajudar.
Tomo meu café e olho para a mulher a minha frente que parece a viúva traída. Estou começando a acreditar que ele era mais que amigo dela. Está toda de preto e seus olhos roxos de chorar.
__ Só uma coisa, de onde você conhece o Laerte?
__ Fizemos faculdade juntos, ele é meu ex marido.
__ Como?
Estou em choque e meu peito dói muito.
__ Fomos casados por um ano, não deu certo e nos separamos. Ele nunca me disse porque não queria continuar a morarmos juntos, disse que confundiu os sentimentos e que, se eu quisesse, seríamos bons amigos.
__ E você aceitou, assim sem lutar por ele.
__ Ele voltou para sua cidade e perdi seu contato. Nos encontramos novamente há dois anos, onde montamos esse projeto.
__ Vocês se reataram?
__ Não, estávamos indo devagar, ele me pediu um tempo para pensar melhor e que não poderia tomar uma decisão agora.
Respiro fundo e o chão parece me faltar, não estamos falando da mesma pessoa, isso só pode ser um equívoco.
__ Vocês, chegaram a ficar juntos?
__ Não, íamos ter essa conversa definitiva no jantar que ele não compareceu.
Ele não compareceu por estar morto, mas será que ele teria tido essa coragem?
__ Eu não sei nada do meu marido, apenas que ele não é essa pessoa que todos falam. Ele era doce, gentil, apaixonado e nos amávamos muito.
Ela pega sua bolsa e me mostra uma foto dos dois e uma cachorrinha branca:
__ Essa é a Belinha, ele me deu no meu aniversário ano passado, é nossa filhinha. Ele era muito carinhoso e atencioso, até mesmo como amigo e eu sou completamente apaixonada por ele.
Eu estou em estado de transe, pareço viver um pesadelo. Levanto-me e a olho com firmeza, preciso ser forte e não me abater. Lembro-me das palavras do Henrique, eu preciso de energia para vencer essas etapas ruins da minha herança maldita:
__ Eu não posso fazer nada por você e seus sentimentos, espero que Você se recupere, mas não acredito que ele fosse abandonar a mulher e os filhos por uma aventura do passado. Curta sua cachorrinha, porque dele para você só sobrou isso.
Saio como andando nas nuvens, entro no carro e tenho vontade de chorar por horas. Desabafo no carro fechado ao som de Bon Jovi, Bed of Roses, a melodia me faz chorar pois era a nossa música preferida e ele além de me deixar sozinha com esse tanto de problemas e mistérios, me coloca frente a frente com a mulher que poderia tirá-lo de mim.
Ele deu a ela uma cachorrinha e quando eu falava que queria uma, ele dizia que não podíamos ter bichos em casa por causa das alergias das crianças.
__ Cretino, desgraçado! Se estivesse vivo, hoje eu o mataria.
Sou levada a vida novamente com o celular tocando. Atendo e Carol me avisa que o caminhão de mudança já está na porta da casa da minha mãe.
Bora para a vida real, porque chorar não paga às contas e muito menos resolve problemas.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Joane Miranda
É incrível como um ser humano pode ser tão cruel com a esposa legítima e filhos.
2024-12-29
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Maria de Fatima Chaves
Vixe Paula você vai descobrir muitas coisas ainda fica firme kkk
2025-02-08
0
Adna Almeida
Safado, FDP. Certeza que vai descobrir mais. 😠
2025-01-09
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