Henrique Solano

Sou dono de uma empreiteira renomada na região sudeste do país. Buscamos investimentos e parcerias para o sonho da casa própria

Me chamo Henrique Solano, tenho trinta e nove anos e sou solteiro, as pessoas não me acham muito agradável e não sou sociável. Não é um problema pessoal com ninguém, eu tenho

o transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, tenho apenas dificuldade de socialização, não gosto de barulhos elevados e lugares populosos. Gosto das coisas onde eu posso controlar. Não é um problema visível e palpável, por isso as pessoas julgam como timidez, antipatia ou arrogância.

Desde criança eu gostava de construção, ora com blocos de montar ou caixas, até mesmo palitos. Eu falava com meus familiares que eu teria uma grande construtora e eles riam de mim. Na escola eu era tratado como nerd e muitas vezes como louco. Quando na verdade meu raciocínio era mais rápido e sagaz do que dos outros. Sofri muito bullying na escola, até mesmo os professores não me compreendiam. Não os culpo, o sistema não os prepara para crianças com esses distúrbios. Muitas vezes nem os pais sabem lidar com o problema.

A turma escolar não me acompanhava em cálculos, eu me sentia um peixe fora d'água. Meus amigos eram meus primos, Daniel e Bianca, eles eram os únicos com quem eu me interagia. Nunca gostei de esportes, nem mesmo andar de bicicleta. O meu quarto era meu mundo.

Comecei administrando pequenas construções e com vinte anos construí meu primeiro prédio de apartamentos, hoje são centenas. Eu sou um homem muito bem sucedido mas nunca me apaixonei por ninguém. Tenho dificuldade em manter um relacionamento com pessoas que não se enquadram nos meus parâmetros.

Daniel se afastou de mim por causa da sua noiva, ela era uma pessoa que gostava de baladas, dinheiro e status. Eu caí na mania do sincericídio e falei o que eu pensava a seu respeito. Ele não gostou e achou melhor se afastar, um mês depois ela morreu em um acidente onde estava vindo de uma balada com um cara que não era ele. Tive vontade de me reaproximar dele, mas cheguei a conclusão que eu deveria ter ficado calado.

Bianca é filha da minhã tia e madrinha, sempre fomos amigos apesar de me opor a algumas coisas que ela faz. Mas ela é uma pessoa competente e me ajuda na administração. Só não deixo o financeiro passar por suas mãos. Tenho algumas desconfianças, mas não tenho provas. Preciso prestar mais atenção nos que me cercam .

Laerte veio trabalhar comigo há uns dez anos, ele era muito bom nas vendas e a gente sempre conversava e trocamos algumas ideias para alcançarmos objetivo de vendas. Mas nosso relacionamento era totalmente profissional. Bianca já era amiga dele e os dois sempre saiam juntos.

Quando soubemos a respeito do seu falecimento eu levei um choque, éramos praticamente da mesma idade e ele parecia ser uma pessoa saudável.

Eu levei um susto quando chego no velório e vejo aquela mulher linda chorando ao lado do caixão, abraçada aos seus dois filhos. Bianca mudou bruscamente sua feição e não quis ficar até o sepultamento. Ela não é a mesma desde esse dia. Anda agressiva e está insuportável.

No momento em que minha secretária me informou que a esposa do Laerte gostaria de falar comigo eu geleia. Dúvidas pairaram em minha cabeça, pensei que fosse requerer alguma causa trabalhista, olhar direitos do marido. Mas fui surpreendido com sua humildade em vir pedir uma vaga de emprego.

No calor da conversa ela esqueceu o envelope com o currículo, foi a maneira que encontrei para saber se o que ela me disse foi verdade.

Montei uma ronda na sua rua, observei sua rotina e a vi chorando em quanto lavava a varanda. A mangueira arrebentou e tive vontade de ajudá-la, mas vi quando Daniel se aproximava. Ouvi ela dizer que iria tomar banho e tirar a roupa que estava molhada. Aguardei pacientemente até que a luz do banheiro apagasse.

Fiquei perplexo ao ver as condições da casa de um homem que faturou milhões em dez anos. Já até mesmo mandei fazer um levantamento junto ao financeiro par saber de quanto foi seu faturamento por todos esses anos.

A minha alegria hoje foi vê-la cruzando a porta do meu escritório, eu senti meu coração disparado e um desejo enorme de tê-la em meus braços. Um sentimento estranho que eu nunca senti. Saber que ela está à dois andares abaixo do meu, não me contive e fui vê-la antes de sair.

Ela parece amar demais seu marido, sinto que ela procura por respostas que não tenho como responder. Eu tenho apenas suspeitas, por isso eu a contratei, espero que ela encontre respostas e que me ajude a desvendar as minhas suspeitas.

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