Depois do almoço com Henrique eu senti que tenho um norte, por onde começar a procurar.
Liguei para o escritório da doutora Marta e marquei uma hora para conversarmos. Ela não estava, conversei com a secretária e consegui um horário para segunda-feira.
Vou juntar todos os documentos que tenho, os canhotos dos cheques, o relatório financeiro que Henrique me enviou por e-mail, a agenda e seu telefone.
Saio para o prédio onde o showroom foi montado, tenho alguns clientes marcados e não gosto de atrasos.
Chego no local com uma identificação da empresa e um crachá, as pessoas me olham como se fosse impossível eu trabalhar onde os corretores são todos homens.
Um deles se aproxima e sem um pingo de empatia me questiona:
__ Você foi contratada pela construtora?
__ Sim, algum problema?
__ Não, é que Henrique não contrata mulheres para trabalharem no campo como corretoras.
__ Sou uma exceção.
__ Estou vendo! Será que já está dormindo com o chefe?
Eu fecho meus olhos e me sinto ofendida, minha vontade é de espalmar a mão na cara do idiota. Respiro fundo e me afasto um pouco, manter distância de gente desse tipo é o melhor remédio.
__ Eu não preciso dormir com ninguém para mostrar minha capacidade como profissional. Diferente de você que precisa desse perfume enjoativo, essa roupa cafona e esse cabelo de retardado. Se enxerga num espelho bem grande, porque sua catarata está atrapalhando sua visão.
Dou-lhe às costas e saio com um sorriso para receber meus clientes, um casal simpático que gentilmente ouviu todas às minhas explicações e condições de pagamento. Eles ficaram superinteressados e me darão a resposta amanhã. Assim foram com mais três clientes. Depois do contratempo com o nerd sem noção, eu não o vi mais. Não voltei na empresa, fui direto pegar meus filhos no colégio e depois visitar minha mãe.
Elisabete, cinquenta e cinco anos.
As crianças entram correndo pela casa e chamando a vovó, ela os mima muito e acaba estragando as crianças.
Eles a abraçam e beijam demonstrando muita saudades.
__ Vai com calma, crianças! A vovó saiu do hospital hoje.
Falo beijando sua testa e perguntando se ela está melhor.
__ Eu estou bem, só um pouco cansada.
__ Isso deve ser normal, semana que vem a senhora tem uma consulta e vamos perguntar ao médico a respeito.
Ficamos conversando, não pude contar a ela nada do que está acontecendo, não a quero deixar preocupada. Carol chega e combinamos a respeito da mudança.
__ Vou desocupar o quarto da bagunça e fazer o quarto da senhora lá, não é muito grande mas terá privacidade.
__ O que tem nesse quarto?
__ Coisas do Laerte, é tipo um almoxarifado da bagunça.
Quando falo, sinto como se uma lâmpada acendesse na minha cabeça.
__ O que foi, Paula? Ficou pensativa do nada.
__ Eu preciso ir agora, tenho que começar a limpar lá, deixem tudo arrumado, sábado depois de uma reunião que tenho pela manhã eu venho para cá para fazermos a mudança.
__ Mas, e meus móveis? Às coisas que eu tenho. São poucas, mas comprei com muito sacrifício.
__ Não se preocupe, o que não couber dentro de casa a gente coloca na garagem até decidirmos o que fazer.
Saio às pressas e vou direto para casa, troco de roupa e começo a revirar o pequeno quarto. Faço um cinco S, separando coisas para doar, descartar e analisar.
Estou quase terminando, Daniel chega e me oferece ajuda. Eu já estou morta de cansada e peço a ele que coloque algumas caixas na garagem para colocar para reciclagem amanhã antes de sair. Limpo o cômodo e coloco a caixa da revisão no meu quarto. Estou limpando a janela do quarto e me desequilibro e quase vou ao chão, sou amparada pela agilidade do Daniel que me segura e caio em cima dele. O susto faz meu corpo enfraquecer e estamos com o rosto muito próximo.
__ Obrigada! Você machucou?
__ Não, eu estou bem e você?
__ Eu também estou, só foi um susto.
Falo e sinto sua mão segurar minha cintura e a outra pegar em meu pescoço. Eu apoio minhas mãos no seu peito e impulsiono meu corpo para trás e me levanto.
Ele se levanta ainda atordoado e parece estar cheio de desejos.
__ Eu preciso terminar aqui e tomar um banho.
Falo não olhando em seu rosto pois estou com vergonha.
__ Eu vou terminar de colocar as caixas na garagem, tome cuidado para não se machucar.
__ Obrigada, eu vou tomar mais cuidado.
Sei que ele está me cortejando, mas eu não posso me envolver com ninguém agora, é tudo muito recente e tenho que me respeitar e aos meus filhos. Daniel é um bom amigo, mais nada além disso.
Termino de limpar e acho que vai caber bastante coisas da dona Bete na sua nova residência.
Deito morta de cansada e quando consigo dormir, Antônio tem outro pesadelo, estão muito frequentes depois que Laerte morreu.
Eu custo acalmá-lo até ele dormir. Com isso se foi embora minha noite de sono.
Acordo assustada, estou atrasada. Daniel já está na cozinha preparando o café:
__ Bom dia! Como você entrou?
__ Eu toquei a campainha, José abriu para mim. Já coloquei as caixas para o caminhão levar, daqui a pouco passará e desocupa a calçada.
Eu o agradeço, tomo o café e saio às pressas. Vou pegar o carro e vejo duas caixas com objetos de Laerte:
__ Essas caixas não!
Eu grito com o catador que já estava com elas nas mãos. Eu as coloco no meu carro, não tenho tempo para voltar e colocá-las no meu quarto. Não sei como elas foram parar ali.
Chego na empresa e o elevador está fechando a porta, peço que segure para mim, estou com uma das caixas, eu não tenho cliente agora cedo e só vou preparar alguns papéis de contrato de compra para deixar pronto para o meu primeiro cliente que espero não demorar aparecer.
Entro no elevador e me deparo com Henrique segurando a porta:
__ Bom dia! Pelo visto somente nós dois chegamos cedo o trabalho.
Ele fala sério sem expressar nenhum sentimento:
__ Sim, eu gosto de chegar cedo.
__ O que tem nessa caixa?
__ Nada demais, eu estou fazendo uma limpeza em algumas coisas do Laerte e se tiver um tempinho quero descartar alguns documentos.
__ Cuidado, não jogue nada fora se não tiver certeza. Você pode precisar depois e não sabe.
Ele fala sério sem olhar direito nos meus olhos. Não sei porque, mas, toda vez que ele me fala desse jeito eu sinto um frio percorrer minha espinha.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Joane Miranda
ele está muito interessado nos filhos e mulher do laerte
2024-12-29
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Patrícia Barbosa Ferrari
Que o Daniel sabe de muita coisa a respeito do dinheiro 💶💰, isso é fato,acho que a Paula tem que desconfiar de todo mundo em um primeiro momento,e com o passar do tempo 🌡️,ver quem realmente merece a sua confiança
2024-12-12
2
Aparecida Fabrin
eu também acho que Daniel está atrás do dinheiro.
2024-11-27
0