Ao sair de madrugada para o trabalho eu vou no quarto beijar meus filhos e fazer uma prece para que sejam protegidos durante esse dia. Eu faço isso todos os dias de manhã, a tarde e a noite. Eu não suportaria a dor de perder um filho. Já estou sofrendo muito por causa do meu marido, mas se alguma coisa de ruim acontecer com eles, com minha mãe e minha irmã eu tenho medo de enlouquecer.
Eles dormem como um anjo, beijo cada um e saio devagar.
Novamente dou carona ao Daniel e a Luíza, agora será revezamento para economizar, cada semana no carro de um. Toda economia para mim já ajuda. Chego no trabalho e é dia de pagamento, o valor não é muito mas me ajuda bastante. Ao sair do serviço eu passo no mercado e compro um chocolate para cada um, eles adoram essa marca e desde que o pai morreu eu não pude comprar para ele.
Ficaram tão felizes que me encheram de beijos. Eles às vezes choram escondidos, estão sofrendo mais do que eu, mas não deixam transparecer. Amanhã é minha folga e vou levá-los para tomarem sorvetes. Quero passear com eles e depois vou para casa da minha mãe, vamos almoçar em família como fazíamos antes.
Não é fácil tentar recomeçar, tudo nos traz lembranças da pessoa amada, mas pelas crianças eu tenho que continuar e retomar nossas vidas. Estou pensando em vender a casa e comprar em outro lugar. Sei que não vou apagar as lembranças mas penso em construir algo novo com meus filhos. Uma casa menor, mais nova e perto de uma boa escola. Vou ver se consigo um trabalho extra para fazer uma poupança para uma emergência. Estou pensando em pegar serviços de limpeza já que coloquei meu currículo nas empresas e não fui chamada em nenhuma.
Sou cursada em administração e tecnólogo em RH, tenho esperança de conseguir um bom emprego e ter uma estabilidade para os meus filhos.
Daniel me liga nos convidando para um cinema, Luíza também vai. Pergunto se as crianças querem ir e elas adoraram a ideia. Os arrumo rapidamente e eles estão felizes por saírem um pouco de casa. Assistimos a um filme e Antônio a todo tempo pega em minha mão, ele parece não gostar da aproximação de outro homem na minha vida.
Em quanto Daniel e Luíza buscam pipoca, Antônio e José me perguntam se Daniel é meu namorado:
___ Não! Ele é meu amigo do trabalho igual a Luíza, eles só estão sendo gentis conosco. Fiquem tranquilos, eu não vou namorar com ninguém e não faria isso sem pedir permissão aos homens da casa.
Falo fazendo cócegas nas barrigas cheias de guloseimas.
Daniel e Luíza voltam cheios de pipocas e refrigerantes, eles não me deixaram pagar nada. Fizeram questão de bancar o passeio.
Chegamos em casa com as crianças dormindo, Daniel me ajuda a colocá-las na cama. Eu o levo até a porta e o agradeço pela noite. Ele me beija o rosto e sai. É um bom amigo, não posso esquecer o quanto ele tem me ajudado.
Entro no meu quarto e a cama vazia me trás lembranças que não quero esquecer, a saudade me dói no peito e ainda sinto seu perfume. Hoje dói menos que ontem, às vezes não tenho vontade de levantar da cama mas lembro que tenho duas razões mais que suficientes para isso.
Acordo de madrugada pelo hábito de acordar todos os dias nesse horário, olho o celular e vejo uma mensagem da Carol me dizendo que a mãe passou mal e que precisou ir para o hospital. Lá se foram todos os nossos planos para o final de semana. Ligo para Daniel que por algum motivo também está acordado, peço milhões de desculpas pelo inconveniente mas não tenho ninguém para ficar com as crianças. Ele gentilmente em minutos está na minha porta sem se importar com o horário. Falo com ele para ficar no quarto de visitas e que mando notícias assim que der.
Saio feito louca até o outro lado da cidade no hospital para onde minha mãe foi levada. Tia Célia está com Carol, vejo o desespero em seu olhar:
__ O que aconteceu? Eles estão com ela lá dentro e só me pediram que eu assinasse alguns papéis.
__ Mas o que ela sentiu?
Dor no peito e falta de ar, seu braço começou a formigar e uma dor aguda.
O médico socorrista disse que por pouco ela teria morrido em casa.
__ Não pode ser! É a mesma coisa que Laerte sentiu.
__ Eu sei, lembrei na hora. Mas ela já toma remédios para o coração e eu a mediquei a tempo.
Ficamos um bom tempo aguardando notícias até que o médico nos chamou:
__ A mãe de vocês teve um infarto do miocárdio e terá que colocar um stent.
__ Essa cirurgia é cara, doutor?
Eu pergunto apavorada, pois de onde vamos tirar o dinheiro.
__ Podem ver se conseguem pelo sistema único, mas terão que entrar na fila para uma vaga e tempo é que não temos.
__ Quanto tempo nós temos?
__Posso segurá-la aqui por setenta e duas horas, vou dando a medicação e observando se tem alguma melhora, mas aconselho que vocês consigam a vaga para a cirurgia ou paguem pela mesma.
__ E de quanto estamos falando?
__ Hoje, fica em onze mil.
__ Isso tudo?
Carol questiona assustada.
__ Tudo bem! O senhor pode fazer, eu vou conseguir o dinheiro.
Ele sai confirmando a cirurgia para daqui a três dias, meu coração está acelerado. Não temos esse dinheiro e a única coisa que veio em minha mente é vender o carro.
__ Você não pode vender o carro, como vai fazer para ir trabalhar?
__ Eu não sei! Mas eu não vou perder mais ninguém. Carro eu trabalho e compro outro.
Abaixo minha cabeça e busco forças na fé. Faço uma prece silenciosa e peço ajuda divina, sozinha eu não vou conseguir.
Vimos o dia amanhecer, visito minha mãe na UTI e volto para casa com Carol e deixo tia Célia em casa.
Carolina, trinta anos, secretária- executiva.
Quando chegamos em casa encontramos Daniel dormindo no sofá, está sem camisa e com uma calça de moletom. Carol está em choque, seu porte físico é de tirar o fôlego:
__ Eu sei que não é o momento mas, você escolheu muito bem a babá, dessa vez.
__ Mais respeito porque ele está me fazendo um favor e ele é meu amigo.
Vou descansar um pouco e deixo Carol babando no homem lindo esparramado no sofá.
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Atualizado até capítulo 77
Comments
Anonymous
Irmã uma secretária executiva e não ganha brm? Pelo jeito é solteira e não tem como ajudar na cirurgia da mãe e outra se ele tinha cheque, ela devia ir ao banco ver essa conta
2025-03-26
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Eunice Ferreira de Omena
acho que o marido dela tinha outra família
2025-02-24
0
Joane Miranda
na hora que a gente menos espera vem outra tragédia,temos que pedir socorro e forças a Deus senão o que seria de nós.
2024-12-29
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