Capítulo 6

Lucrecia acordou naquela manhã empolgada como nunca havia estado em sua vida, tomou um banho rápido e escolheu entre as roupas recém trazidas por Cora um conjunto elegante para vestir

A jovem nunca havia trabalhado, cresceu em uma família retrógrada e com costumes castos de sua descendência Turca, o pai era um homem rígido, após a morte da esposa criou as filhas a punhos de ferro, nem mesmo uma escola comum deixou que elas frequentassem, George era um bom advogado, Lucrécia havia herdado dele o tino para os negócios, as noites a dentro o ajudando com a papelada de processos e pendências jurídicas deu a moça uma noção fora do comum para certos assuntos. A sala estava vazia, quando desceu as escadas a jovem elegante em seus saltos finos e calças de alfaiataria era a imagem encarnada da sofisticação e luxo, Cora punha a mesa, já terminava de servir o café quando a figura de Lucrecia pairou sobre ela.

— Bom dia.

O queixo da mulher quase caiu ao fitar Lucrecia.

— Menina? é você mesmo?

Perguntou ainda incrédula secando as mãos em seu avental.

— O que acha?

Apontou para roupa bem alinhada que lhe caia como uma luva.

— Exagerado demais para meu primeiro dia?

— Está linda Senhorita.

Lucrecia sorriu sem jeito, os longos cabelos ondulados caiam como cascata sobre seus ombros.

— Sabe se o senhor Ivan já foi para o escritório? não quero abusar da boa vontade dele mais preciso muito de um carona.

Cora olhou com tristeza para Lucrécia, pela expressão da mulher ela soube que algo estava acontecendo.

— O senhor Ivan saiu para correr menina, acabou de chegar, ainda não desceu para o café, ele sempre faz isso quando não consegue dormir a noite.

— Ele tem problemas para dormir ?

— Ele quase nunca dorme, pelo menos eu nunca o vi fazer isso desde quando chegou a Boston, é claro que ninguém consegue ficar acordado para sempre mais.

— Mais?

— As vezes.

— Sim?

— Eu ouço gritos horríveis vindos do quarto dele, está sempre vagando pela casa, ou enfiado naquele escritório.

Lucrecia olhou em silêncio para Cora.

— Estou falando demais, o senhor Ivan não gosta de burburinhos entre os funcionários, tome seu café, ele não deve demorar.

Lucrecia se sentou a mesa servindo um copo singelo de chá, estava ansiosa olhava todo tempo para as escadas quando por elas desceu Ivan.

— Bom dia.

Falou de forma fria porem gentil.

— Bom dia.

Ela o olhou com atenção, Ivan era um homem lindíssimo, de traços fortes e poderosos mais a barba por fazer e a expressão de cansaço não passou despercebida por ela.

— Está tudo bem?

— Por que não estaria?

A encarou profundamente fazendo com que desviasse o olhar.

— Estamos atrasados, pegue sua bolsa.

Apontou para o acessório sobre a mesa, Ivan caminhou a passos largos, Lucrecia o seguiu em silêncio, assim que o homem abriu a porta ela se sentou no carona.

— O escritório do Cassino é um tanto quanto assustador as vezes, não entre nos reservados, os seguranças eles não são seus amigos então os trate de forma mais profissional possível, Você será a única mulher naquele lugar, já ouviu a história do lobo e o cordeiro?

— Sim.

— Pois bem, naquele lugar você é a porra de um cordeiro, cercada de uma matilha de lobos.

Ivan deu partida sem pairar seu olhar sobre ela, os olhos de Lucrecia o encaravam assustada, não sabia o que havia acontecido na noite passada mais não tinha dúvidas, havia mexido de forma assombrosa com ele, assim que chegaram ao Cassino Ivan caminhou ao lado dela para o escritório, era visível a qualquer um o poder que a figura de Santorini emanava, ninguém o olhava nos olhos, ninguém lhe dirigia a palavra, caminhava como um fantasma em meio aos jogadores e todos eles tremiam ao olha-lo, os funcionários do lugar abriam espaço para que ele passasse, O rei, um leão em seu hábitat, um Deus seguido e adorado cegamente por seus fiéis.

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