Cap-15

Alice entrou em pânico, nem tanto por correr o risco de ser descoberta, mas por estar se permitindo chegar a tanto. Ela desceu da mesa afastando Daniel.

— Se esconda!— ela ordenou.

— Eu não vou me esconder da minha irmã!— Daniel resmungou.

— Agora! Se não tiver jeito, eu tenho uma carta na manga, mas primeiro se esconda!— ela pediu mais uma vez.

Daniel revirou os olhos e obedeceu, ficando atrás da mesa de escritório.

Alice bagunçou o sofá e tentou colocar uma expressão de quem acabou de acordar.

— Alice? Sei que está aí, estou ouvindo o barulho!— Dani exclamou impaciente.

Alice abriu a porta e deu de cara com um par de olhos desconfiados.

— Estava se masturbandö?— Dani perguntou analisando a garota de alto a baixo.

— Hã? Estava tirando um cochilo!— mentiu revirando os olhos.

— Já almoçou?— Dani perguntou entrando no escritório.

— Não! Eu só quero dormir! Você me acordou.— Alice esbravejou.

— Sabe onde Daniel foi almoçar? Ele não estava com a Iveline, e não está na sala dele...— ela perguntou sentando na mesa e mexendo num tinteiro antigo que Alice usava de enfeite.

Alice estava a ponto de infartar, Dani estava a poucos centímetros de descobrir seu irmão atrás da mesa.

— Acho que vou descer para almoçar, não quer me acompanhar?— Dani falou descendo da mesa e colocando o tinteiro no lugar.

— Agora não... vou mais tarde...

Dani assentiu e saiu do escritório. Alice trancou a porta atrás de si e respirou aliviada. Parte aliviada...

Daniel se levantou com as pernas doloridas, e encarando Alice.

— Daniel, a menos que tenha terminado com Iveline, não apareça nessa sala, não fale comigo, não se aproxime de mim, e se puder, nem olhe pra mim!— Alice exclamou decidida.

— Sim... eu entendo... eu vou resolver nossa situação. Prometo. Mas se acalme! Não faço nada que não queira...— ele respondeu com olhos baixos.

Alice ofegava, um misto de desejo e medo a atormentava. Daniel se aproximou, fazendo a garota dar um pulo em alerta.

— Daniel... eu não sou assim! Olha o que me faz fazer!? Perco o controle, e me vejo sendo a mulher mais baixa e vil!— Alice colocou as mãos no rosto vermelho de vergonha, e depois voltou a encara-lo.— Por favor, saía daqui e não me deixe numa posição de uma traidora. Pode ser só uma aventura pra você, mas eu sou apaixonada há muito tempo, não é justo que venha aqui me seduzir... eu não vou resistir, e você pode estar apenas se aproveitando de mim...

— Desculpe... eu só vim aqui por que queria conversar... não tinha intenção de fazer nada com você, eu juro.— Daniel murmurou envergonhado.— Jamais me aproveitaria de você... também acho que estou apaixonado por você...

Ele foi até a porta e abriu, segurando a maçaneta, ele voltou os olhos para encarar Alice, que se auto depreciava.

— Eu sinto muito...— balbuciou entristecido.

Alice deu com os ombros e se voltou a sua mesa.

Daniel saiu dali impactado pelo breve momento de fraqueza, mas que insanamente não se arrependia, e isso o fazia se odiar. Nem almoçou, se manteve no escritório, para evitar contato com as pessoas, inclusive se absteve de procurar saber o que aquele brilho diferente nos olhos de Léo significava, durante toda tarde.

Não via a hora de ir embora, mas quando deu o horário, não sabia o que fazer para terminar seu noivado.

Saiu da sua sala, nessa hora Alice já deveria ter saído para ir a faculdade, desceu o elevador sozinho, e na recepção avistou Iveline pronta para subir.

— Já ia te chamar!— ela exclamou abraçando o noivo.

— Vamos, quero conversar quando chegar em casa.— ele afirmou sério.

Ela assentiu, e foram para o carro. Durante o percurso Iveline tagarelava sem parar.

— Dá uma dica? Sobre o que é a conversa?

— Já estamos chegando...— ele murmurou.

— Também quero conversar...

Daniel assentiu. Mais cinco minutos estavam em frente a casa. Entraram em silêncio, subiram para o quarto, e antes que Daniel começasse a falar, Iveline entrou no banheiro, deixando Daniel num profundo desespero, não aguentava mais segurar o que devia fazer.

Iveline saiu com as mãos para trás.

— Posso falar primeiro?— ela implorou.

Daniel assentiu, afinal, ia terminar com ela, o mínimo que podia fazer era dar a oportunidade dela falar primeiro.

— Estou grávida!— ela deu um gritinho colocando o teste de farmácia na frente do rosto.

Daniel olhou para noiva incrédulo.

— Não estava tomando anticoncepcional? Sempre insistiu nisso...— ele murmurou tentando disfarçar o desespero.

— Eu mudei de idéia e queria fazer uma surpresa. Não gostou?— ela indagou jogando a cabeça de lado, em claro desapontamento.

— Não é isso... mas acho que ter um filho não é algo que se faça de surpresa! Deveria ter conversado comigo, pra gente decidir juntos...— Daniel tentou ponderar.

— Não te entendo, sempre quis ter filhos, e agora está achando ruim?— Iveline indagou confusa.

— Não acho ruim ter um filho, eu sei que sempre quis um. Mas não assim! Era pra sentarmos, conversar e planejar o melhor momento... você decidiu isso sozinha, sem me consultar! Sempre respeitei sua decisão de não querer filhos, agora do nada, me aparece com essa notícia? Aliás, estava planejando o casamento dos seus sonhos, por que ia querer um filho agora?— Daniel protestou passando as mãos pelos cabelos.

— Está rejeitando seu filho?— ela falou passando a mão no ventre.

— Não! Não estou rejeitando o meu filho! Apenas indignado por tomar uma decisão sem me consultar!

— Não imaginava que ficaria bravo, sinceramente eu pensei que ficaria feliz com a surpresa...— Iveline falou cabisbaixa.

— Iveline, isso não é decidir o sabor do bolo, ou as cores das toalhas de mesa! É um filho! Uma vida sob nossa responsabilidade! Merece toda atenção e planejamento prévio!— ele foi até a porta, sem saber o que fazer.

Realmente, a vida de Daniel estava uma confusão, e ele não sabia o que fazer diante dessa situação inusitada.

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