Como prometido, Joaquim foi tirado da cama antes do sol raiar no canto do galo. Encontrou o pai na mesa do café com o rosto amargurado pela atitude que havia tomado, já que lhe cortava a alma agir de maneira dura com o filho muito amado.
Tomaram o café em silêncio e como combinado partiram ao raiar do sol estrada afora rumo ao porto e o barracão, chegando a construção de madeira encontraram a mesma trancada e os homens a vigia, já que uma grande safra de escravos estava pronta para venda. O cheiro de excremento humano tomou o ambiente assim que abriram a porta, pessoas foram tiradas de lá e amarradas a poste de madeira postas à venda, já que aquele dia era o dia do leilão dos novos escravos, e o movimento dos senhores de escravos era grande naquele dia.
Assim que o sino tocou as 11 badaladas, os comerciantes de escravos colocaram seus exemplares à mostra, Lisboa hábil em negociar conseguiu vender aquela safra por um preço acima da média, lucrando grandemente com a venda dos seres humanos.
Joaquim observava o pai com admiração já que ele nunca o havia levado ao trabalho, sendo aquela sua primeira experiência no trato com aquele povo trazido da Costa do Marfim. Após a venda dos escravos foram para a fazenda a uma hora de distância da capital, lá foram entregues os escravos que não foram vendidos para o pesado trabalho na plantação e moagem da cana-de-açúcar.
Passaram o dia a observar o trabalho dos escravos na plantação da cana-de-açúcar e na moenda e produção, para surpresa de ambos, por mais que forçasse os negros ao trabalho pesado, não conseguiam atingir os números de produção de Afonso. Por mais que tentasse não conseguia alcançar a produtividade do homem já que ele usava técnicas modernas de plantio que eram desconhecidas a maioria dos produtores do ouro branco, cansado observava as pessoas indo e vindo e os escravos a trabalhar de maneira pesada.
No meio da tarde foram chamados, pois um escravo havia preso a mão em uma roda de moenda e desesperados para não perder o investimento do negro jovem, mandaram chamar Ramon que correu para atender o homem ferido, assim que chegou ao local viu a situação deplorável do rapaz e com olhar triste soube que teria que amputar o membro destruído pela engrenagem e assim foi feito.
Ramon, cansado e irritado, foi até o tio lhe deu a notícia da perda da mão do rapaz.
_ Até quando usará as pessoas como animais?
Perguntou o Ramon irritado já que estava cansado de ver a desigualdade entre negros e brancos.
_ Não, não acredito que pensas em igualdade entre negros e brancos!
Exclamou Lisboa apavorado com a ideia de que seu adorado sobrinho fosse a favor da libertação dos escravos.
Ramon olhou para o tio e percebeu que a mente do homem era tomada pelo preconceito amplamente difundido pela ignorância da igreja, que justificava a exploração do continente africano pela maldição feita por Noé ao seu neto cão.
Ramon percebeu que não adiantava dialogar com o tio já que ele não conseguia conceber o outro modo de vida, então decidido a modificar a sorte dos escravos olhou para o tio e falou:
_ Estive nas terras de Afonso e observei várias das técnicas utilizadas por ele no manejo com o povo negro e no trato da lavoura, poderíamos colocá-las em prática aqui aumentando assim a produtividade e diminuindo a perda de mão de obra.
Aquilo agradou os ouvidos de Lisboa que é muito ansiava ter domínio sobre as técnicas usadas pelo rival no comércio do ouro branco.
_ se me permitir as colocarei em prática imediatamente assim evitando novos acidentes.
_Vá e faça como viu na fazenda de Afonso.
Ramon sobre o olhar desagradável de Joaquim fez conforme observou na fazenda de Teresa e chamou o povo sofrido ao terreiro e começou a dar as boas novas e assim foi feito naquela semana a senzala foi destruída, e pequenas casas foram construídas ao longo da propriedade. Animais foram dados aos negros como forma de pagamento por seus trabalhos, os turnos de trabalhos pesados na moenda e manejo do caldo escaldante foram diminuídos, permitindo assim que homens descansados e atentos executasse a tarefa, evitando assim os acidentes fatais e perdas de membros.
Joaquim observava a ação do primo com inveja e tomou a decisão de modificar o seu proceder e para tal buscou observar atentamente as atitudes do primo com os escravizados e percebeu que ele tratava aquele povo como iguais, falando como eles, demonstrando simpatia as suas vidas miseráveis.
Ramon pediu ao tio a posse do escravo ferido o levando consigo para a cidade, o homem cabisbaixo andava ao lado de Ramon que estava montado em um cavalo assim que deixaram a propriedade Ramon pulou da besta e começou a caminhar ao lado do homem.
_ sei que já sofreu muito na vida, vou pedir a meu tio para lhe poupar da humilhação e do sofrimento de hoje em diante, considere-se um homem livre, viverás comigo até que aprendas a novos ofícios e a usar o topo de mão que lhe sobrou, após isso terá liberdade de ir e vir e de falar livremente comigo, não me veja como seu dono ou como seu senhor, mas como um amigo e protetor.
Falou Ramon ao jovem que o fitou assustado.
_então é verdade o que dizem sobre o senhor.
Falou Rapaz com um sorriso triste.
_eu não sei o que dizem a meu respeito, eu sei o modo como penso. Não vejo diferença entre nós pela cor da sua pele, o vejo como um homem igualmente dotado de capacidades e de sentimentos, lamento grandemente o modo como a sociedade os tratam, gostaria de poder mudar a sorte de seu povo, infelizmente não posso. O que está ao meu alcance, faço como cuidar das pessoas e tentar transformar a vida de todos para melhor.
_dizem que o senhor é um bom homem e que trata todos com carinho e respeito e vejo que eles dizem a verdade já que me tratou até agora como igual.
_ Qual é o seu nome?
Perguntou Ramon a ele.
_33.
Falou o homem com tristeza a abaixando a cabeça.
_meu tio chamava de 33?
Perguntou Ramon assustado ao perceber a crueldade feita ao homem pelo antigo Senhor.
_Sim, desde muito pequeno ouvia ele me chamar assim e até os meus companheiros, irmãos, me chamavam dessa forma.
Ramon indignado pensou na crueldade imposta aquelas pessoas que lhe era até negado o direito ao nome e a identidade e tocando o ombro do homem triste à sua frente falou:
_ Isso acabou meu amigo, escolha o nome que quer ser chamado e a partir de hoje terá ele como seu.
Emocionado, o rapaz fitou o homem bondoso, que esperava ansiosamente pelo nome que ele escolheria.
O rapaz pensou em vários nomes, mas um tocou o seu coração e com o olhar cheio de esperança falou:
_ Pedro, senhor, este é meu nome.
Falou com os olhos para verter lágrimas já que pela primeira vez teria o nome seu.
_ Pedro de hoje em diante meu amigo, estará ao meu lado para aprender um novo ofício que lhe possa sustentar, serei teu amigo e protetor e não tema que jamais levantarão a mão contra ti novamente ou será obrigado a trabalhar de forma árdua.
Pedro olhou aquele homem bom e ambos foram caminhando pela estrada conversando como se fossem amigos de longa data.
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Atualizado até capítulo 80
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