Marina passou o resto da manhã organizando o quarto de Teresa de modo a ter um conforto maior, já que a megera da madrasta da jovem a obrigava a dormir em um colchão de palha velho e fedorento. Estava trocando as roupas de cama e a limpar o ambiente insalubre com água quente e sabão quando batidas suaves se ouviram na porta.
Foi até ela abrindo a mesma dando passagem a um velho padre barrigudo que fedia suor. Que sujou o piso recém-limpo. Marina o fitou com desagrado, sentindo em seu coração que aquela figura vestia pele de cordeiro, sendo um lobo escondido.
_ O que quer aqui?
Disse a jovem sem simpatia. Jogando aos pés do homem um pano úmido para que ele executasse a limpeza da sola de suas botas.
Ignorando a solicitação silenciosa da garota começou a se mover pelo ambiente o observando com dureza, a cada passo o trabalho árduo de Marina se perdia. Finalmente ele parou a frente da jovem e com voz calma falou:
_ Fui chamado por dona Mercedes para expulsar o demônio que se apoderou de ti minha jovem.
A indignação tomou conta do ser da garota por instante, dando espaço para a troça, verbalizada por ela em uma sequência de gargalhadas que tiraram lágrimas dos olhos dela.
O sacerdote em pânico observava o ataque de riso da garota, tento realmente que ela estivesse possuída, e seu coração foi tomado pela culpa, já que não tinha autoridade nenhuma contra as forças das trevas pelos seus gastos pecados cometidos nas sombras.
Marina após se recompor sem emoção apontou para um banco para o velho se sentar e com voz tranquila falou:
_ O que ela lhe disse monsenhor?
_ Que está agindo de maneira agressiva e inapropriada essa manhã.
Marina sorriu e fitou o homem com dureza.
_ Ela lhe contou que me tortura desde a infância?
O homem ficou branco frente a fala franca da garota.
_ Ela lhe contou que quando desci as escadas hoje cedo para me alimentar ela me agrediu por estar comendo?
_ Não menina.
_ Sebastiana.
Gritou ela em segundo a governanta subiu as escadas correndo.
_ Conte ao monsenhor o que houve hoje de manhã.
A velha senhora, cansada de ver os abusos da madrasta contra a garota, fitou a figura do homem e falou:
_ Monsenhor, a menina diz a verdade. Estou cansada de ver esse demônio de mulher maltratar a pobre que vive a pão e água diariamente. Ela proíbe a menina de comer e de sair de casa, além de roubar as roupas da jovem e suas joias.
O homem dispensou a serviçal com um aceno e fitando a jovem a sua frente, falou:
_ Entendo sua mágoa, mas não justifica levantar a mão contra sua madrasta. Já que as escrituras dizem que devemos usar a vara como correção em atos de indisciplina.
A jovem o fitou com olhos duros e com voz tranquila falou:
_ Então quer justificar os atos errados de minha madrasta com as escrituras. Sendo que o senhor diz em provérbios, pai não irritem seus filhos. Em Matheus que devemos andar em amor. Ou as escrituras estão mentindo? Imagine se seus fiéis descobrem sua omissão frente a disciplina de uma madrasta malvada.
Disse ela levantando andando para janela.
_ Imagine se a suas ações chaguem aos ouvidos da rainha Maria que é grande conhecedora das escrituras.
Disse ela fitando o velho que soava frio.
_ És uma criatura muito astuta e de língua ferina.
Falou o homem limpando o suor da testa com um lenço.
_ E você um bufão manipulador e hipócrita.
Disse ela sorrindo.
_ Está possuída.
_Isso padre continue com o seu discurso mentiroso, me leve ao santo ofício e verá o que o inquisidor fará perante a sua omissão e mentira
O homem pálido olhou para ela assustado.
Marina marchou até ele e fitou os seus olhos e falou com voz baixa:
_ Se mantenha longe desta casa e de meus assuntos. Se não irei até o santo ofício o denunciar por suas ações corruptas. Sabe o que farão contigo não é! Imagine a fúria de meu pai, um dos maiores senhores de escravos e produtor de açúcar.
O homem pálido a fitava em pânico.
Com olhar de triunfo, fitou o velho com asco e marchou até a porta o expulsando.
Mercedes viu o homem descer as escadas apavorado.
_ O que houve monsenhor?
Perguntou ela assustada com agitação demonstrada por ele.
_ Ela é astuta como uma serpente e igualmente venenosa. Minha amiga torço para não ser picada por essa víbora.
Disse ele saindo em fuga alucinada.
Mercedes subiu as escadas e deparou com Marina encostada no batente da porta com os braços cruzados e com um olhar de desafio.
_ Acabou seu reinado de terror em minha vida.
Disse ela marchando até a mulher que tremia.
_ De hoje em diante fará o que digo ou todos os seus crimes chegaram aos ouvidos de meu pai, inclusive isso aqui.
Disse ela mostrando as cartas trocadas entre ela e um comerciante pobre.
_ Linda as juras de amor de vocês.
Disse a jovem com olhar impiedoso.
Marina colocou a mulher em dura disciplina alimentar, mandou tirar as cortinas pesadas de modo a iluminar a casa.
Na manhã seguinte desceu as escadas e encontrou a casa conforme o seu gosto. Marchou para a sala de estudo encontrando o seu professor que a aguardava com olhar duro de sempre.
Lembrou de cada fato que ocorreria naquela sala conforme a narrativa que havia lido no livro.
Marchou para o piano e não colocou as mãos nas teclas.
_ O que espera?
Perguntou ele irritado.
_ Não lembro das notas.
Disse ela meigamente.
_ És obtusa mesmo.
Disse o homem sentando ao seu lado, deixando a régua de madeira posta sobre suas coxas, abrindo a pesada tampa tocando nas teclas. Marina sorriu e fechou a tampa sobre suas mãos, o homem soltou um grito de dor.
_ Demostrar as emoções só irá motivar seu algoz a lhe ferir mais.
Disse ela ao homem pegando a régua sobre suas pernas, acertando seu ombro direito com violência.
Lágrimas de dor desciam por sua face gorducha.
_ Que isso, meu caro? Como pode ser tão fraco!
Disse ela acertando o seu outro ombro com força.
Lembrando de cada ato de abuso e crueldade cometidos por ele contra a pobre Teresa.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Souza França
"A Revanche"😡
2024-06-03
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