A sorte de Mercedes havia mudado, acostumada com a vida fausta sentia no corpo as dores do trabalho, as mãos outrora bem cuidadas e macias estavam tomadas de bolhas e cortes. Suas unhas estavam pretas de tanto manusear os panos imundos de limpeza e de arrastar os baldes cheios de excrementos do bordel para serem jogados no rio ou no mar. Recebia uma miséria por um trabalho tão pesado e não havia paz para ela que se via a cada instante sendo requisitada a todo instante a trabalhos humilhantes. Sentia falta de sua casa, da cama macia, dos alimentos abundantes e da vida de preguiça.
Mercedes observava as pessoas saírem da igreja com o coração apertado. A menos de um mês ela estaria lá com o marido, mas agora era uma miserável a mendigar o pão na rua. De longe avistou Afonso de braços dados com Teresa, o seu coração queimou de ódio pela garota que havia destruído o seu casamento egoísta, responsabilizava os outros pelas consequências de seus atos impensados, jamais se responsabilizaria por suas ações abusivas contra a menina desde que contraiu o matrimônio com seu pai.
Odiava a garota por ela ser um lembrete vivo da falecida esposa de Afonso que era doce e meiga, impedindo o homem de lhe dar amor, como deveria para conseguir casar com ele armou pesado esquema de sedução já que estava no auge de sua beleza e forma física. Mas não contava que o tempo não fosse generoso com ela que havia se transformado em uma megera aos olhos do marido que ela deixou de procurar na intimidade.
Sentia-se desprezada por Afonso, buscando satisfazer o seu coração nos braços do comerciante Coimbra, um português degradado pelos seus crimes em Portugal.
Lágrimas caiam de seus olhos ao observar de longe Afonso subir na carruagem ao lado da rapariga. A tristeza não era maior do que seu ódio e jurava que a faria eu pagar pela humilhação que vivia.
_ vamos logo o padre não me quer aqui.
Falou Jacira, uma cabocla da beira do rio que a fitava com os olhos preocupados já que o padre, a proibia de pedir esmolas na frente da igreja, pois ambas faziam parte do bordel à beira do morro na área mais pobre da cidade.
Mercedes caminhou ao lado da cabocla se sentindo o pior dos seres na terra já que por mais que buscasse meios para retornar a sua casa seu regresso era impossível devido às ordens de Afonso.
Tião, um dos escravos da fazenda, havia visto rondando o velho casarão em pedaços, comunicando ao patrão que mandou os jagunços a tirarem de lá a força, sobrando a ela somente o abrigo no bordel, mesmo lá era segregada por já estar velha e não ter atributos físicos para o ofício aos homens, sendo somente utilizada na limpeza pesada no lugar que fedia excrementos e a bebida barata. Jacira se apiedou dela, ajudando a se enturmar naquele lugar miserável, a protegendo das pessoas que queriam lhe fazer mal.
Jacira e ela correram para feira encontrando algumas comerciantes, comprando frutas e legumes e pães para consumir mais tarde a jovem de cabelos longos, pele avermelhada e boca carnuda sorriu remexendo os quadris para um dos feirantes que viu a oportunidade de satisfazer o seu desejo perverso a luz do dia. Jacira sinalizou para um canto da feira no qual as quitandeiras negras vendiam suas mercadorias com olhar triste, o homem chegou perto de Jacira lhe perguntou:
_ Quanto cobra para um aconchego em teus braços morena?
Perguntou ele abraçando a jovem por trás.
_Não muito caro, disse ela verbalizando o valor, o homem tomado por desejo depositou as moedas em suas mãos e ela sorrindo o levou para o final da rua onde executaram os ato no meio da mata voltando minutos depois.
O homem acenou para Jacira que sorria debochada indo em direção a Mercedes que a observava com pesar.
_ Por que me olha dessa maneira criatura?
Perguntou a moça guardando no meio da saia o dinheiro conseguido a pouco.
_você se vende por pouco.
Falou a mulher de maneira dura a jovem.
_E o que você pensa!
Exclamou a jovem jogando os cabelos negros longos de lado andando em direção ao pequeno casebre que dividiam.
_ posso lhe ajudar a conseguir um quarto no bordel que atende a corte.
Disse Mercedes com olhar astuto
_ eu não me vejo no meio daqueles homens perfumados e frescos, gosto da minha liberdade de ir para onde quiser, não ficarei presa a um quarto de luxo à espera de um pateta.
_ sua tola um dia a beleza irá passar e não terá ninguém para lhe amparar e o que fará quando a sua beleza acabar?
_ morrerei só isso.
Disse a jovem sem se importar com o futuro. Mercedes começou a preparar os alimentos quando batidas na porta a chamaram e para sua surpresa era o monsenhor que ele trazia uma cesta de alimentos e algumas moedas.
_ o que faz aqui?
Perguntou envergonhada já que o homem não era conhecido por visitar as pessoas pobres.
_ Não poderia deixar de lhe amparar, por anos foi a única que contribuía mensalmente com a igreja.
Disse o homem entregando a cesta a ela.
_ O que tem feito para ganhar a vida?
Perguntou ele entrando na casa insalubre.
_ Limpa o bordel padre.
Disse Jacira com deboche.
_ Que triste fim levou sua aventura amorosa.
_ Conversa com Afonso?
Perguntou ela que suplicou ao padre para que ele pedisse que Afonso a perdoasse.
_ Minha filha, ele não quer nem ouvir o seu nome. E a jovem Teresa sempre está ao seu lado. Espero que quando ela venha a se casar com Joaquim Lisboa as coisas melhorem e até Afonso a venha perdoar.
Mentiu o padre a mulher.
O sangue de Mercedes ferveu e ao olhar para a porta, viu Jacira em uma pose sensual com a perna de fora. Um plano maligno surgiu na mente da megera e sorrindo descobriu o meio certo para trazer sofrimento a Afonso e Teresa.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Alisa TorYos
Kkkkkk
Mas é tão burra que não percebe que está fazendo um favor a protagonista.
A não ser que usem ele de fantoche para seus planos malignos.
Aí ferrou.....kkkk
2024-06-23
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