Ramon observava o semblante abatido do primo preocupado. Conhecia o comportamento infantil dele de se privar do sono e de alimentos para manipular a todos com uma aparência sofrida. Sabia que o jovem mimado a ser atendido em todas as suas demandas e desejos tinha baixa tolerância a frustrações, achando que o mundo o deveria servir sempre.
Desde pequeno foi obrigado a ceder aos caprichos do rapaz, fato que lhe geração grande indignação até o dia que o tio lhe mandou para Espanha para cursar medicina e lá compreendeu que o mundo era bem maior do que pensava. A clínica médica foi uma escola de vida na qual aprendeu a reconhecer e lidar com o ser humano em suas distintas dimensões. Não era fácil conviver com Joaquim, mas o amava como um irmão e suas tolices eram passageiras, em breve ele conseguiria o desejo de sua alma, já que o pai dele faria de tudo para isso.
Joaquim estava calado deixando a dor corroer sua alma frágil.
_ O que houve entre você e a moça?
Perguntou Ramon segurando as rédeas do cavalo do primo que o olhou marejados.
_ Sou um infeliz!
Ramon, em silêncio, ficou olhando o rosto do primo.
_ Nunca lhe fiz mal, mas Teresa não me suporta. Não entendo os motivos que a leva agir assim comigo?
Disse o rapaz caindo em um choro profundo.
_ Existe mais nessa atitude dela, não é normal uma jovem agir de maneira tão mesquinha sem motivo.
Falou Ramon compreendendo que a jovem diferia das moças tolas da corte. Que se ela rejeitava o primo era por ter uma visão aguçada da realidade. Jamais falaria a Joaquim o que pensava, já que o rapaz só ouvia os elogios, a sua pessoa, ficando irado ao ser confrontado com suas falhas.
_ Ela me chamou de preguiçoso e que jamais casaria comigo.
Ramon calado olhou para a estrada e de maneira calma falou:
_ Será que ela não tem motivos para achar isso?
Perguntou de maneira delicada para o primo. De modo a fazer o jovem a refletir sobre a vida de preguiça que levava por anos.
Joaquim observou o primo com fúria.
_ Não necessito trabalhar já que meu pai é um homem rico, herdarei tudo após sua morte.
Ramon nada disse e seu silêncio foi uma provocação velada para Joaquim que indignado fitou o outro.
_ Diga de uma vez o que pensa!
_ Creio que minha fala pode lhe trazer maiores dissabores. Por isso prefiro me calar.
_ Diga de uma vez!
_ Então me ouça como um homem não como um infante mimado.
Aquelas palavras cortaram a alma do outro que o fitou com olhar magoado
_ Diga.
_ O seu pai é rico, não você. Após sua morte o que fará com os seus negócios? Se não souber administrar o que lhe é por direito irá falir em pouco tempo. És um preguiçoso que vive a dormir e a farrear até tarde. O que tem para oferecer a ela além do que enfado e uma vida de ruína futura.
Aquelas palavras cortaram a alma de Joaquim, atingindo seu ego frágil, o fazendo a pensar nas próprias atitudes, lhe trazendo inquietação e desespero. A preocupação queimou pela primeira vez em seu ser e balançando a cabeça, tentou a todo custo afastar aquela inquietação de seu coração. Com voz forte falou:
_ Como pode falar comigo dessa maneira?
Perguntou Joaquim com ódio.
_ Lhe disse a verdade, nada, além disso.
_ Para você é fácil falar, já que nasceu pobre e só teve a sorte de ter meu pai como padrinho que na morte de seus pais foi obrigado a assumir a sua tutela, lhe dando estudo e meios para ganhar o pão.
Ramon fitou o homem por alguns instantes, compreendendo atitude dele que buscava lhe diminuir por sua origem humilde.
_ Por nascer pobre não me faz menos que ti. Tenho pena de quem julga o outro pela sua própria mesquinhez. Não sou eu que estou arriscando perder a mulher amada pela preguiça.
Disse Ramon ao outro que saiu embalado em carreira com o cavalo. A nuvem de poeira demonstrava a alta velocidade do jovem ao deixar o primo para trás e como as palavras ditas por ele haviam abalado seu coração frágil e egoísta. Desde muito cedo Joaquim tentava o menosprezar e suas conquistas mais simples, tentando provar a todo custo que era superior a ele. Não compreendia aquelas atitudes.
Ramon balançou a cabeça com preocupação, sabia que ao chegar na casa do tio um cerco estaria armado para ele. Joaquim era um tolo que acreditava que o mundo devia lhe servir em todas as suas vontades.
Decidido, marchou para uma pousada alugando um quarto para sair do domínio do tio. Estava cansado de lidar com as atitudes mesquinhas e infantis, já que era um homem e não precisava viver aquilo.
Voltando para casa encontrou o velho Lisboa a sua espera com preocupação.
_ O que houve com você, rapaz?
Perguntou o homem o abraçando com carinho na frente da casa.
_ Meu tio, acabei de atrasando, pois, fui buscar uma nova moradia.
_ Qual o motivo disso?
Disse o velho se afastando do rapaz com olhar magoado.
_ Consegui clientes entre os fazendeiros e pobres. Sou um dos poucos que atende os escravos e os miseráveis das ruas. Podem me chamar na alta madrugada, atrapalhando o repouso de todos. Não quero trazer esse transtorno ao seu lar.
Sorrindo, o velho observou o rapaz com carinho, tinha nele um filho de seu coração.
_ Então escute, vou mandar arrumar a casa do centro para poder viver lá.
_ Tio não se zangue comigo. Quero começar minha vida com a força de meus braços. Já fez muito por mim, agora é a minha vez.
O homem orgulho ficou do rapaz e segurando os seus ombros sorriu.
_ Está certo meu filho. Um homem deve começar com suas próprias forças, pois, no futuro, saberá o preço que pagou para alcançar o sucesso.
_ Estou aliviado por ter me entendido.
_ Venha o jantar está à nossa espera.
Disse o velho abraçando o rapaz entrando pela pesada porta de madeira.
_ Joaquim observava a cena com o coração a queimar de inveja da relação do primo com o pai.
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Atualizado até capítulo 80
Comments
Souza França
parecendo as dispeitada invejosas!!😡😡😡
2024-06-03
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Souza França
" mariquinhas "!😡
2024-06-03
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