Afonso partiu da fazenda assim que amanheceu, levou Tião com ele para entrega da safra de açúcar no Porto. O negro sabia que o patrão tramava algo para manipular a vida da filha. Conhecia bem aquele homem e seu modos operantes para obter tudo que queria. Pedia aos céus para não ser nada de mal para a sinhá que era um anjo encarnado dando aos escravos esperança de dias melhores e uma vida sem sofrimentos. Seus irmãos e irmãos tinham alegria em cuidar de suas pequenas casas e animais. Guardavam algumas moedas graças a venda de seus produtos. As quitandeiras vendiam seus próprios legumes e pequenos animais comprando tecidos para fazer suas próprias roupas e de seus filhos. Não havia mais dor ou pranto na fazenda Boa Esperança que agora era um lar para eles, não sua prisão.
Tião pensava ao descarregar as cargas de açúcar no Porto para serem transportados para além do mar. Os homens trazidos por Afonso executavam o trabalho em ritmo rápido em sincronia, levando ao inglês que havia encomendado a compra a satisfação plena pela eficiência da equipe de trabalho de Afonso. Dando ao fazendeiro a fama de eficiência e pontualidade, fato muito valorizado pelas nações amigas que compravam em grande escala de Afonso.
Após embarcar o ouro branco rumou para o barracão de Lisboa no qual eram vendidos de tudo, inclusive escravos.
Viu homens e mulheres amarrados ao tronco e crianças a chorar. Tião, com o coração apertado, pensou no quanto era abençoado por ter uma sinhá que os protegiam daquela sorte. Aliviado percebeu que o patrão estava enfurecido com o dono do local e que não ia vender nenhum dos seus escravos como prometido à filha, calado ficou a observar o dono com olhos assustados.
Afonso foi até o balcão de madeira e bateu com a mão sobre ele, assustando Lisboa, que o fitou angustiado.
_ Proíbo teu filho de ir às minhas terras sem minha permissão.
Falou Afonso enfurecido.
_ Acalme amigo, o rapaz só fez uma singela visita.
_ Ele força os limites que estipulei se algo acontecer a responsabilidade é sua.
Disse Afonso virando as costas para o comerciante.
_ Ele se enamorou por sua filha, vamos firmar esse compromisso e parar de desavenças.
Falou Lisboa sério.
Afonso se virou para o homem e com voz calma e fria falou:
_ Jamais casarei minha filha com um preguiçoso que vive em vida fausta. Meu genro será um homem trabalhador e sensível às necessidades de minha filha. Teu filho é um homem arrogante e fraco e não o quero para genro.
Lisboa branco como um papel fitou o homem a sua frente.
_ Como ousa falar assim!
Exclamou ele indignado.
_ Digo a verdade. Seu filho é um parasito na corte que caiu nas graças da princesa devassa da Espanha Carlota Joaquina. Às más línguas dizem que ele se deita com a velha nas praias desertas. Como casar minha flor de menina com um homem devasso e preguiçoso.
Disse Afonso saindo porta afora com o coração leve.
Lisboa correu para saber se o homem dizia a verdade e para seu desespero ele estava certo
Cansado foi para casa e lá ficou trancado em seu escritório pensando em uma maneira de mudar a reputação do jovem a firmar aquele acordo. Precisava da jovem para se aproximar do príncipe regente Dom João já que com isso expandir seus negócios para as colônias.
No cair da noite havia chego a uma conclusão e irritado mandou chamar o filho a sua presença.
Joaquim foi chamado pelo pai a seu escritório, bateu a porta de madeira e entrou com os ombros curvados.
Lisboa olhou para o rapaz e a luz da vela refletiu nos olhos do jovem seu ânimo abatido, o pai constatou a fraqueza de caráter que lhe corroía.
_ Sente-se.
Falou o pai apontando para a poltrona à sua frente.
_ Papai…
_ Calado!
Falou o homem de forma imperativa ao filho que se encolheu perante a fúria dele.
_ É hora de mudar seu proceder e modo de viver. Soube de suas aventuras na corte recém-chegada. De como tem se deitado com a princesa da Espanha.
Joaquim ficou pálido perante a fala do pai e calado permaneceu, jamais imaginaria que ele descobriria sua pequena travessura.
Lisboa fitou o rapaz formoso e constatou haver errado grandemente em sua criação. E que era tempo de modificar esse erro, mudando atitude com ele.
_ Escute que a partir de hoje está proibido de ir às festas na corte. Estará de pé antes das raiar do dia. Passará a trabalhar comigo diariamente e sem se queixar. Ou o mandarei para Costa do Marfim no trato com os negros.
Joaquim fitou o pai em silêncio e assim permaneceu. Sua vida iria mudar e isso o apavorava, suas mãos lisas estariam cheias calos em dias.
_ Agora vá e não me cause maiores desgostos.
Joaquim saiu como uma bala do escritório do pai correndo para o quarto passando por Ramon que seguia para lá.
Ramon bateu na porta e ouviu a voz fraca do tio.
_ Entre.
Com passos rápidos viu o homem cansado a observar.
_ O que houve meu tio?
Perguntou ele preocupado ao fitar o homem.
_ Errei muito na criação do meu filho. Não o tratei como você que foi ensinado desde cedo a trabalhar.
O homem narrou a Ramon tudo que havia se passado com Afonso e a descoberta do envolvimento do filho com a princesa devassa.
Ramon levantou deu a volta na mesa e tocou no ombro do tio.
_ Acalme o coração. Ainda a tempo de modificar a sorte de Joaquim.
Lisboa segurou a mão do rapaz e sorriu.
_ Pelo menos contigo não errei, és um homem bom e trabalhador.
Ramon sorriu e fitou os olhos do tio.
_ Devo isso a tua disciplina e cuidado. És um bom pai, somente errou a medida do amor dado a Joaquim. Saberá mudar a sorte do rapaz.
Joaquim, que espiava pela porta, se encheu de ódio por Ramon, que era admirado pelo pai.
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Atualizado até capítulo 80
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