Afonso estava sentado à frente de Marina com olhar cansado. Aquele dia tinha sido longo como anos de uma existência inteira. O remorso corroía a sua mente. Sua consciência o cobrava de todas as ações malignas contra Teresa e como havia sido conivente com tudo, sem impedir. Como havia conseguido negligenciar uma criança que devia receber dele amparo, amor e proteção. Com o coração a queimar olhou nos olhos verdes da jovem e com voz fraca falou:
_ Lamento por tudo que lhe fiz passar esses anos.
A honestidade dele não derrubou a determinação de Marina que comparou aquele homem cruel, frio e mesquinho com o seu pai, que era um homem cheio de amor, que apesar da pobreza fez de tudo para lhe dar oportunidade de vida, sem negligenciar suas obrigações paternas, chegando todos os dias do trabalho no amanhecer, após pernoitar a trabalhar na montadora de carros. O homem fazia questão de tomar café com ela, levá-la na escola e a buscar e fazer todas as refeições com a família, além de participar de sua vida de forma ativa, sendo protetor, guia e exemplo de homem forte e pai. As lágrimas brotaram dos olhos da jovem que comparava mentalmente as figuras paternas e observando os olhos escuros dele. Na sua opinião, não havia perdão para sua atitude mesquinha para com a filha, mas a vida não era sua, mas de Teresa e sabia que tinha que organizar a vida da jovem para voltar para sua. Ansiava voltar para sua realidade. Ver seu pai amado no sítio a plantar suas alfaces e colher seus milhos.
Respirando fundo falou:
_ O que passou não pode mudar, apenas agir de maneira diferente daqui para frente. És um homem frio e cruel, não posso negar. Não me amas e nunca vai me amar. Mas para minha infelicidade és meu pai, meu guardião perante a lei e sociedade.
Marina assustada colocou a mão na boca já que não era ela, mas Teresa que por um instante tomou a liderança daquele corpo. Os olhos da jovem se arregalaram já que sentiu o anseio desesperado da jovem Teresa em mostrar ao pai o quanto ele havia lhe ferido em diferentes dimensões.
O homem pálido a frente da garota sorveu o fel das palavras ditas, atingindo o coração dele, derretendo a barreira da indiferença e egoísmo.
Afonso, tomado pela culpa, observou o rosto lindo da filha e falou:
_ Serei para ti o que nunca fui. Agi de maneira cruel e mesquinha contigo por todos esses anos, mas farei de tudo para lhe provar minha estima de hoje em diante.
A determinação tomou conta do coração dele, que não mediria esforços para se redimir com a jovem.
Batidas na porta chamaram atenção de pai e filha.
Afonso levantou da cama e foi até a porta, encontrando Sebastiana agitada.
_ Senhor perdoe e que a senhora acabou de chegar.
Disse a mulher agitada.
_ Venha.
Disse ele indo até Marina segurando a mão da filha e ambos desceram as escadas encontrando Mercedes apavorada, que assim que os viu de mãos dadas ficou em pânico.
_ Onde estava?
Perguntou o homem soltando a mão da filha indo em direção a esposa segurando o seu braço.
_ Estava na igreja a rezar.
Disse ela angustiada.
_ Tião.
Gritou o homem e pela porta entrou um escravo que tirou o chapéu e falou:
_ Senhor.
_ Vá à igreja e traga o monsenhor nem que seja a força.
O homem saiu pela porta como uma bala, voltando cerca de uma hora com o monsenhor que fitou o poderoso fazendeiro pálido.
_ Essa mulher estava em sua igreja? Diga a verdade ou eu mesmo o denunciarei ao santo ofício. Minha filha já me contou a conversa que tiveram a um dia.
O homem pálido olhou para mulher que estava em pânico como a pedir desculpas e falou:
_ Não senhor.
Pela porta foi trazido um homem amarrado que assim que olhou a mulher a mesma veio a desespero.
_ O que é isso?
Perguntou o padre em pânico.
_ Esta mulher é adultera. Traidora mantinha um caso com esse comerciante enquanto torturava minha filha.
Disse o homem com olhos duros jogando as cartas de amor trocadas entre o casal.
_ Meu Deus.
Disse o padre lendo uma das cartas.
_ Que loucura fez Mercedes!
Exclamou o homem fitando a mulher que de joelhos se prostrou ao pé do marido.
_ Perdão, perdão.
Clamava ela sabendo da pena para traição.
_ Tenha misericórdia dela.
Disse o padre sabendo que pela lei o marido traído podia matar a mulher e o amante.
Afonso tirou da bengala de marfim um sabre de prata e com olhar vazio furou o peito do amante da esposa que aos berros ficou.
Afonso foi até a frente da mulher traidora e acertou sua face com um tapa.
_ De hoje em diante o repúdio perante os homens e Deus. Viverá como a meretriz que é.
Não tem direito aos meus bens e o seu pequeno dote me é por indenização.
Disse o homem arrastando pelo braço a jogando no terreiro a vista de todos.
Os escravos observavam a cena horrorizados.
_ Escutem todos de hoje em diante essa víbora está proibida de pisar em minhas terras. E caso ela tente fazer isso pagará com a própria vida. A você, monsenhor, leve consigo se não a matarei como fiz com seu amante.
O padre desceu as escadas a casa grande e pegou o braço da mulher que chorava ao chão.
_ Levante minha filha antes que ele faça valer o seu direito de tirar a sua vida.
Mercedes fitou Tereza com ódio e pensou, pagará com lágrimas de sangue o que me fez víbora.
Afonso entrou na casa e fechou a pesada porta de madeira olhando para filha falou:
_ Novamente lhe peço perdão por ser um péssimo pai ao lhe entregar aquela megera.
Disse ele abraçando a filha com amor.
Marina sentiu a dor de Teresa e sei desejo de ser amada e amparada pelo pai. Apesar de sua raiva por ele, não podia perder a chance de reparar a relação entre pai e filha.
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Atualizado até capítulo 80
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