Ametista despediu-se de todos prometendo voltar sempre que pudesse, afinal, ela tinha clientes ali. Eles foram para casa de uber, já que ela poderia pagar dessa vez e a corrida não deu muito caro. No caminho, Mike olhava para Ametista que olhava para fora pensativa.
— Está pensando em quê?
- Nada. Nada demais.
- Não acredito.
— Não me surpreende.
— Você não estava assim antes.
— a minha casa não é luxuosa. Espero que se sinta a vontade lá.
— Por que não me sentiria?
— O carro em que você estava era importado. Eu vi a cara que fez para a roupa que o Dr. Paulo lhe emprestou. Eu moro na favela, Mike.
Mike se encostou no banco e não disse mais nada.
Eles chegaram na casa dela e ela logo abriu a porta para ele. Ela não queria atenção para si, ainda mais com um homem em casa. Ametista jogou as bolsas térmicas num canto da sala e caminhou até Mike para mostrar a casa.
— Bom, aqui fica a sala e a cozinha, o banheiro logo ali atrás da cozinha e o quarto fica logo lá atrás do banheiro. Só tem um quarto então teremos que dividir. — Ametista apontou numa única direção para o lugar simples e aconchegante. Uma pequena casa que a sua avó lhe deu de presente depois que ela se formou.
— Gostei da sua casa.
— Obrigada. Vou tomar banho, estou trabalhando desde cedo. Fica a vontade, a casa é quase sua. — Ela correu para o quarto e fechou a porta sem saber bem como falaria com ele. O assunto era delicado. Então ela foi para o banho.
Mike sentou-se no sofá e ligou a TV. Estava aberto num aplicativo de ‘streaming’ com um filme por assistir. Ele achou graça do filme romântico e procurou outro para ver. A sua cabeça começou a doer e ele encostou no sofá fechando os olhos.
As memórias vinham e iam em ‘flashes’ indefinidos. Seu corpo começou a tremer incontrolavelmente e ele desmaiou. Ametista terminou o seu banho e foi ver como Mike estava e correu para o sofá quando o viu suando frio e tremendo.
— Hey, calma, calma. Eu voltei Mik, estou aqui. Nada pode te ferir aqui, ninguém mais pode te ferir.
O corpo dele foi se acalmando e ele chamou novamente o nome da tal Natasha, mas dessa vez não havia sentimento algum em sua voz. Ela foi pegar a receita médica e ligou para uma farmácia para que entregassem a medicação em casa, não queria arriscar dele passar mal com ela na rua.
Ela deixou Mike descansando no sofá e foi preparar algo para eles comerem, não muito tempo depois a campainha tocou e os remédios chegaram. Ainda olhando o homem no sofá, ela foi atender e o entregador era Juninho, um de seu quarteto.
— Porra, só assim pra te ver, hein!
— Ah! Nem fala. Tô trabalhando muito.
— 'Cê tá doente, aconteceu algo?
— Não... por quê?
— Remédio...? — Juninho apontou para a sacola.
— Ah, é pra um amigo... e algumas coisas de mulher.
— Amigo? E por acaso tu tem algum amigo que eu não conheça? Porque eu acabei de passar pelo bonde e não tem ninguém doente.
— E não posso ter?
— Ficou nervosinha por quê? Hãããã, tá de rolo e não quer contar, né?! Mais cedo ou mais tarde a gente vai saber, querida Linn!
— Vai trabalhar, bicha!
Ametista sorriu batendo nos ombros do amigo antes dele dar partida em sua moto e fechou o portão. Ao entrar na casa ela viu Mike na cozinha.
— Ei, o que você está fazendo?
— Ajudando a terminar o jantar.
— E você sabe o que eu vou cozinhar?
— Algo com batatas!
— Será que cê é assim mesmo?
— Assim como?
— Esquisito... sei lá!
— Não sei, pode ser.
Ametista pegou as batatas cozidas e tirou da água olhando de soslaio para Mike que não parecia precisar de ajuda para preparar a carne. Eles trabalharam muito bem juntos e terminaram o jantar bem rápido, após, sentaram para comer em silêncio, mas Ametista não conseguiu não falar, pra variar.
— Você não se lembra mesmo o que houve com você ou quem é?
— Não. Você ia me dizer, não?
— Quer mesmo saber o que fizeram contigo? Eu não sei muito, cheguei na metade. Mas posso dizer que foi bem pesado.
— Preciso saber de qualquer maneira.
— Antes, uma coisa. Por quê veio comigo?
— Não sei, achei que devia.
— Ok. Quer sobremesa? Agora 'cê pode comer o bolo.
Ele acenou que sim e ela pegou dois bolos no freezer. Um prestígio e um maracujá. Ela entregou o prestígio para ele e jogou-se no sofá ao lado dele.
— Flocos?
— Não. Prestígio, não gosta?
- Qual é o seu?
- Maracujá.
Mike pegou um pedaço do bolo dele e depois um do dela e comeu.
— Ooou, vale isso? — Ametista o empurrou, mas ele não se mexeu. — Ai meu braço!
Ela achou que ele estaria fraco depois de tanto tempo inconsciente, mas o homem ainda parecia uma rocha perto dela.
— Isso tá ótimo! — Ele fez a combinação outra vez e deu a Ametista que não queria, mas logo comeu e surpreendeu-se com o sabor que ficou. Eles comeram e repetiram vendo um filme qualquer.
— Pior que ficou bom mesmo! Isso me deu ideias... — ela dançou feliz no sofá.
— E então...
— Vamos lá. — ela suspirou e começou a contar o que viu. — Resumindo, estava caindo um temporal e eu tive que ir pra casa andando, passei por uma rua diferente e ouvi uns gritos. Fui até onde estava vindo o som e vi você sendo espancado por dois homens enquanto um casal olhava e ria da sua cara e transavam na sua frente. Eles te bateram muito, Mik, muito! No fim de tudo ela te esfaqueou e eles atearam fogo no seu carro com você lá dentro. Eu esperei eles saírem e corri pra te tirar de lá.
— Você, desse tamanho, me tirou do carro, sozinha?
— Sim. Pra tu ver o desespero, menino!
— E... foi aí que soube o meu nome... Ouviu mais algum?
— Sim. Erik, era o nome do homem que estava com a mulher.
— E a mulher?
— Não falaram. Mas... você a chamou muitas noites enquanto estava em coma. Então acho que é Natasha.
— Por quê acha isso?
— Porquê... O tal do Erik disse: "... agora eu tenho tudo que era seu. Sua mulher, sua casa, sua empresa…" e ela disse "... ele é melhor que você em tudo. Nos negócios e na cama." Eu tive pesadelos com aquele dia e não foi legal. Imaginei o quão mal você estava, estando diretamente na situação. Não podia deixar você sozinho. Fiquei com medo que lhe procurassem para terminar o serviço quando percebessem que o seu corpo não foi encontrado e fiquei com você até... agora.
Ele se sentiu aquecido por dentro. Ela pensava mesmo que poderia defendê-lo na situação que ela relatou. Se viessem atrás dele, a matariam. Ele seria alvo fácil inconsciente e ela seria prejudicada por um estranho sem memória.
— Quando tempo fiquei desacordado?
— Seis meses e duas semanas! Ah! Alguém te ligou àquela noite.
— Quem?
— Era... era... calma aí, como era mesmo? — Ela ficou estalando os dedos para lembrar. — Eli... É, isso! Elias, era esse o nome! Me surpreendeu que consegui ouvir e mais ainda que tu conseguiu falar. Você disse a ele: "xeque-mate" antes de desligar e desmaiar outra vez.
— E onde está o celular?
— Guardei com uma chave e um pen-drive que tu me deu antes do tal Elias ligar. Quer ver?
— Não... não faz sentido ainda.
Ela então recolheu todo o lixo da mesa de centro e foi lavar a louça deixando Mike alí pensativo.
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Atualizado até capítulo 207
Comments
Ivanete Oliveira
q história linda
2023-05-10
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