Os gritos da torcida ecoavam palavras ininteligíveis, todos vibravam por Mike que era a grande estrela do dia. Ele estava indomável, a todo tempo via o rosto de Erik em cada adversário e isso o motivava. Mike era tão habilidoso que quase não tinha hematomas, lutava desde criança para controlar o pequeno distúrbio nos nervos e o ajudou muito a se auto disciplinar.
Ele raramente saiu do controle durante sua vida, mas precisava soltar a fera adormecida que foi despertada da pior maneira. Ele precisava quebrar algumas pessoas mas preferia que elas quisessem fazer isso voluntariamente, era aquilo que ele adorava ao frequentar lutas clandestinas. Os homens que ele enfrentava eram sádicos por esse tipo de adrenalina.
O clube ficava no subsolo da boate de um dos donos do lugar e organizadores dos encontros. Era frequentado apenas pela elite da cidade, portanto, não era autorizada a entrada de eletrônicos para manter a discrição e a privacidade dos clientes, que financiavam e mantinham o local seguro de qualquer incômodo. Elias teve que usar suas habilidades para entrar no local com um computador.
Os homens se esmurravam e gritavam e o cheiro de sangue, suor, cigarro e bebidas pairava no ambiente escuro. A atmosfera era feroz, eletrizante e insana. A cada golpe, a ovação do público atingia o ápice da excitação. Mike derrubou o último adversário com um soco certeiro, o homem estava mais que debilitado e caiu feito fruta madura. Com aquele já eram quatro e a luta acabou.
Os gritos ficaram mais altos mas Mike não ouvia, ele estava em transe. Ele só queria que aquela dor parasse e achou que socar a cara de alguns idiotas quase até a morte iria aplacar sua fúria, o que de fato amenizou, mas não diminuía a dor de saber que havia sido traído. A sensação era como se uma navalha tivesse cravada entre a carne e seu coração, incomodando e ferindo mais a cada movimento que fazia.
Ele não sabia como iria olhar para as caras de Erik e Natasha sem perder o controle e desmascará-los. Dispensando os próprios pensamentos ele saiu do ringue sem dar atenção a quem o chamava e foi em direção ao vestiário.
Elias o seguiu com seu laptop satisfeito com seu trabalho. Ele havia concluído sua parte do plano com maestria e estava ansioso para ver o resultado. Ele não sentia nenhuma empatia por Natasha ou Erik, eles sempre o desprezaram.
Antes de conhecer Mike, Elias era um homem inseguro de sua aparência, franzino e desajeitado que entrou na empresa por sua genialidade com números e computadores, ele era o terceiro cérebro da empresa desde a ascensão de Mike a presidência do Grupo.
Sempre que podia, Erik arrumava um jeito de humilhá-lo ou deixá-lo constrangido no ambiente de trabalho, até o dia em que Mike estava presente e repreendeu o amigo por suas atitudes. Eles conversaram um pouco e logo se aproximaram, o que deixou Erik mais hostil com ele, mas na frente do amigo ele fingia ser cordial. Então Mike não tolerava discussões.
Elias começou a ter noção da beleza que tinha e que exercitar o corpo não era tão ruim se ele aplicasse o que gostava no treino. Ele mudou muito desde então. Começou a treinar com Mike, estava mais comunicativo e charmoso, mudou o estilo, o cabelo... e Natasha percebeu. Ela tentou seduzi-lo uma vez, ele sentiu nojo, mas não podia falar nada até ter provas de que ela fazia isso com outros.
Agora ele tinha.
Elias encostou numa parede no canto do vestiário com os braços cruzados e sua bolsa para laptop no ombro, observando Mike se trocar sem nenhuma expressão em seu rosto. Ele sabia que o amigo estava quebrado por dentro e por mais que ele tentasse ajudar, só o tempo seria capaz de curá-lo.
--- Mike, terminei!
--- Ótimo.
--- Cê tá bem, cara?
--- Por quê não estaria? Você terminou, não foi?
--- Sim, daqui a um mês eles terão uma surpresa.
--- Se algo der errado e eu não voltar, você assume. Me ligue hoje a depois da meia noite e espere pelo código. De uma forma ou de outra ele vai chegar até você. --- Mike disse tudo calmamente enquanto abotoava sua camisa. --- o plano vai continuar com ou sem mim. Já está tudo documentado e preparado para ser executado. Também terminei, Elias. --- Mike se virou e olhou para o amigo --- Se me der licença, tenho um jantar para ir.
Mike saiu sem dar tempo para Elias responder, apenas bateu a porta o deixando lá, perplexo.
...***...
Mike deixou o clube e dirigiu para casa normalmente. Chegando no condomínio, viu Natasha falando com um segurança e deu de ombros, nada demais. Ela avistou o carro de Mike e dispensou o homem que voltou ao seu trabalho imediatamente.
Ela estava tentadora num vestido azul marinho justo com um decote em 'v'. Os cabelos perfeitamente arrumados em camadas onduladas até os ombros; já pronta aguardando o marido e ansiosa pra saber o que Erik iria fazer. Ele não lhe deu detalhes das mudanças.
Mike saiu do carro e ela foi até ele com o mesmo sorriso de sempre, ele sentiu asco. Como ela podia ser tão dissimulada? Estava com o amigo dele mais cedo e agora o olhava como se tivesse sentimentos por ele.
Foi quando se lembrou que ela queria ser atriz quando se conheceram e decidiu deixar tudo de lado para se casar com ele, mesmo que ele dissesse a ela que seguir seus sonhos não afetaria seu casamento.
Eu sou um completo idiota ou ela é uma vagabunda sem caráter? Ele se questionava enquanto a olhava se aproximar dele.
--- Scott, o que houve com você? Você está bem?
--- Sim, querida. Só estou cansado do treino. Peguei pesado hoje. Ainda tive três daquelas reuniões cansativas.
--- Quer cancelar o jantar? Você ainda vai se matar de tanto que treina.
--- Não. Só vou tomar um banho. 15 minutos e a gente sai, ok?!
--- Tudo bem.
Natasha segurou o rosto de Mike e o beijou. Ele não queria beijá-la mas não resistiu ao avanço sensual dela, que se esfregou nele o deixando duro enquanto o beijava. Ele quase se entregou ao desejo de possuí-la alí mesmo, o vestido era curto e ela estava sem meias, mas não. Ele a afastou mesmo com dificuldade, buscando em sua mente o motivo para afastá-la pra sempre de sua vida, mente e cama. Ele não iria ceder ao charme dela; não era como uma briga boba de casal, não mais.
--- Vamos nos atrasar, podemos terminar isso na volta. --- ele sorriu e a beijou.
--- Hum... me surpreenda.
--- Com certeza, vou!
Eles entraram em casa e Mike subiu para o quarto para tomar banho. Como estava excitado, assim que a água começou a cair sobre seu corpo ele se aliviou no chuveiro; não tinha pensado naquilo desde que se casou, mas aquele não era o momento de se jogar entre as pernas da mulher que o esperava no andar de baixo, então terminou seu banho, se arrumou e saiu. A noite seria longa.
Ao descer, encontrou Natasha bebendo vinho frente a grande janela que dava para o jardim, olhando para fora pensativa. Ela não estava bebendo, na verdade era apenas uma isca para ele, que sempre bebia um pouco do vinho dela antes de saírem. Por isso seria fácil droga-lo.
Ele não tinha motivos para desconfiar dela, não é?! Mike era um brutamontes e ela já o tinha visto em ação, não seria fácil derrubá-lo se ficasse com raiva, então ela mesma tratou de resolver esse detalhe para Erik. Uma dosagem alta de ansioliticos e Mike seria como um rinoceronte sedado.
Ele não queria chegar perto dela mas não iria quebrar a regra para não gerar desconfiança, então pegou a taça de vinho e bebeu um gole considerável antes de beijá-la no pescoço. Imediatamente pensou em como Erik fazia o mesmo e logo se afastou consternado; não tocaria mais em algo que outra pessoa têm tocado, era possessivo com o que tinha. Dividir sua esposa não era o que desejava. Ele escolheu errado e pagaria por isso, mas não pagaria sozinho.
Mike até sentiu o vinho mais forte que o habitual mas não deu importância. Estava concentrado em não perder a compostura e acabar com seu plano. Que era até sutil demais para a canalhice dos dois.
--- Vamos? --- ele largou a taça de vinho na mesa ao lado e estendeu o braço para Natasha.
--- Vamos. --- ela segurou o braço dele e saíram.
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Atualizado até capítulo 207
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