Já era uma da manhã e Ametista estava terminando de limpar a cozinha cantarolando como sempre fazia quando ouviu um barulho. Ela não queria ir olhar, não mesmo. Tinha amor a própria vida, então terminou de lavar as últimas panelas, limpou as bancadas e tratou de fechar tudo o mais rápido que pôde. Não queria dar de cara com nenhum espírito num lugar cheio de facas.
A cozinha ficou finalmente organizada e Ametista foi até o corredor do escritório para desligar os interruptores e deixar as chaves. A porta dos fundos só abria por dentro então ela não precisava se preocupar com chaves ali.
Ao passar pela porta do escritório, viu que a luz estava acesa e o gerente ainda estava lá. Ela achou estranho, pois Antônio nunca, literalmente nunca ficava até tarde no restaurante. Ele atribuía as suas funções a Clermont e depois conferia os relatórios. Mas ele estava ali. Ametista decidiu apenas seguir o seu caminho, mas ouviu o seu nome ser chamado.
Ela não queria saber o que ele queria, ele a olhava de um jeito que a deixava desconfortável. Estava chovendo o mundo lá fora e ela teria que ir para casa andando; uma conversa a sós com seu gerente não era nada animador àquela hora.
Ela desembrulhou o celular da sacola plástica e colocou para gravar apenas por precaução. Nunca se sabe o que pode acontecer e mesmo com câmeras no corredor, ele teria acesso às filmagens e poderia apagá-las. Então ela colocou o celular na cintura e deixou a sacola no chão perto da porta de saída entreaberta.
— Ametista, eu sei que ainda está aí. Venha aqui, agora! — a voz dele ecoou no vazio do corredor novamente a assustando.
Ele sabia que horas ela saía diariamente, a estava observando e esperando a oportunidade para abordar a moça.
Ela engoliu em seco e caminhou até a sala. Cada passo parecia uma eternidade, ela percebeu estar com medo e suando frio. Mesmo assim parou na frente da porta e a abriu. Antônio estava sentado de cabeça baixa atrás de sua mesa. Ele era moreno, com olhos castanhos, porte médio e tinha uma cicatriz no braço.
Não estava impecavelmente arrumado como de costume, o seu cabelo estava bagunçado revelando os seus cachos castanho-claro. A gola da camisa estava aberta mostrando um pouco de pele... se ele estivesse na Itália, poderia ser facilmente confundido com um membro da máfia se o vissem naquele momento. Era o mais velho dos funcionários e mesmo assim se mantinha em forma, ele não era feio, nem lindo, mas era muito, muito vaidoso.
— Entre. — ele apenas acenou com os dedos para ela.
— Sr. Sattori, eu preciso ir. Está tarde e... — ela entrou desconfiada.
— Temos uma vaga para subchefe de cozinha e você tem se destacado bastante. — ele interrompeu-a.
— Mesmo? Eu tenho aprendido muito desde que comecei a trabalhar aqui. — Ametista estava ficando alegre com o rumo da conversa. Uma promoção seria bem-vinda.
— O salário é maior e você não vai mais precisar ficar até tarde fazendo esse serviço pesado. — a voz de Antônio era como um sussurro suave. — Essa vaga pode ser sua se...
O tom de Antônio mudou no decorrer da frase fazendo Ametista desconfiar do real motivo de ele tê-la chamado ali. Ele levantou o rosto e a olhou dos pés a cabeça lambendo os lábios. Ela estava usando legging com um casaco de capuz aberto e top de ginástica, era mais prático para ela usar com o uniforme e aproveitava para fazer caminhadas. Ela não estava tão atraente, mas aos olhos de Antônio, somente o desenho daquelas curvas era o suficiente para fazer sua imaginação fluir.
Ametista era uma linda jovem de pele negra e cachos longos com olhos pequenos e sorriso largo. Ela sempre foi protegida pelo pai por herdar a beleza ímpar da mãe; enquanto vivo, nunca a deixou sozinha. A avó dela sempre dizia que ela precisava saber se defender e que uma mulher sem inteligência era escrava dos desejos dos homens.
Ela não era frágil, mas seus 1,60 m de altura e sua gentileza davam a entender que sim. Suas curvas chamavam atenção por onde passava, mas ela nunca foi importunada daquela maneira. Ela tinha ciência de seu corpo e beleza, mas não pensou que o gerente dela a humilharia daquela forma devido ao desejo dele. Ela se encolheu no lugar e questionou.
— Se... o quê? — o brilho foi saindo de seu rosto ao observar o sorriso maldoso nos lábios de Antônio.
— Ora, podemos nos ajudar. Eu sei que entendeu onde quero chegar.
— Você está me dizendo que, se eu sair com você, serei promovida?
— Não precisamos sair, pode ser aqui mesmo.
— Senhor Sattori, está me ofendendo. Espero que não tenha ciência do que está fazendo porque se tiver, o problema é ainda maior.
— Você acredita que entrou aqui por que trabalha bem? Não... tem melhores! Te contratei porque te acho gostosa e mulheres como você, não perdem uma oportunidade de subir na vida.
— E você supõe que é a escada da salvação? — Ametista estava indignada.
— Sou um ótimo partido... não acha?
— Não. O senhor é velho e ridículo! Pelo jeito você tem andado com as putas ali do litoral, que são as únicas mulheres que te dão moral, e pensa que sabe algo sobre ter uma mulher como eu. Sinto-lhe informar que você é um completo babaca!
Ele levantou sem aviso e rapidamente a alcançou, o corpo de Ametista enrijeceu imediatamente com o susto e instintivamente deu um passo para trás. Ele a pegou pela cintura e a aproximou dele. Ela podia sentir o cheiro de álcool em seu hálito.
— Você... você podia me ajudar com algo aqui. Ametista!
— O senhor está bêbado, me solte e vou fingir que nada disso aconteceu, sr. Sattori. — naquele momento ela realmente desejou estar perto de algumas facas.
— Não se faça de difícil, menina! Sei que quer também.
— Do que você está falando? Me solta! — ela tentou empurrá-lo, mas ele era mais forte e a pressionou mais contra a parede.
— Você trata a todos tão bem... quero um pouco disso também... você me deixa louco!
Ametista tentou várias vezes desvencilhar-se do homem, mas ele era pesado e estava bêbado e determinado a ter algo com ela. Ela pensou que talvez devesse mudar a forma como tratava as pessoas, mal entendidos eram realmente chatos de lidar.
Mas o que a confundiu foi que ela nunca falou com ele. Clermont nunca permitiu que se aproximasse e mesmo assim ela nunca teve motivos para isso, ela nem sabia que ele sabia o nome dela, já que havia muitos funcionários e ele mal parava lá.
Ele tentou beijá-la segurando o rosto dela com as duas mãos suadas e ela viu uma oportunidade. Ela deixou que ele a beijasse, mas não correspondeu, esperando um momento certo para agir. Quando ele relaxou o corpo, ela o chutou entre as pernas e saiu correndo o deixando agachado e gritando de dor.
--VADIA DOS INFERNOS! Vai se arrepender disso! Aqui você não trabalha mais! Está demitida, Ametista! DE-MI-TI-DA!!
— Vai se foder, seu merda! Eu vou te processar por assédio! — Ela gritou de volta pegando a sacola do chão e embrulhando novamente o seu celular.
— Você não é ninguém, quem acreditaria em você sua faveladinha? Não ouse pisar aqui novamente! — Antônio se levantou cambaleando e bateu a porta do escritório furioso.
— Pode ter certeza Antônio, você vai me pagar por isso! — Ela fechou a porta e saiu furiosa.
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Atualizado até capítulo 207
Comments
Ivanete Oliveira
Ametista vai salvar ele
2023-05-10
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