Já eram onze da manhã, e Ivete não pregou os olhos. Ela não conseguia, simplesmente não conseguia! Depois de tudo o que ouviu e viu e a história mirabolante de Natasha, ela estava tão angustiada e apavorada que o seu corpo não conseguiu desligar. Mike estava mesmo morto? Ela negou-se a aceitar.
Seu menino era forte, ela sabia bem. Mas um homem apaixonado era estúpido, e nos braços da mulher errada... era um desastre iminente.
Ela estava esperando a polícia ligar, se é que ligariam. Não tinha como saber. Andando de um lado para o outro, quase roendo os ossos dos dedos, ela tentava se acalmar, em vão.
— O que será de mim agora, Senhor?!
Se eles foram capazes de matar Mike, porque sentiriam pena de mim? Tenho que buscar ajuda, mas antes preciso saber, ver o corpo dele para crer. Ivete pensou, ainda andando em círculos em seu quarto
Ela não queria sair e dar de cara com aqueles monstros, mas teria que descer de qualquer maneira. As ajudantes já haviam preparado o café, mas como Natasha e Erik não desceram, elas retiraram tudo e foram cuidar de outras coisas, mas Ivete não podia adiar mais.
Ela foi ao banheiro tomar um banho e se arrumar para enfrentar o dia. Ela ouviu os gemidos e batidas mesmo a uma distância considerável de seu quarto, e estava sendo um suplício para ela testemunhar tal coisa. Mike estava em casa ontem, como eles podiam estar fazendo aquilo debaixo dos olhos dela e mesmo assim não se importarem com nada?
Eles acharam mesmo que ela não escutaria todas as atrocidades que eles diziam e faziam durante a noite?! Ela estava preocupada chorando em estado de choque tentando saber o que tinha acontecido com Mike e nem cuidadosos eles estavam sendo ali. Talvez a achassem mesmo insignificante.
Ivete saiu do banho e usou um vestido de cor sóbria. Ela não acreditava que Mike estava morto, ela não queria acreditar, então preto ainda não era a cor adequada para ela, que rezou para que Deus enviasse um milagre.
Que Mike estivesse a salvo, que os planos desses dois fossem por água a baixo e que desse forças a ela para aguentar os dias que se seguiriam em silêncio. Ao final de sua prece, fez o sinal da cruz e desceu para sua rotina.
Natasha estava parada na janela olhando para o jardim perdida em pensamentos. Depois de convencer Ivete de que eles haviam sofrido um assalto e que ela não sabia onde Mike estava, ela foi para o quarto acompanhada de Erik com a desculpa de que ele a ajudaria e ficaria com ela até que ela dormisse por causa do “trauma”.
Depois cuidaria de procurar por Mike mesmo sem o contato da polícia. Mas passaram o resto da noite enroscados um no outro. Erik foi para casa e a deixou na cama ainda dormindo. Ela acordou sozinha e faminta, mas não achou a mesa posta, o que a deixou furiosa, mas então ela olhou as horas e se acalmou.
Já eram quase meio-dia... ela podia esperar pelo almoço. Então foi para seu canto favorito na casa para pensar no que havia feito.
Não tinha como desfazer ou retroceder, ela não podia se arrepender, então decidiu que não valeria a pena ficar se questionando, estava feito e em breve ela seria a dona de tudo o que era de Mike.
Ouviu Ivete descer as escadas, mas não se virou para encará-la, ela não queria ver como a governanta estava. Ela sabia que a mulher sofreria e estava preocupada com o sumiço de Mike, ela o viu nascer e ajudou a criá-lo. Natasha não suportaria, não naquele momento.
Em breve a polícia chegaria e ela tinha que manter sua persona de esposa triste, mas sem Erik ao lado, ela era como uma gatinha acuada. Ele tinha sangue-frio, ela... se entorpeceu para agir.
Eu jamais vou esquecer aquele olhar... Mike, seu desgraçado! Seria mais fácil superar isso se você não me amasse. Perdão por não poder corresponder como merecia. Ela meditou olhando para as flores que ela nunca gostou e sentiu vontade de destruir aquele canteiro, por sinal, ela já queria mudar tudo!
— Natasha... — Ivete chamou a tirando de seus pensamentos.
— Hum.
— Não queria incomodar, mas chegou alguma notícia sobre Mike? Já são meio-dia e ainda não ligaram. Será que o pior aconteceu com o meu menino?
— Estou rezando para que ele volte em segurança, Ive. Mas temo pelo pior também. Eu tive pesadelos o resto da noite... aquilo foi terrível. — Natasha não encarou Ivete em momento algum, mas lágrimas rolaram por seu rosto.
Ela não sabia bem o porquê, mas sentiu uma vontade imensa de chorar e caiu em prantos no sofá num canto perto da janela. Ivete não sabia dizer o que estava acontecendo alí. Natasha não parecia estar fingindo o choro dessa vez, mas Ivete não sabia ao certo se ela estava chorando de remorso ou qualquer outra coisa. Ela não teve saída a não ser confortar Natasha pelo que quer que fosse. A mulher ficou pálida de repente.
— Que cheiro é esse, Ivete? Isso está me embrulhando o estômago.
— Estamos preparando o almoço, seguindo o cardápio que a senhora nos dá toda semana.
— Parem de cozinhar imediata... — Nem deu tempo de terminar a frase, Natasha vomitou na sala e parecia que não teria fim. Ela já estava vermelha de passar mal.
Ivete e as ajudantes correram para ajudá-la a se recompor e limpar a sala. Elas sabiam o que aquilo significava. Em breve teriam uma criança na casa, mas Ivete sabia que não podia ser de Mike. Por quanto tempo ela mantinha esse caso com Erik? Eles vão até ser pais. Ela pensou a olhar para a moça.
Mike era muito cuidadoso com o seu corpo e saúde, e o ingresso de Natasha na casa não mudou a rotina dele, ela teve que se adequar. Ele gostava de manter o seu alto desempenho em tudo e por isso se alimentava bem e era regrado. Só comia fora em um de seus restaurantes, fora isso, comia em casa e até gostava de cozinhar.
Seus alimentos eram da melhor qualidade, não havia possibilidade de Natasha passar mal com alguma comida ali. Eles iam ao médico sempreparaa check-ups e não havia nada de errado. Portanto, Ivete tinha absoluta certeza de que Natasha estava grávida.
— Natasha, você está grávida? — Ivete perguntou mesmo sabendo a resposta.
— N-não! Eu não, impossível! Deve ter sido o trauma de ontem. Não comi direito e depois do... eu tomei alguns calmantes de estômago vazio.
— Você tem certeza? Posso chamar o médico da família para examiná-la.
— Nenhum homem tocará em mim novamente!
— Tudo bem. Desculpe, só queria ajudar. Se precisar de mais alguma coisa... sabe onde me encontrar. Preciso resolver as coisas da semana, com licença.
Ao descer as escadas, Ivete deu de cara com um homem falando com uma das ajudantes da casa. Ele aparentava estar na mesma faixa de idade que ela. O homem era charmoso, ela admitiu. Tinha cabelo platinado e estava em forma também, o que o deixava mais atraente era a forma como falava e mesmo não conseguindo ouvir muito, ela gostou da voz dele.
Não era o momento adequado, mas Ivete não era de ferro. Ela abdicou de sua mocidade para trabalhar em casas de família e acabou por deixar os relacionamentos de lado. Apenas um namoro ou dois em seus 55 anos. Ela se aproximou para saber do que se tratava.
— Lilian, quem é esse senhor? Não ouvi a campainha tocar.
— Eu estava limpando a porta quando esse senhor chegou, por isso não houve barulho.
— Tudo bem, eu assumo daqui, pode voltar ao serviço.
— Com licença.
— Você é a senhora desta casa?
— Quem pergunta?
— Desculpe-me a indelicadeza. Sou o agente Sanches.
— Me chamo Ivete, sou a governanta da casa.
— Mas parece a dona dela...
— O senhor veio aqui para...?
— Ah, sim. Encontramos esse relógio...
— Onde o encontraram? — Ivete pegou o relógio já com os olhos marejados.
— O achamos caído próximo a um carro incendiado e as investigações....
— Sim, é de Mike, do meu menino. Era o relógio preferido dele! Senhor Sanches, por favor, me diga que Mike está bem!
— Não havia corpos no local. A chuva e o fogo eliminaram todas as provas que podiam nos ajudar a investigar. Onde está a esposa do senhor Meyers? Preciso falar com ela.
— Ela está indisposta. Acabou de subir para descansar. Eu sei de tudo o que acontece aqui, há algo que eu não possa saber?
— Não, absolutamente. Mas preciso de mais detalhes sobre o que aconteceu, como não temos mais evidências e ela estava muito abalada ontem, tenho que fazer mais perguntas. Nós encontramos o carro, mas não o corpo. Ele pode estar vivo, ou não. Precisamos saber se houve alguma movimentação nas contas dele depois do assalto... podemos rastrear o celular dele e tentar chegar a algum lugar.
— Eu vou ver se ela consegue atendê-lo. Ela está muito abatida, com licença. — Ivete se virou e ordenou que uma das ajudantes o acompanhasse até a sala e servisse algo para ele.
Ela subiu as escadas aliviada que não encontraram o corpo de Mike. Havia esperança de que ele estivesse vivo em algum lugar. Talvez ferido em algum hospital, mas vivo. Ivete chegou ao quarto de Natasha e bateu.
— Natasha, a polícia está aí. Querem falar com você.
Natasha saiu sem falar nada e desceu. Ela parecia mesmo abatida com a situação, ou talvez fosse medo de ser descoberta. Ivete a seguiu um passo atrás e percebeu que Erik não estava na casa. Ela ficou acordada a noite toda e não ouviu ou viu ele sair.
De qualquer modo, ele a decepcionou, ela não queria vê-lo ainda. Então ela não quis perguntar onde ele estava. As duas se sentaram no sofá de frente ao agente e Natasha repetiu tudo o que havia ensaiado mil vezes para dizer. Do mesmo jeito. Sempre.
Ela tinha hematomas pelo corpo e estava tremendo, era convincente. Ela sabia como envolver, Ivete já a conhecia bem.
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Atualizado até capítulo 207
Comments
Suzana Brito
uma verdadeira 🐍🐍🐍
2023-08-23
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