SEIS MESES se passaram desde então. Ametista firmou as suas vendas de bolos de pote na frente do hospital; e assim pôde vê-lo todos os dias sem ter que perder um dia de trabalho.
Os seus doces fizeram sucesso por lá e quase todos no hospital já a conheciam porque a sobremesa dos médicos, técnicos, seguranças e enfermeiros era garantida! A demanda era alta então ela vinha conseguindo um bom dinheiro.
Mike estava melhor a cada dia, já não tinha mais ferimentos pelo corpo, mas não dera sinal de que acordaria desde o último dia em que ela o viu.
Ametista precisou ficar longe dele por duas semanas atarefada com encomendas; não havia um estabelecimento fixo, mas alguns funcionários de lojas próximas pediam as sobremesas regularmente. Então ela não sabia nada sobre o estado dele e nem pôde observar o progresso dele nos últimos dias.
Pensando nisso, assim que ela terminou as suas encomendas e vendeu a remessa do dia, foi vê-lo animada e com saudades; o que ela achava engraçado. Não era como se ele sentisse falta dela e a estivesse esperando. Faltava pouco para chegar ao oitavo mês que ele estava desacordado, mas ela ainda tinha esperanças de vê-lo abrir os olhos.
Na recepção, ela esperou impaciente que liberassem a ida dela até o quarto. Duas semanas foram o tempo mais longo que ela ficou longe dele; e por sorte, ela caiu nas graças do Dr.Paulo, que a ajudou a manter Mike em total discrição. A todo o momento, ela olhava para o corredor se perguntando o porquê da demora.
— Ametista? — Luciana, outra enfermeira que a conhecia a chamou,
— Luciana! Oi, mulher! Está cada dia mais linda com essa barriga!
— Estou cada dia mais gorda, 'cê quer dizer, né?
— Ah, para com isso! Tá linda sim! Aquele brilho da maternidade que dizem, né?!
— Pois é! Mas eles não dão sossego! Veio ver o galã da ala 3?
— Sim. Mas eles estão me fazendo esperar, e isso é estranho. Aconteceu algo com ele? Ele...
— Está tudo bem, pelo que sei. Fique calma! Parece até que é a esposa dele. — a enfermeira riu da expressão de Ametista.
— Tá falando besteira, menina! Só quero me certificar que ele não vai morrer.
— Tá se certificando há seis meses...
— Só saio daqui quando ele abrir os olhos!
— Sei... — Luciana olhou a prancheta que estava em suas mãos e suspirou. — Tenho que ir, Amy. O trabalho chama e grita se demorar a ser atendido.
— Até!
Elas sorriram, e olhando Luciana se afastar, ela sentou na cadeira para esperar, estranhando a demora. Em dez minutos cravados e contados, a autorizaram a ver Mike e ela não esperou nem mais uma palavra; correu em direção ao quarto para saber se ele estava mesmo bem. Senão porquê demorariam tanto para permitir a entrada dela?
Ao abrir a porta, olhou ao redor com cuidado e não viu nada de diferente. Ela suspirou e sacudiu a cabeça rindo de si mesma.
— Oooiiií! Advinha quem chegou?! — Ela deixou as bolsas térmicas num lado do quarto e foi até a cama para inspecionar como sempre. — Desculpe ter demorado para vir, fiquei presa com as encomendas; mas estava lá fora todos os dias. Pensou em mim? Hahaha porque eu sim, pensei em... você.
E foi aí que ela percebeu que ele estava olhando para ela com um quase sorriso, enquanto ela tagarelava animada sobre o seu dia e verificava seu estado como sempre.
— Mike? Está... Acordado! — ela demorou um segundo para assimilar. — Você acordou!
Ela soltou os pés dele e correu até a cabeceira da cama para ajustar e deixá-lo sentado. Eles se olharam por um longo tempo e uma lágrima rolou nos olhos de Ametista; ela segurou o rosto dele carinhosamente com suas mãos pequenas e ele fechou os olhos esfregando o rosto nas mãos dela.
Ele havia acordado, finalmente! Ela esperou tanto por aquele dia que nem pensou em como seria quando acontecesse. Mesmo já tendo visto como ele era bonito, pois havia um tempo que as marcas haviam sumido, inconsciente ele parecia uma escultura de um anjo caído, mas agora, enquanto olhava para ela, ele era...
Nossa! Ela pensou.
Eles ficaram se olhando, se conhecendo sem dizer nada. Ametista, por estar emocionada pela recuperação dele e Mike, porque não tinha mesmo o que dizer.
— Ca-ra-lho! — ela engoliu em seco e tentou se recompor — 'Cê tá com sede? Está com dor? Quer alguma coisa... consegue falar?
Ela correu para pegar água e deu a ele, que bebeu sem reclamar. Depois correu para chamar o médico, que foi sorrindo até ela já sabendo o quão feliz a moça ficaria. Afinal, ela lutou e acreditou que ele acordaria quando ninguém mais tinha esperança.
— Vejo que gostou da surpresa.
— Mas... quando foi isso, Dr. Paulo?
— Semana passada. Ele acordou e a primeira coisa que falou foi o seu nome.
— E... ele está bem? Tipo, bem mesmo?
— Sim, fizemos exames…
Mike ficou olhando a mulher que tinha o olhar mais lindo do mundo brilhando pra ele e genuinamente feliz porque ele acordou, através da janela da porta; mas não sabia o que estava fazendo alí e nem o que havia acontecido, tampouco quem ele era.
— Ele falou com vocês?
— Não, só disse o seu nome, mais nada.
— Será que ele não se lembra? Pode acontecer?
— Sim, pode. Mas fizemos exames assim que ele acordou, está tudo bem com ele. Isso é temporário. Se ele não se lembrar de nada agora, pode lembrar a qualquer momento depois.
— Mas, e o meu nome? Por quê ele lembra do meu nome?
— Você foi a única pessoa que ficou com ele quase todos os dias em que ele esteve aqui. Conversou, cantou...
— O senhor me ouviu? — Ela tapou o rosto com as mãos de vergonha.
— Quem na ala não ouviu? Nós adorávamos! Ajudou muitos pacientes sem saber, Ametista. Vamos sentir falta.
— Posso ajudar quando puder. Tem o meu número. Mas... para onde ele vai agora?
— Acredito que é melhor levá-lo à delegacia. Não sabemos nada dele e ninguém veio procurá-lo. Ele já está de alta.
— Tem razão. Caramba! Não tenho roupas para ele...
— Temos o mesmo tamanho, acho que uma roupa minha serve. Tenho um moletom reserva no escritório, já trago para você.
— Obrigado Dr. Paulo. Eu devolvo logo.
Ele se retirou e ela voltou para o quarto. Mike estava comendo frutas lentamente e parou quando a viu. Ela se aproximou com um pouco de vergonha. Deveria ser a mesma coisa, mas não é bem assim que funciona, ele estava acordado agora.
— O-oi! - ela disse, um pouco baixo demais.
— Você é real...
— Até onde eu sei... sim! — ela sorriu. — Você... lembra o que aconteceu contigo?
— Não... estou tentando, mas não lembro.
— Você sabe quem é?
— Você me chama de Mike, não?! Deve saber quem eu sou.
— Não sei mais que isso. Te achei parecendo um bolo de baunilha com morango e mirtilo pisado na rua.
— Então como sabe que o meu nome é Mike?
— Ah! Isso... eu...
Dr. Paulo bateu na porta e entrou com as roupas interrompendo Ametista, viu os dois bem próximos e sorriu. Suspeitava que a jovem tivesse sentimentos pelo rapaz e achava que eles fariam um belo casal se o homem visse a mulher encantadora que ela era.
— Aqui está, Ametista. Fez ele falar mais alguma coisa?
— Ele só é desconfiado — ela riu a olhar para Mike. — mas mudo ele não ficou. Ele não lembra, ou se lembra quer esquecer.
— Tenho que atender outros pacientes. Espero que fiquem bem.
— Obrigada Dr.Paulo. Vamos ficar, eu acho.
— Não volte tão cedo ao leito, Mike.
— Obrigado, Doutor.
Ametista entregou as roupas para Mike e ele olhou por um tempo franzindo o cenho, mas as pegou.
— Você tem para aonde ir?
— Não.
— Pode ficar lá em casa até se resolver. Precisamos conversar. Se veste, 'cê ganhou alta. Te espero ali fora, tá?!
Com isso ela pegou suas bolsas do chão e saiu.
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Atualizado até capítulo 207
Comments
Abreu Ana
eu acredito q ele não perdeu mesmo a memória, mas tem q fingir, não sabe quem é quem
2023-06-20
2
Ivanete Oliveira
q bom e acordou, espero q logo lembre de tudo
2023-05-10
0