Ametista chegou em casa exausta, mas não se deitou, ela ficou com medo de dormir e sonhar com tudo o que viu de madrugada; tirou as coisas que Mike deu a ela e guardou num cofre que ela comprou num site japonês. Era tão bobo que ninguém desconfiaria daquele objeto.
Após guardar esses itens e devolver o cofre para a decoração, ela foi tomar banho e quando saiu arrumou algumas coisas numa bolsa. Escondeu algumas guloseimas entre as roupas e, no fundo da bolsa adicionou escovas de dente e pasta, lenços umedecidos e um kit de escova e tesouras de cabelo e unhas.
Como ela gostava de usar sungas boxer, ela pegou algumas também.
Estava cogitando possibilidades para ganhar dinheiro depois que ficou desempregada, mas estava pensando ainda mais no porquê de ela estar se preocupando tanto com um cara que ela nem conhecia antes de quase ser executado.
É uma boa ação. Ela pensou. Nem lembro se já fiz bem a alguém...
Então ela fechou sua casinha e voltou para o hospital.
...***...
Chegando lá, ela passou pela recepção e foi direto para o quarto de Mike já falando pelos cotovelos.
— Oooiiií, olha quem voltou!
Ela foi até a cama e fez carinho nele com cuidado, segurou a sua mão e continuou a falar.
— Menino, eu tive que pegar carona para ir para casa, 'cê acredita?! Fui demitida hoje. Mas... e você, dormiu bem? Você parece menos... — ela virou a cabeça de lado e fez uma careta. — roxo.
Ametista inspecionou todo o corpo de Mike.
— É... você é grande meeesmo! Vamos tapar isso aí, não queremos que seja abusado, não é?!
Ela foi até a bolsa e pegou uma das sungas que trouxe e vestiu nele. Assim que ela ajeitou a bata hospitalar, uma enfermeira entrou para checar os aparelhos e aplicar a medicação.
— Olá, boa noite! Ele está bem? — Ametista perguntou olhando por cima dos ombros da enfermeira.
— Boa noite! Está sim, são só remédios para dor.
— Como sabem que ele está com dor? Ele mal se mexe.
— Bom, os músculos se contraem, as veias saltam as vezes, mas devido à cirurgia, ele vai sentir algumas dores ainda. O corpo também está dolorido devido às pancadas. Está menos roxo, mas ainda está inchado.
— Sim... eu reparei. Ele apertar a minha mão é um bom sinal?
— São apenas reflexos do corpo, mas pode sim ser um bom sinal. Você é namorada dele?
— Hã? Não, não. Eu só... encontrei ele e prestei socorro.
— E está aqui ao invés da família dele.
— Não me sobrou muita opção.
— Por quê ainda está aqui, então? Pode ir agora. Já que não o conhece, não há motivos para ficar e esperar. Uma hora alguém sente falta dele e sai para procurar.
— Me obrigaram! Preciso me certificar que ele não vai morrer, moça. Não posso ser presa por ajudar uma pessoa. Sou muito nova!
— Tá mais para a garota apaixonada que salva o cara que ignora ela e quer ser a primeira a ser vista por ele.
— Moça, cê tá lendo fanfic nas horas vagas? Só não quero ser presa mesmo! — Ametista deu de ombros e se afastou.
— Sei...
Ametista fingiu estar incrédula com o comentário, mas sentiu-se triste por Mike. A enfermeira terminou e saiu da sala e ela voltou a conversar e cantar para ele. As vezes comia alguma guloseima e via vídeos, mas sempre estava na cama com ele contando histórias e viajando com as suas ideias loucas e aleatórias, ele sempre respondia com alguns apertos de mão. Mesmo sendo involuntariamente, para ela bastava.
O tempo passou e ela acabou dormindo no sofá, por ser pequena, não houve muito incômodo. Ela acordou com a voz rouca de Mike febril e delirando. Ele suava frio e tremia enquanto chamava por um nome... Natasha.
Então... será esse o nome dela?!
Ametista foi até ele e o abraçou sussurrando para acalmá-lo. Ele chorava e se debatia.
— Calma, calma. Mike... sou eu, Ametista. Ela não vale o seu sofrimento. Não chore, por favor, fique calmo! Fica bem. Shiii! Calma, eu vou te ajudar.
Ela começou a cantar e lentamente ele foi se acalmando. Enquanto cantava, ela segurava as mãos dele fazendo massagem e ele reagia às vezes com os pés. Seu corpo estava muito machucado e ela não sabia bem se estava piorando a situação tocando nele, mesmo assim ela seguiu seus instintos.
— Não sei se pode ouvir... mas o idiota do gerente do restaurante onde eu trabalhava, tentou ficar comigo a força. Ele estava bêbado ou apenas usando a bebida para justificar o que queria fazer... eu bati nele e corri, mas agora... — Ela bocejou. — nem posso passar na porta do estabelecimento. E a culpa nem foi minha, isso é tão injusto.
Foi então que ela lembrou que não mandou mensagem para sua amiga Márcia para dizer o que aconteceu. Ela mandou uma mensagem para a amiga e colocou o celular em modo avião.
Ametista ficou olhando para o corpo imóvel do rapaz especulando o que teria acontecido antes dela passar por aquela rua.
Se ela não tivesse saído correndo feito uma louca na chuva, talvez não passaria por lá. Pensando nisso, ela começou a se desesperar. Ela não queria problemas para si e chegar num hospital com um homem literalmente triturado e sem documentos, poderia colocá-la num problema de larga escala.
O que ele tinha feito para merecer aquilo? Ele não era um fodido, a aliança no dedo dele era cara e Ametista percebeu. Ele tinha músculos bem definidos e era um homem grande, era de se esperar que para derrubá-lo o drogassem. Ela testou todas as possibilidades com base no que ouviu.
As únicas pistas que eu tenho são: seu nome, o de Erik, o tal Elias... e as coisas que você me deu para guardar... Você é rico, ou era. Já que tentaram te matar e tomar o que é seu... mas... Você não morreu. Eles podem tentar terminar o serviço ou me incriminar, ou os dois... Ou cê tá vendo séries demais, Ametista. Seus pensamentos davam voltas e mais voltas.
— Você podia ao menos estar com a sua carteira... mas acredito que queimou com o carro. Ia me ajudar a te ajudar, sabia?! Eu tô morrendo de sono, Mik. Descanse também, vou estar aqui se precisar.
E nesse momento ela se sentiu bem besta. Não era como se ele fosse levantar e chamá-la pedindo ajuda, ele nem sabia onde estava ou com quem. Aquilo a fez rir de si mesma enquanto ela arrastava o pequeno sofá de dois lugares, o posicionando ao lado da cama de Mike.
Ela apagou as luzes, se deitou e apagou de tão cansada que estava. Fez hora extra a semana toda e ainda não havia dormido por causa de Mike, mas logo foi acordada por ele novamente gemendo e se debatendo a ponto de quase cair da cama e derrubar os aparelhos.
A noite toda foi assim. Ela cochilava e em poucos minutos acordava com ele delirando, chorando e com dores. Até o momento em que ela não aguentou e foi chamar alguém para ajudar.
Ele estava sofrendo por fora e por dentro e isso se tornou demais para ela. Ela viu, ouviu e sentiu o que ele passou, mesmo sem dores físicas, o seu peito apertava de angústia e raiva só de olhar o estado em que o deixaram.
Aplicaram um sedativo nele e seu corpo agitado em instantes se acalmou. Ela pediu um pouco, pois estava exausta, mas a enfermeira não permitiu. Deu-lhe um calmante e disse ser suficiente. Ela tomou e conseguiu dormir.
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Atualizado até capítulo 207
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