--- De quem é esse vinho aqui? --- Ametista olhou pela cozinha procurando.
Ninguém respondeu; estavam todos ocupados e não dava tempo de falar coisa alguma naquele momento. Se os pedidos fossem entregues um segundo sequer atrasado, a gerência pegava pesado na punição.
Afinal, eles eram referência em sabor e bom serviço; um restaurante caro como aquele não aceitava menos que a excelência, então ninguém deu atenção a ela.
Ela olhou para a taça e tentou resistir a tentação de beber um gole, mas não conseguiu; pegou a taça e bebeu o vinho. E gostou muito, não era de mercado como os que ela comprava para beber com os amigos, não era tão ruim quanto ela pensava, pena que era tão caro pagar por uma taça daquilo.
Ainda curtindo o sabor levemente amargo do vinho, ela lambeu os lábios de olhos fechados saboreando as notas aromáticas que ela nem sabia quais eram, mas eram agradáveis a seu paladar; sentiu como se fosse uma sommelier de vinhos. Mesmo que não soubesse explicar, se nas provas de vinhos fosse requisitada a opinião dela, ela com certeza diria:
--- Isso é simplesmente divino! --- ela pensou alto ainda saboreando o gosto do vinho em seus lábios. --- Huuuum!
No instante em que ela pousou a taça na bancada, uma silhueta apareceu atrás dela limpando a garganta. Era Clermont, o maitre do restaurante. Ametista suspirou com um sorriso travesso, pois provavelmente bebeu o vinho que ele deixou ali, mesmo não sabendo o motivo. Ela ficou parada esperando a bronca, seria a milésima na semana.
--- Vejo que o trabalho está tão leve que sobra tempo para apreciar um bom vinho, não é, Srta. George? --- ele olhou para a taça vazia e depois lançou um olhar severo a Ametista que ainda estava de costas.
Ela congelou no lugar. Aos poucos foi se virando para encarar o maitre que a olhava carrancudo, não ia dizer nada mas nunca praticava o mantra, a única coisa que ela não devia fazer era falar, mas...
--- O vinho era seu?
--- Seu, sabemos que não era!
--- Eu perguntei, mas ninguém me respondeu.
--- Então deduziu que podia beber?! Que audácia de sua parte, Ametista!
--- Bom, eu quem lava a louça, a taça estava perto do meu setor de trabalho.... só bebi porque a taça estava limpa, claro! Se tivesse uma marca de boca aqui, o vinho ia pro ralo, o que seria uma pena.
Clermont estava habituado a tagarelice de Ametista e gostava, mas precisava fazer a linha durão para disfarçar o grande apreço que tinha pela moça.
--- De fato me parece que tem tempo. Suas funções não são suficientes para lhe manter ocupada? Posso lhe arrumar mais algumas.
--- Bom... eu lavo pratos, ajudo os chefs... sou a única que faz hora extra e... ah! Sou a última a sair porque tenho que deixar a cozinha impecável para o dia seguinte e ainda atendo na recepção quando é folga das meninas... tá leve não, viu?! Daqui a pouco chega uma pilha de pratos... aí já viu! O vinho é realmente ótimo, qual o nome?
--- Engraçadinha e abusada, não é?! Será descontado do seu salário, mocinha!! --- o homem se aproximou dela. --- Você não está sendo paga para beber vinhos.
Ametista nunca entendeu o porquê de Clermont não gostar dela. Desde que começou a trabalhar no restaurante, ele a tratava com rispidez e certa frieza. Ela o achava lindo e admirava o homem até, mas ele não podia ficar perto dela que parecia que vespas estavam rasgando sua pele de dentro para fora. Ela achava que era personalidade dele ser mal humorado e não ligava; ele era chato com todos no restaurante por ter algumas funções aquém de seu cargo, mas tinham vezes que ele era insuportavelmente implicante.
No fundo, Clermont era apaixonado por Ametista desde que a viu entrar na cozinha do restaurante pela primeira vez. Ele tinha acabado de voltar da França, recomendado por um amigo que frequentava o lugar.
Ela chegou já animada e conversando com as pessoas como se já as conhecesse e do jeitinho dela, conquistou não só o seu espaço no trabalho, mas também alguns admiradores por alí. Isso o deixava com raiva pois ele era mais velho, mesmo que não aparentasse ter 38 anos.
Para ele, ela ainda era uma flor desabrochando e se tivesse que escolher entre ele e as outras opções... ele não estava certo de que ela pensaria nele como a escolha ideal. Ele tinha receio de falar e ela o achasse ridículo, ele nem sabia se ela tinha alguém...
Mesmo assim, deixou o vinho alí para ela, sabia que não resistiria a curiosidade. Ela adorava olhar a adega e tinha uma garrafa que ela gostava muito, mesmo sem saber pronunciar o nome, ela sempre olhava para a mesma garrafa toda vez que ia na adega.
Ele pagou pelo vinho, mas deixou a taça num ponto cego da cozinha, onde as câmeras não alcançavam e se escondeu para espiar. Eles realmente não podiam ser flagrados bebendo, mas ele sabia o que estava fazendo, ela não se prejudicaria.
--- Ô Clemente, sua função é servir vinho lá fora, a minha é limpar a cozinha aqui dentro. O copo estava sujo e eu limpei. --- Ela deu de ombros e começou a brincar com os dedos na bancada. --- Eu estava aqui pensando... o que essa taça de vinho cheia estava fazendo aqui na cozinha se não era o lugar dela? Não podemos ir lá fora e a taça não anda se servindo de vinho sozinha. Acho que mais alguém aqui tá bebendo as custas do trabalho, não? Agora, vai lá fazer o seu que eu faço o meu, Clemente.
Clermont estava vermelho de raiva, ele odiava ser chamado de Clemente e foi justamente por causa de Ametista que os funcionários do restaurante começaram a chamá-lo assim também. Ela achava engraçada a sonoridade do nome dele e acabava por chamá-lo de Clemente.
Como uma boa carioca, ela brincava com as coisas pra descontrair e achava ele um fofo quando ficava irritado, o sotaque dele aparecia mais e ele parecia uma pimenta de olhos verdes. Era sem maldade, era parecido para ela, ela esquecia! Mas mesmo assim ele odiava cada vez que ouvia seu nome errado.
Odiava mais ainda vê-la sorrir para ele. Ele sonhava em beijar aqueles lábios e vê-los todos os dias, sentir seu corpo reagir a ela em segredo... era uma tortura para ele, que nunca soube lidar com seus sentimentos.
--- Clermont, Ametist! Clermont S'il vous plaît ! --- ele disse exasperado.
--- A-ME-TIS-TA. --- ela soletrou chegando bem perto dele e olhou para cima para olhá-lo nos olhos. --- Comprenez-vous, Clermont ? Não é assim que fala?!
Clermont engoliu em seco, ela estava tão perto... como uma frase tão simples pôde provocá-lo daquele jeito? Ela nunca tinha falado o nome dele corretamente antes... para ele, seu nome nos lábios dela soou tão sexy que ele queria beijá-la alí mesmo, mas se conteve. Ela poderia acusá-lo de assédio e não era aquilo que ele queria, então ele apenas disse:
--- Sua garrafa preferida!
--- Hã?
--- O vinho... --- ele apontou para a taça vazia e saiu sem dizer mais nada deixando Ametista confusa.
Ele deixou o vinho? Ela ponderou. Porque ele faria isso... ele nem gostava dela, né?!
Um carrinho de pratos chegou e ela foi para sua função ainda pensando na atitude estranha de Clermont.
Deve estar morrendo... mas o vinho é bom mesmo. Tenho bom gosto!
--- Tem mais pratos a caminho, preta! Faz aquela mágica aí que o Chef está surtando. --- um garçom levou os pratos até ela e saiu correndo chamado por um grito distante.
--- Pode deixar! --- Ametista disse para ninguém e recomeçou seu trabalho cantarolando.
"Quiero amar y sin pensar entregarlo todo. Quiero que mi corazón interbambie su lugar con el de alguien especial. Quiero despertar, te quiero encontrar y me quiero enamorar."
Distraída na canção que tinha acabado de aprender, ela se desligou do resto e rapidamente lavou os pratos com sua técnica de lavagem inovadora, que ela não contava a ninguém. De repente ela sentiu uma presença e se virou para olhar mas não viu nada. Não era a primeira vez que sentia aquela sensação; como se alguém a estivesse observando, aguardando por algo. Um arrepio atravessou a espinha dela e não de um jeito bom.
--- Cruzes! --- ela se sacudiu para afastar a sensação estranha. --- acho melhor não ficar bebendo no trabalho mesmo! Ou será que esse lugar foi construído num antigo cemitério e tá assombrado? Porque só assim, meu pai! Isso já tá estranho. Tá amarrado!
Ametista se benzeu e voltou a seus afazeres mas logo correu para a frente da cozinha para ajudar os outros.
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Atualizado até capítulo 207
Comments
Ronalda de Almeida
essa historia vai render .
2024-04-19
1
Aparecida Fatima
Kkkkk ri muito
2023-08-10
0
Ivanete Oliveira
parece uma história q vai ser bem emocionante
2023-05-10
0