Vivendo Modestamente

Vivendo Modestamente

Mais alguns dias se passaram, Liana e Veaceslav seguiam trabalhando de forma modesta, permanecendo acomodados na mesma estalagem de forma discreta. O vampiro não conseguiu salvar muitas economias pois ganhava pouco no trabalho que conseguiu, ele necessitava comprar as refeições de sua amada esposa. A jovem tentava ajudá-lo a poupar, gastando o mínimo possível, privando-se de alguns luxos, bem como de sua própria toalete.

O casal possuía apenas uma muda de roupa e seus respectivos uniformes de trabalho, estavam passando por muitas limitações, mas sem nunca perder a fé que em breve sua sorte mudaria.

A sorte do casal enfim mudaria, mas infelizmente não seria para melhor, Iulian estava percorrendo as cidades portuárias e logo os encontraria. Fazia sua caça as bruxas sempre durante o dia pois sabia que seu rival estaria mais vulnerável.

Milhares de duvidas o assombravam, principalmente se sua antiga noiva ainda era humana. Todavia, de fato isso pouco importava, o jovem mestre, na realidade queria encontrá-los apenas por vaidade de vingança. Planejava matar o rival que deflorou sua noiva bem debaixo do seu nariz e logo depois faria de Liana seu brinquedo, torturando-a e humilhando-a diariamente para alimentar seu prazer sádico.

Alheia a toda essa busca desenfreada, a jovem Sr.ª Dalca saiu rapidamente da estalagem para compra uma caneca de caldo de peixe e uma maçã, seriam respectivamente seu almoço e seu jantar. Enquanto estava no mercado, percebeu uma movimentação estranha no porto. Instintivamente olhou em direção aos armazéns de madeira e viu Iulian montado em seu cavalo como um paladino do caos. Assustada, deixou cair a caneca vazia de caldo de peixe, desculpou-se apressadamente com o vendedor ofertando a ele sua maçã.

Saiu dali o mais rápido que pode retornando a pousada onde Veaceslav ainda estava dormindo, precisava urgentemente alertar o marido que estavam prestes a ser descobertos.

Afoita, a jovem entrou em seu quarto acordando o vampiro, esse em sono profundo, estava resistente ao despertar. Liana em desespero tomou medidas estremas fazendo um corte na palma da mão. O vampiro acordou estimulado pelo aroma ferroso do sangue, a esposa o alimentou por alguns instantes e logo em seguida tratou de se justificar:

— Veaceslav, perdoe-me por acordá-lo no meio do dia... mas eu vi Iulian próximo ao mercado hoje. Não estamos mais em segurança nessa estalagem e nem nesse povoado...

— Liana... ainda estou um pouco sonolento e não consigo raciocinar direito... o que podemos fazer? O sol está a pino, vou queimar até a morte se sair na rua agora...

— De qualquer forma, não podemos mais ficar aqui querido. Eu tive uma ideia... entre nesse baú onde estavam guardados os cobertores, eu vou nos tirar daqui.

— Pequena flor como vai me carregar? Sou bem mais pesado do que alguns cobertores...

— Eu vou conseguir... só peço que tenha um pouco de fé.

Liana esvaziou o baú, vestiu a capa de Veaceslav e o vampiro se acomodou em seu interior, deixaram seus uniformes dobrados sobre a cama e mais uma vez partiram rumo ao desconhecido. Na saída da pousada cruzaram com os caçadores do Clã Van Alene que até estranharam o baú imenso que a jovem arrastava com dificuldade, mas como procurava um casal não deram a devida importância ao fato. A Sr.ª Dalca agiu com naturalidade e os cumprimentou enquanto cobria o rosto com o capuz da capa, sorrindo de forma enigmática.

— O que tem no baú senhorita? — Perguntou um dos caçadores com casualidade.

— É apenas a roupa de cama que estou levando para lavar senhor. — Respondeu com naturalidade.

Sua firmeza nas respostas assegurou seu disfarce, mais uma vez, mal pode crer em todo o seu talento de atriz, rapidamente alcançou um dos armazéns do porto onde aguardaria o anoitecer ara se colocarem a caminho de qualquer lugar longe dali.

Iulian obteve informações preciosas com o dono da estalagem, de forma inteligente o jovem mestre ocultou seus reais objetivos iludindo o homem com sua bondade fictícia.

— Procuro por meu irmão e sua esposa, caro amigo. Ela é

uma jovem muito prestativa e ele é um rapaz de poucas palavras e hábitos noturnos... eles por acaso estão hospedados aqui?

— Sim. Mandarei meu filho chamá-los agora mesmo.

Alguns minutos depois, o garoto retorna correndo e ofegante afirma preocupado:

— Pai o quarto está vazio e seus uniformes estão dobrados sobre a cama...

— Estranho, não me avisaram que partiriam hoje...

Iulian sorriu de forma dissimulada, já havia obtido todas as informações que precisava, saiu dali rapidamente, estava prestes a escurecer e era a melhor hora para tentar localizá-los.

Algumas horas depois, quando finalmente escureceu, Liana abriu o baú. Seu amado vampiro estava acordado, não havia conseguido dormir novamente depois dos acontecimentos turbulentos daquela tarde, porém ficar acordado lhe clareou a mente e ele teve uma ideia.

— Agora mesmo, há um navio de cevada ancorado no porto. E ele vai zarpar amanhã de manhã, vamos embarcar nele clandestinamente e descer no próximo porto, não importa qual seu destino, qualquer lugar é mais seguro que aqui.

Liana concordou com o marido acenando a cabeça positivamente, intrigada questionou como fariam isso:

— Alguém vai nos ver... como vamos passar desapercebidos? Tem um exercito atras de nós! — Argumentou preocupada.

— Apenas nossos algozes estão protegidos pelo consumo de verbena. As demais pessoas que cruzarem nosso caminho poderão ser hipnotizadas com facilidade... vamos, não temos tempo a perder. — Respondeu decidido.

Ocultos pela escuridão da noite, os amantes alcançaram o navio facilmente, Veaceslav hipnotizou o homem que guardava o convés e em seguida acomodaram-se no porão do navio silenciosamente. O vampiro acolheu a esposa em seus braços de forma protetora e mais uma vez velou seu sono.

Não foram encontrados até a partida do navio, deixaram para trás a Bulgária, dois dias depois, desembarcaram em segurança na Turquia.

Veaceslav usou a fama de seu empregador joalheiro e em pouco tempo um outro ourives se interessou em seus serviços, assim, rapidamente estabeleceram-se em outra pousada.

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