Contos De Sangue

Contos De Sangue

Batidas na Janela

*Batidas na Janela

 

Em meados do século XVII, em setembro do ano de 1847, em uma remota aldeia onde atualmente encontra-se a Romênia, na província da Transilvânia, morava a jovem e recatada Liana Ardelean.

Era uma moça simples, que dividia seu tempo livre entre cuidar do pai e dos afazeres domésticos. Morava em um pequeno sobrado, ao lado de um pomar onde colhia maçãs com as quais fazia geleias e tortas.

Seu pai Valerian Ardelean havia se tornado viúvo a poucos anos, e resolveu dedicar-se totalmente a criar sua princesa e ao seu trabalho como tutor do jovem Iulian Albesco, filho do nobre mais rico do povoado. Sonhava que algum dia seu nobre aluno se interessasse por sua menina e que desse modo, ele não precisaria se preocupar em deixá\-la sozinha caso morresse.

Eram tempos difíceis a peste negra ainda não havia sido totalmente erradicada na Europa e o Sr. Ardelean temia adoecer deixando a filha desamparada.

O pai de seu pupilo, era um homem muito exigente, queria que o garoto fosse exemplar na leitura e na oratória, obrigando-o a horas ininterruptas de estudos e leituras.

Poucos eram seus momentos na companhia de Liana, mas mesmo sendo raros, dedicou\-se em ensinar sua menina a ler e escrever, seria mais fácil conseguir um bom matrimonio se ela fosse uma moça instruída.

Naquele dia, precisou ficar até tarde com seu jovem pupilo, chegou em casa cansado, sobre a mesa encontrou um chá ainda morno, acompanhado de uma generosa fatia de torta de maçã que sua filha amavelmente havia preparado naquela manhã. Pensou que homem abençoado eu sou, não se atreveu a ir no quarto vê-la, acreditou que ela já estava dormindo.

O bom homem caiu na cama feito pedra e logo em seguida dormiu, nem o ladrar dos cães, nem a desordem que repentinamente se instaurou na rua foi capaz de acordá-lo.

Sua filha não tinha o sono tão pesado, acordou sobressaltada com o barulho, parecia uma perseguição. O que estava acontecendo? Alguém estava sendo caçado como um animal?

A curiosidade estava por consumi-la. Deveria levantar e espiar? Não seria muito arriscado? Resolveu se conter, logo os barulhos foram se distanciando, voltou a dormir, entretanto suaves batidas na janela a despertaram.

Como seria possível? Seu quarto ficava no segundo andar do sobrado, enfim, a curiosidade a motivou a abrir a janela.

Era um rapaz muito bonito, de cabelos negros e misteriosos olhos azuis acinzentados, como um dia de neblina. Ele estava gravemente ferido na cabeça e no tórax, a camisa branca rasgada revelava a gravidade de seus ferimentos, bem como seu físico atlético.

— Perdoe\-me jovem dama, sei que é tarde e que certamente já estava dormindo, mas preciso muito de sua ajuda.

Liana emudeceu amedrontada, entretanto, seu instinto e seu bom coração não permitiram mandar o rapaz embora. Ficou a admirar suas feições, não conseguia compreender o que estava impedindo\-o de entrar.

— Poderia me convidar a entrar gentil donzela? Estou ferido e os caçadores logo retornaram.

— Por que ainda não entrou?

— Infelizmente, minha condição me impede de transitar livremente... e eu preciso que me convide formalmente a entrar em sua casa. Prometo não machucá-la, senhorita.

A jovem se apiedou dele, seus machucados sangravam, teve medo que ele morresse ou desmaiasse pela constante perda de sangue, ali bem diante de seus olhos. Mas afinal, por que estava tão preocupada com aquele rapaz? Havia acabado de conhecê-lo... de qualquer forma, mesmo sendo arriscado convidar um completo estranho para entrar em sua casa, ela sem pensar nas consequências, apenas o fez.

— Por favor jovem senhor, entre.

O rapaz entrou, ia se curvar para agradecer a bondade de sua salvadora, mas teve uma forte vertigem que o fez cambalear e cair na cama.

Liana rapidamente o ajudou a sentar em seu leito.

— Você está bem? — Perguntou atenciosa.

— Desculpe, além de ferido estou faminto.

— Eu fiz uma torta de maçã hoje cedo vou te trazer uma fatia e uma xicara de chá.

— Traga só o chá senhorita, eu não posso comer.

A jovem estranhou o pedido de seu hospede repentino, se ele estava faminto como acabara de dizer, porque não poderia comer a torta de maçã?

Desceu as escadas iluminando o caminho com um castiçal de três velas, esquentou a água e preparou o chá.

De vota ao quarto, entregou ao rapaz a xicara, ele pegou com as mãos tremulas e bebeu o chá de um gole só.

— Obrigado.

— Deixe-me limpar seus ferimentos, senhor.

— Não precisa se incomodar, apenas me esconda aqui por algumas horas...

— Eu insisto... você bateu na minha janela, desesperado por ajuda, então deixe-me ajudá-lo.

Ele não foi capaz de recusar, ela o ajudou a tirar a camisa rasgada, deparou-se com uma fratura exposta de costela e uma ponta de lança quebrada em seu peito.

— Como é possível você ainda estar vivo? A dor deve estar te devorando. — Indagou chorando.

— Não chore pequena flor, meu corpo é capaz de suportar ferimentos e dores inimagináveis... além disso, a lança não atingiu meu coração. — Respondeu hesitante, acariciando-a no rosto levemente como quem comete o pior dos pecados.

— Eu vou puxar a lança tudo bem? Aguente firme.

Antes mesmo que ele pudesse responder Liana puxou a lança de uma única vez. O hospede inesperado geme de dor e cai de joelhos, quase desmaiando.

O artefato era dotado de uma afiada ponteira de prata e ao puxá-lo bruscamente a jovem feriu a palma da mão. Algumas gotas do sangue dela pingaram no assoalho. O som do suave gotejar invadem os ouvidos do visitante, seus olhos cinzentos flamejaram.

Ele estava muito fraco, mas o aroma do sangue lhe deu força, com velocidade ele se jogou no chão em direção a pequena poça e se dispôs a lambê-la como um animal.

Liana ficou paralisada, sem conseguir formular uma única frase, o comportamento do rapaz a aterrorizou. Após alguns instantes intermináveis sorvendo o sangue do chão ele gradualmente vai recuperando a tranquilidade. Ao se dar conta do que havia acabado de fazer, ele rapidamente tenta se recompor:

— Senhorita.... hum... bem... eu não pretendia que tomasse conhecimento disso... assim... dessa forma.

— O que é você? — Perguntou oscilando a voz indo em direção as suas presas ferozes, objetivando tocá-las.

Ele a impediu segurando seu pulso, afirmando com cautela e convicção:

— Não faça isso... pode se machucar...

— Você parece melhor... — Disse com a voz tremula olhando a cicatriz enorme deixada pela lança, que misteriosamente parou de sangrar e fechou.

— Realente estou melhor... ainda quer me ajudar?

— Sim... — Respondeu monossilábica.

— Qual seu nome senhorita?

— Liana Ardelean e o seu senhor?

— Eu me chamo Veaceslav Dalca, as suas ordens, pequena flor. — Respondeu fazendo uma cortês reverencia.

Ela sorri tímida e ele decide revelar completamente sua identidade:

— Bem senhorita, eu sou um vampiro, entretanto, não herdei essa condição de meus pais... a cerca de 200 anos atrás em 1647, eu estava viajando sozinho pela estrada nas proximidades do lago Ciric. Levava diversas joias na minha sacola de viagem eram uma encomenda do Duque Robert Drummond para a esposa, eu estava incumbido pelo joalheiro de levar as peças pessoalmente ao castelo dele.

Infelizmente naquela noite, a sorte não era minha companheira de viagem. Eu estava sendo seguido e em um determinado momento onde a estrada estava completamente deserta, fui abordado por dois ladrões.

Mediante a minha recusa de entregar a mercadoria, fui cruelmente espancado e deixado na estrada, a beira da morte, sem meu cavalo e sem as joias. Fiquei ali dois dias, meus ossos foram todos quebrados, estava exausto, finalmente me dei por vencido, cansei de lutar fechei os olhos e roguei a Deus que a morte me encontrasse rápido.

Foi ai que minha pequena fada madrinha apareceu. Ela aparentava ter cerca de 9 anos, mas na verdade, a garota tinha mais de um século, lembro nosso dialogo como se fosse ontem:

“— Tio... você está com problemas?

Levantei os olhos para admirá-la era apenas uma criança, o que fazia na floresta tarde da noite?

— Nada com o que deva se preocupar garotinha... o que faz aqui esta hora?

— Sai com a mamãe para caçar... você está sangrando... — Disse ela com a voz sibilante entre os mini caninos que acabaram de brotar.

— Eu posso salvá-lo senhor... mas minha mamãe não pode saber... meu pai me ensinou a transformar humanos em vampiros, é uma coisa que devemos fazer apenas para salvar alguém que amamos ou para manter alguém conosco para sempre...

— Garotinha... é a primeira vez que nos vemos, por que você me salvaria? Volte para junto de sua mãe e não a desobedeça.

— Gostei de você tio... e como saberei se aprendi o ritual se não praticar? Deixa eu ver... primeiro bebo seu sangue... depois você bebe o meu... não vou te matar... pelo seu cheiro você já está morrendo... vai ser como dormir, e quando acordar vai ser um vampiro.

A garotinha seguiu os passos do ritual, depois sentou no chão do meu lado dizendo com doçura:

— Vou lhe fazer companhia tio... até você dormir.

— Qual seu nome jovenzinha?

— Sou Jennifer Drummond. — Respondeu sorridente.”

Eu fechei os olhos e quando acordei o sol estava prestes a nascer e minha salvadora já havia ido embora. Com uma velocidade que eu desconhecia, me abriguei em uma caverna ali perto e fiquei lá ate escurecer... a nova sede me consumia, a luz do sol queimava a minha pele.

Quando anoiteceu farejei os ladroes em um vilarejo tentando vender as joias, para a minha sorte sem nenhum sucesso. Eu os segui até a estalagem onde estavam hospedados, recuperei as joias e me fartei com o sangue deles. Recuperei meu cavalo e finalmente pude ir ao encontro do Sr. Robert Drummond entregar as peças... qual não foi minha surpresa ao encontrar minha pequena fada madrinha brincando com o irmão gêmeo entre os corredores, tocamos um sorriso cumplice e eu nunca mais a vi.

Após terminar seu relato Veaceslav voltou a se sentir fraco, ela acomodou seu hóspede na cama perguntando de forma prestativa:

— Como eu posso ajudá-lo?

— Não ouso lhe pedir mais nada... você já fez muito.

— Sei que está com fome, corro algum tipo de risco se você se alimentar de mim?

— Não posso lhe pedir isso, devo ir embora agora mesmo. — Respondeu ele tentando se levantar, caindo da cama.

— Você mal consegue ficar de pé, não seja orgulhoso.

A jovem o ajudou a sentar na cama, o cheiro do sangue dela na palma da mão o provocava sem tréguas, ele diante da oferta generosa não pode mais resistir.

— Não tenha medo. — Disse ele tomando a jovem pela cintura, afastando as longas mechas castanho claras do pescoço jovem e tentador.

Seus caninos surgem ávidos por acariciar a sua pele macia, sem rodeios ele a morde, alimentando-se dela sem pressa, sentiu suas forças voltando e todos seus ferimentos sendo curados pouco a pouco.

A jovem deixou escapar um gemido, seria de dor ou de êxtase? A quanto tempo se alimentava dela? Pareciam segundos mas, e se fossem horas? Com medo ele interrompeu a mordida imediatamente. Checou seus sinais vitais, ela estava bem, deu um pouco de seu sangue a ela para ajudá-la a se curar mais rápido a envolveu em um abraço repleto de gratidão.

— Devo ir agora. — Afirmou satisfeito.

O visitante abriu a janela pulou no galho da arvore próxima, estava descendo quando os caçadores o avistaram.

— Lá está ele. — Gritou um deles que estava armado com uma besta.

A jovem ainda com a janela aberta solicitou que ele voltasse, os caçadores retornaram correndo. As casas da rua eram muito parecidas e todas tinham arvores em seus quintais o rapaz armado se confundiu e não tinha mais certeza em qual casa o vampiro havia se abrigado. O grupo então, decidiu investigar todas as casas da rua. Isso lhe proporcionou o tempo necessário

para pensar em algo para enganá-los.

— Vou precisar de mais um favor seu. — Afirmou ele tirando as roupas.

— O que? — Indagou a jovem corando.

— Vamos fingir que somos noivos e que estamos em um momento de intimidade.

— Senhor eu... eu não sei se posso fingir isso.

— Eu ajudarei a compor o personagem. — Respondeu ele jogando a moça na cama e deitando sobre ela.

O barulho de alguém arrombando a porta violentamente a deixou nervosa.

— Vou precisar que confie em mim... faça barulhos como se estivesse fazendo amor.

— Eu não sei fazer isso... — Respondeu chorando.

— Não chore, não lhe farei mal, por favor acredite em mim... vou lhe dar alguns estímulos... apenas como incentivo para dar veracidade a farsa... eles estão subindo as escadas, não temos tempo.

Dito isso o visitante a beijou no pescoço e carinhosamente a envolveu em seus braços, a jovem surpresa não conseguiu se conter, as mãos dele acariciavam suas pernas sob sua camisola comportada, ela não pode mais segurar sua voz e gemeu em delírio. Quando os caçadores entraram se deparam com um casal apaixonado na cama em caricias preliminares. Em um reflexo ela gritou com os invasores:

— Quem são vocês? O que fazem no meu quarto? Como se atrevem a interromper eu e meu noivo em um momento de intimidade? Saiam daqui imediatamente! Desapareçam!

Os caçadores intimidados saíram imediatamente, implorando perdão, extremamente envergonhados, o visitante não se conteve e deixou escapar uma gargalhada divertida.

— Você é fabulosa senhorita... as companhias teatrais de Londres estão a perder uma atriz brilhante.

— Gostaria de vê-la outra vez pequena flor... mas por hora já lhe causei muitos problemas... — Afirmou de modo gentil acariciando seu rosto com delicadeza.

— Não vá. — Pediu ela esticando a mão para tocá-lo.

Liana envergonhou-se quando se deu por conta que pediu ao

seu hospede repentino para ficar, tentou disfarçar sua ousadia, dando a entender que era uma questão de cuidado.

— O sol... está prestes a nascer, eu salvei sua vida... duas vezes... você me deve isso.

O visitante, vestiu suas calças e olhou rapidamente pela janela. Os galos do terreiro vizinho já anunciavam o amanhecer.

— Tens razão bela dama, diferente da minha fada madrinha, eu sou o que os vampiros puros-sangues costumam chamar de andarilho, vampiros que nasceram humanos e que não tem titulo de nobreza e nem posses. Se eu tivesse dinheiro, eu poderia comprar um anel solar de uma feiticeira, mas isso custaria um valor que não disponho.

— Esse anel é muito caro senhor?

— Sim... é uma relíquia inestimável! Também não poderei retornar a estalagem onde eu estava hospedado, obviamente será o primeiro lugar onde os caçadores irão me procurar.

Vou aceitar seu convite e ficarei até o anoitecer, mas sinto que já abusei de sua hospitalidade.

Ela educadamente se levantou para deixar a cama para o seu hospede inesperado, ele a impediu dizendo afetuosamente:

— Não precisa abrir mão de seu conforto por mim, logo o sol vai nascer, eu dormirei dentro do seu baú.

— Então vou esvaziá-lo.

A garota começou a tirar do baú lindas bonecas de porcelana e a guardá-las de baixo da cama, pensou que o pai devia estar realmente muito cansado... toda aquela confusão e ele não acordou para ver o que ocorria.

Eram tantos brinquedos, Veaceslav ficou pensando que sua salvadora deveria ser jovem demais, o que estava pensando quando pediu que ela simulasse sexo com ele?

— Qual sua idade jovenzinha?

— Tenho 16 anos.

— Estou envergonhado por ter pedido que deitasse comigo, sinto que tirei vantagem de você. Perdoe-me.

— Se não fosse por isso, talvez você estivesse morto agora.

— Você é muito generosa senhorita Ardelean.

Liana votou a deitar, o desejo do seu coração era que ele deitasse com ela, afinal apesar de não demonstrar, a invasão dos caçadores a apavorou, entretanto, não se atreveria a pedir... o vampiro deitou no baú dando um cordial boa noite, fechando a tampa em seguida*.

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Comments

Simone Souza

Simone Souza

Que gracinha a Jennifer Drummond pequena!!!!!!Ela na estória dk irmão também é maravilhosa 🥰🥰🥰

2024-05-11

1

Marfisa Torres Ferreira

Marfisa Torres Ferreira

eita, mas essa história é tão legal quanto a outra.

2023-08-12

2

Kim Rodrigues

Kim Rodrigues

Ah que amorzinho 💖😍

2022-11-11

1

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