cap 14

João Vitor (Alemão)

Esperei que ela se acalmasse, acariciando os seus cabelos, ela suspirava e eu sentia o estremecer dos seus pulmões em uma respiração pesada a libertei do meu abraço

quando a notei mais calma.

— Vou descer, você vai ficar bem? — Indaguei me levantando da cama.

Ela assentiu com a cabeça sem virar para mim.

Desci o morro contrariado indo até a boca encontra com Domenico.

— Demora do caralh0 porr4! — Exclamou Dom se aproximando.

— Desculpa, qual foi a bronca aí?

— Bronca nenhuma. Ei, arruma a sala direito, e coloca o quadro ali. — Ele deu ordens aos diversos entregadores.

— E o que é isso? — Perguntei curioso.

— É para Melinda, vou sugerir a ela que dê aula a molecada da comunidade — Ele encheu a boca falado com satisfação.

— Aulas? — Minha testa se enrugou quando olhei confuso.

— Sim, da língua dela, a molecada vai querer aprender.

— A ideia parece boa, mas você acha que ele quer da aula? — Sentei na mesa brincando com alguns objetos ao meu lado.

— Eu quero que ela se sinta bem aqui.

Ele estava cheio de esperanças em fazê-la ficar enquanto Melinda acreditava que ele iria deixá-la ir.

— Presa? — Falei baixo como um sussurro.

— Presa não, ela é livre para andar pela comunidade — Disse como se isso fosse suficiente para ela.

— Espero que isso a deixe feliz — Suspirei em derrota.

— Está preocupado com o quê? Vou me casar com ela. — Afirmou com diversão.

— Casar? — Engoli seco as suas palavras, casar? Eu nunca o ouvir falar em nada que remetesse a um relacionamento sério.

— Sim, imagina como seria os nossos filhos, nunca vi negr0s ruivos — Gargalhou.

— Confesso que eu também não.

— Pois é vamos ver o que vai dar essa mistura.

— E o caio? — Perguntei mudando de assunto.

— Deixei uns caras de olho nele, não gosto da forma como ele olha para a Melinda.

— Então é só ciúmes? — Perguntei parecendo despretensioso.

— Pode ser, eu sinto ciúmes, pela primeira vez na minha vida, eu quero algo só para mim, e me f0de saber que ela não me quer com a mesa

intensidade com que a quero.

— Eu ouvi ela falar de um acordo, que você a levaria para Boston — continuei buscando as minhas respostas.

— Ela disse que vai ceder, eu pedi três meses, dentro desse tempo vou fazer ela me querer tanto quando a quero.

— E se a tara passar? Digo se você ver que não a quer mais. — Encolhi os ombros.

— Qual foi João Vitor, onde tu quer chegar irmão? — Ele me olhou desconfiado.

— Eu sinto pena dela, é só uma menina Dom, uma adolescente de dezoito anos.

— E daí? Depois de dezoito vem dezenove e depois vinte e por aí vai parceiro, logo ela deixa de ser uma adolescente. Está incomodado com o quê? Que c0mer também?

Cerrei os punhos o vendo falar assim dela, mas não respondi. Ele gargalhou me vendo engolir seco, mantendo o silêncio.

— Essa é só minha beleza? Eu não quero dividir.  Somos irmãos tá ligado, mas eu gosto da mina.

— Nunca te vi interessado em ninguém, você está assim porque ela está sendo difícil — Eu desejei que ele me confirmasse isso.

— Difícil e cara irmão, paguei meio milhão, tá ligado e para quê? Estou a meses tentando e nada.

— Ela é uma pessoa Domenico, tem sentimentos.

— Eu também tenho Porr4, eu gosto dela, a mina dorme na minha cama, eu durmo sentido o cheiro dela, ouvindo aquela voz doce, sentindo aquela pele deliciosa.

— T3são é isso que você sente por ela.

— Isso até tu sente malandro, acha que eu nunca vi como tu olha para ela? Só não arranquei os teus olhos porque tu é a minha família tá

ligado, mas não toca nela não irmão, vai atrás das put4as para aliviar as tuas vontades, passa no put3iro, aliás faz tempo que tu não vai, estás comendo quem?

— Ninguém, estou de boa.

— Então fica de boa longe da minha mina, eu comprei, ela é minha e só sai daqui quando eu quiser que ela saia, deixa que com ela eu resolvo as paradas.

— Beleza!

Levantei contrariado indo até à frente da sala onde Domenico está montando a sala de aula de longe sentado como quem observa tudo estava

Caio, ele não desviou os olhos quando eu encarei, as pessoas não costumam nos

encarar só o tempo necessário para um cumprimento.

Fui em sua direção e sentei ao seu lado.

— E aí o que está achando da comunidade? — Dei um leve tapa em seu ombro.

— Não tenho intenção de ancorar por aqui — Ele ainda olhava fixo para a movimentação na sala.

— Domenico está montando uma escola de Inglês para a molecada.

— Quem vai dar aula? — Me olhou franzindo o cenho.

— Melinda.

— Serio? — Gargalhou como se estivesse ouvindo a coisa mais absurda.

— Sim, falo sério.

— Interessante — Coçou a cabeça analisando com curiosidade.

Ele parece conhecer a Melinda mais do que nós temos conhecimento, e embora isso me deixe enciumado, comecei a sentir que ele estava

ali a protegendo, eu não tinha certeza, mas eu tinha motivos para acreditar nisso começando pelos olhos aflitos que ele tinha quando a carregou nos braços baleada.

— Você gosta dela? — Ele olhou me estudando.

— Não somos amigos para trocar confidencias — Respondi sem encará-lo

Levantei indo à sala quando Domenico chegou com Melinda na garupa da moto.

— E aí, minha boneca, o que você achou? — Ele indagou satisfeito.

— E o que é isso? — Seu tom foi desdenhoso.

— Pensei que você poderia dar aula para os moleques da comunidade, ensina a tua língua.

Ela olhou com desdém, torcendo o nariz, sacudindo a cabeça negativamente.

— Eu não sou professora Domenico, eu não sei ensinar — Virou as costas subindo o morro apressada, mas antes ela me olhou e estava escrito bem no fundo deles “você tinha razão” eu vi as esperanças dela de voltar para Boston sendo derretidas como gelo.

— Espera Melinda — Ele a puxou pelo braço e segurou firme a sua cabeças contra a dele, pronunciou algo que eu não ouvi, mas que a fez recuar.

Vi quando os seus olhos se encheram de lagrimas e ela sorriu sem humor olhando para ele.

Andou em direção a sala de aula e olhou as crianças forçando um sorriso.

— O que você disse a ela? — Indaguei curioso.

— Nada de mais, eu só lembrei a ela que ela tem três meses para me deixar satisfeito, foi ela quem propôs como ela esqueceu tão rápido?

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