Você também cuidaria de mim?

— Então que tal um sorvete para matar a saudade? — Celina sugeriu, Bianca concordou animada com a proposta.

Como Bianca não podia andar muito tempo na rua, devido ao risco de sequestros, Celina preferiu pegar uma carona com Denilson até uma sorveteria próxima. Não era muito longe da escola, mas Celina já tinha conseguido problemas demais com Fernando, colocar Bianca em risco era morte certa, apenas a ameaça de fazer ela chorar ou ficar triste foi suficiente para que Fernando pensar em tirar a vida de Celina e Ben. Quem dirá um perigo real.

— Eu amo esse lugar — Bianca gritou descendo do carro de braços abertos, correndo para sorveteria. Celina correu atrás, desesperada com medo que alguém levasse a menina que estava em seus cuidados.

— Vamos sentar ali? — Celina sugeriu a Bianca.

— Vamos pegar o sorvete antes? Meu pai sempre faz isso. E me deixa montar o meu sorvete. Bem.. eu mostro o que eu quero e ele faz — Bianca explicou puxando a mão de Celina em direção do freezer com sorvete.

— Então vamos fazer o mesmo que você faz com seu pai. Vem, me mostra o que vai querer que eu coloque no seu. — Celina orientou Bianca.

Entusiasmada com sorvete, Bianca pediu um pouco de cada coisa que tinha na sorveteria. Não parecia na bonito. Era mais como um arco-íris reformado feito de guloseimas e sorvete. Para o dela, Celina colocou apenas um bolo do de morango e cobertura de geleia da mesma fruta. Sorvetes preparados e pagos. Foram para mesa tomar suas sobremesas geladas. Quando o sorvete estava quase na metade, Celina decidiu iniciar a tal conversa que precisava.

— Bianca, lembra que te contei que o Ben estava doente? Que ele precisava de mais cuidado às vezes? — Celina perguntou a criança.

— Sim, eu também quero cuidar do meu irmão. Vou cuidar dele. — Bianca gritou antes de colocar outra colherada de sorvete na sua boca.

— Fico feliz que pense assim, vou contar para o Ben que ele tem uma Bianca maravilhosa preparada para cuidar dele. — Celina estava feliz com o carinho de Bianca por Ben. Sempre foi só ela, ele e Diana. Celina queria que seu filho tivesse muito amor, queria que ele se sentisse amado, seu filho merecia isso, ainda mais depois de todas as batalhas que já enfrentou desde que nasceu. Ben merecia todo amor que houvesse nessa vida.

— Você está chorando? — Bianca perguntou preocupada.

— Estou, de felicidade, fiquei feliz ao ouvir que você cuidaria do Ben. Quero mais do que tudo que ele seja muito amado. — Celina confessou, Bianca na mesma hora correu para abraçar ela. — Bianca, o Ben agora está um pouquinho mais doente, precisa ficar no hospital por alguns dias, como ele é muito pequeno, eu preciso ficar no hospital, até que ele melhore e possa voltar para casa bem.

— Por isso saiu brava ontem? — Bianca perguntou parecendo curiosa.

— Eu fiz algo errado ontem. Não deveria ter agido daquela forma, me desculpa. — Celina ficou ainda mais envergonhada por saber que aquela menina tinha visto.

—Tudo bem. Se eu ficar doente um dia, você vai cuidar de mim assim como cuidou do Ben? — Bianca perguntou, Celina não sabia bem o que passava na cabeça daquela criança.

— Sim, eu cuidarei com todo amor que eu tenho. Assim como cuido do Ben nesse momento. Você compreende que talvez eu tenha que ficar ausente alguns dias para cuidar dele? Não estou me afastando de você ou nada do tipo. Estarei no hospital por um tempo e vou voltar. — Celina queria ter certeza que Bianca estava bem com tudo aquilo.

— Sim. Eu posso visitar meu irmão? — Bianca perguntou se afastando de Celina e voltando para seu sorvete.

— Claro, mas terá que pedir ao seu pai. Se ele permitir, tenho certeza que Ben vai adorar sua visita. — Celina respondeu acariciando a cabeça de Bianca.

Logo que terminaram o sorvete, Celina enviou Bianca para casa com Denilson e voltou para o hospital. Assim que chegou Diana estava na porta do quarto andando de um lado para outro. Celina correu para o encontro dela.

— O que está acontecendo? — Celina perguntou preocupada.

— Eu não sei, não me contam nada quando pergunto, dizem que não sou membro da família. Só devem contar a você mesmo. — Diana respondeu roendo as unhas.

— Vou descobrir. Se acalme. — Celina chegou a conclusão que não deveria se preocupar demais. Thiago havia dito que estava tudo bem, ela iria se apegar aquelas palavras e pronto.

Celina abriu a porta do quarto, que estava repleto de pessoas de branco parecendo todas bastante ocupadas. Olhou procurando por Thiago entre eles, mas para sua frustração não estava. O que deixou ela um pouco nervosa.

— Olá, você é? — uma das enfermeiras perguntou.

— Ah. Eu sou Celina, mãe do Ben. — Celina explicou apontando para o bebê que estava na cama..

— Ah! Senhora Celina, vejo que está preocupada. Não se preocupe. Estamos apenas fazendo um exame de rotina que o doutor Thiago nos passou. Ele quer analisar como está funcionando cada partezinha do coração do Ben. — A enfermeira respondeu se aproximando de Celina.

— Então ele está bem? — Celina perguntou olhando para seu filho desacordado e cheio de fios.

— Está bem, até melhor que ontem pelo que vi no relatório. Não precisa se preocupar. Seu bebê é forte e está se recuperando bem. Deveria tentar tirar um cochilo enquanto fazemos o exame, deve demorar um pouco. Você parece muito cansada. — A enfermeira sugeriu para Celina, que estava com uma aparecia terrível.

— Irei fazer isso. Obrigada. Vamos dizer que a poltrona não é o lugar mais confortável do mundo para dormir. Me sinto toda quebrada. — Celina disse para a enfermeira antes de se afastar e deitar na poltrona fechando seus olhos. Não tinha como se manter acordada mais.

O sono veio rapidamente, sem deixar Celina reagir. Quando acordou já estava com Thiago no quarto, conversando com as enfermeiras, aplicando uma medicação em Ben. Ela se levantou desesperada. Percebeu que tinha não apenas dormido muito, Thiago já estava lá, como também havia esquecido totalmente de ter deixado Diana do lado de fora do quarto, esperando respostas antes de cair no sono.