Não confiem no celular

O cochilo dela passou um pouco da hora. O celular acabou não alarmando, estava descarregando e Celina não havia percebido. Quando despertou foi com batidas fortes na porta do seu quarto. Desnorteada, levantou indo em direção da porta. Quando abriu, se surpreendeu ao ver Fernando parado com cara de poucos amigos para ela.

— O que você tem na cabeça? Como pode ser tão irresponsável? Não tem ao menos a capacidade de honrar com seus compromissos? Quer morrer! — Fernando gritava totalmente furioso.

— O que aconteceu? — Celina perguntou desnorteada sem saber o que aconteceu, nem ao menos tinha acordado de verdade ainda.

— Você não sabe? Bianca esperava que você, sua irresponsável fosse pegar ela na escola, mas onde estava você? Dormindo muito bem no seu quarto, sem se preocupar com nada. — Fernando gritou segurando a gola da camisa de Celina. Sua filha tinha sido esquecida na escola, para ele, não tinha perdão.

— Quê! Meu Deus! Meu celular está desligado! — Celina grita e se vira para Fernando — Bianca? A Bianca? Onde ela está? Como está?

— Chorando porque "a mãe dela não foi buscar ela". Por mais que eu explique que você é apenas uma babá imbecil que nem ao menos consegue fazer o mínimo, ela não quer abrir a porta do quarto. — Fernando gritou.

Celina na mesma hora pegou a babá eletrônica, foi correndo para o quarto da Bianca. Estava se sentindo terrível culpada. Para complicar tudo, ela ainda deixou Fernando falando sozinho, mas para ela, esse era o menor dos seus problemas. Já na frente da porta do quarto de Bianca, Celina batia sem resposta.

— Bianca. Abre. Vamos conversar. Quero me desculpar com você — Celina disse batendo na porta incessantemente.

— Não! Eu não quero. — Bianca gritou em resposta.

— Bianca, eu sei que errei. Por isso quero conversar. Por favor, abre a porta. Quero fazer as pazes. Eu não fiz de propósito. Me deixa te explicar — Celina estava ficando nervosa já. Estava tão focada na porta que não viu Fernando se aproximando.

— EU NÃO VOU ABRIR. EU NÃO QUERO VOCÊ E NEM NINGUÉM NO MEU QUARTO. NÃO QUERO FALAR COM VOCÊ — Bianca gritou.

Celina irritada com a situação, chuta a porta do quarto de Bianca, fazendo com que fosse aberta com o golpe. Surpreendendo totalmente Fernando. Que não sabia se deveria se chocar por ela conseguir arrombar a porta com um chute ou por ter destruído ao chute uma porta no seu primeiro dia de trabalho sem qualquer preocupação. Enquanto Fernando se questionava, Celina entrou no quarto, Bianca se cobriu. A nossa protagonista, sem paciência alguma, puxou o lençol, pegou Bianca e sentou ela, segurando sua mão

— Você não pode simplesmente recusar ouvir o outro lado da história dessa forma, eu sei que está magoada, que errei, mas você precisa ouvir quando alguém estiver querendo se explicar, só aí deve tomar sua decisão. Quando você errar ou machucar alguém, quiser muito fazer as pazes com essa pessoa, já que nunca foi sua intenção magoar ela. Você não gostaria de ser ouvida? — Celina não achava correto a atitude de Bianca. Não parecia certo uma criança agir daquela forma.

— Você me deixou sozinha. Fiquei esperando. E não apareceu. Eu... — Bianca começou a chorar. O coração de Celina doía. Ela abraçou Bianca e acariciou sua cabeça.

— Me desculpe, minha pequena. Eu não queria nunca ter te deixado esperando. Ontem a noite, Ben ficou muito doente, passei a noite no hospital com ele, quando cheguei fui cuidar de você. Depois que estava na escola, voltei e fui tirar um cochilo, deixei o celular para alarmar bem antes da sua saída da escola, mas ele não tocou, estava desligado. Só acordei agora quando seu pai me avisou que eu havia esquecido. — Celina explicou. Sabia que muito do que disse, Bianca talvez não compreendesse totalmente, mas achava importante que fosse dito a verdade.

— Você dormiu? Ia me buscar? — Bianca perguntou olhando para ela.

— Claro que ia. Não iria deixar você lá. Me desculpa por você ter se sentindo assim. Vou fazer algo bem gostoso como forma de me desculpar. Que tal? — Celina perguntou vendo que Bianca já estava mais aberta ao diálogo. O que era uma alívio, estava realmente se sentindo culpada.

— Sim! — Bianca respondeu com um sorriso animando.

— Então vamos. — Celina disse ao se levantar da cama. Estendendo a mão para Bianca. Que deu a mão para Celina, mas antes que pudessem dar um passo, Bianca puxou a blusa de Celina, chamando sua atenção.

— O Ben está dodói? — Bianca perguntou parecendo preocupada. Celina sorriu colocando ela no colo.

— Ben nasceu com um pequenino problema no seu coração, ele é muito mais delicado que as outras crianças. Ontem ele ficou doente, mas já está bem melhor. Talvez ele fique doente algumas vezes, mas ele é forte. Não precisa se preocupar — Celina explicou para Bianca. Queria que ela compreendesse um pouco sobre a situação do Ben. Não quer que ela se sinta mal se algo novamente acontecer. Independente de tudo, Ben será sua prioridade, mas não pretende repetir o erro. Não queria magoar novamente Bianca. Seria muito mais cuidadosa.

— Eu vou ser uma boa irmã mais velha. Vou cuidar do Ben quando estiver doente. — Bianca disse com as mãos para cima, com um enorme sorriso.

— Muito obrigada. Eu fico muito feliz por isso. Tenho certeza que Ben vai amar sua companhia. — Celina disse começando a caminhar, quando olhou em direção da porta, se deu conta da presença de Fernando, percebeu enfim o que tinha feito com a porta do quarto de Bianca no meio de sua raiva.

— Pode ir. Depois conversamos. Faça algo para que eu coma com vocês também. — Fernando estava curioso como podia ser que alguém tivesse a coragem de chutar a porta de um agiota na sua frente, mas pelo menos, não apenas Bianca estava calma, como estava indo comer. A porta era o menor dos problemas em comparação com o sorriso de sua filha.