Você precisa ser forte

Depois de várias lágrimas derramadas, um grande corpo de água bebido bem devagar para engolir com ele todos os medos e pensamentos negativos, Celina finalmente começa a se acalmar com ajuda de Thiago e Diana. Que se mantiveram ao lado dela até que conseguisse voltar a si.

— Obrigada aos dois. Já me sinto melhor. Posso ver meu filho? — Celina disse ao se levantar olhando ao redor. Ainda estava um pouco desorientada. Nunca imaginou que a cirurgia viria tão cedo.

— Claro. Me siga, mas antes pode vir comigo e assinar os papéis de internação? Diana não pode por não ser parente do Ben, apenas adiantou preenchendo um questionário com os dados que sabia nele. — Thiago explicou enquanto se dirigia em direção da recepção.

Thiago pediu os papéis do Ben pendentes a funcionária da recepção, que logo é entregue pela recepcionista. O cardiologista, tenta ajudar Celina que estava com certa dificuldade para absorver informações, enquanto dava um a um os papéis para ela responder, explicando cada um deles. Tudo assinado, foi levada para o quarto que seu bebê era monitorado.

— Obrigada, Thiago. Eu não sei o que faria sem você. Nunca irei conseguir pagar tudo que fez por mim e por meu filho — Celina confessou aliviada ao ver que seu filho estava seguro.

— Sabe porque eu preciso que você se mantenha forte, racional e calma? Assim poderemos vencer essa batalha. Minha mãe me disse uma vez, que o ser mais forte, imbatível, imparável, capaz de tudo é uma mulher que pensa. E se ela for mãe então, ela rompe as barreiras do que se diz ser impossível. Então, Celina, vai doer, vai. Será difícil? Sim, quase a beirando ao impossível, mas você nasceu com a missão de cuidar desse bebê maravilhoso. De vencer com ele. E eu acredito muito que você pode. — Thiago disse, a batalha estava só começando, Celina deveria manter sua cabeça no lugar.

— Você é um ser de luz, sabia? Realmente nasceu para ser médico, mas não apenas para reparar a parte física, mas também, os corações aflitos, partidos e assustados. Espero que nada mude isso em você. — Celina confessou, se sentia segura com Thiago ao lado auxiliando essa fase.

— Que generosa você é. Não fiz nada mais do que meu trabalho. Aliás, preciso fazer a ronda, se precisar de algo, pode falar para as meninas da enfermagem que ela me chamam. — Thiago um pouco envergonhado pelos elogios se despediu.

Após a saída do cardiologista do quarto, Celina se aproximou do Ben que estava dormindo parecendo tão calmo no bercinho. Estava com o balão de oxigênio, com um soro na sua mãozinha. Só de ver seu filho tão quieto, o coração de Celina apertou, respirou fundo. Lembrou do que Thiago tinha dito. Não podia deixar abalar com a cena, Ben estava lutando, Celina iria lutar tanto quanto ele. O pensamento dela foi interrompido por Diana batendo na porta do quarto. Apenas podia entrar uma pessoa de cada vez.

— Oi, quer entrar e ver ele? — Celina perguntou vendo as lágrimas ainda caindo.

— Queria me desculpar. Eu deveria ter cuidado melhor dele. Eu fiquei.. — Diana estava se sentindo culpada, não sabia como ajudar ela e não queria admitir que esqueceu de dar o remédio de Ben algumas vezes.

— Está tudo bem. Não é a sua culpa. Você sempre me ajudou tantas vezes. Não sei o que seria de nós dois sem você. — Celina disse tentando consolar a amiga que não parava de chorar.

— A culpa é minha! Toda minha. Você tem que me odiar. Eu acabei estragando tudo. Confiou em mim para cuidar dele, eu esqueci de dar a ele a medicação a última vez que fiquei. Quando lembrei eu já tinha te entregue. Pensei que não aconteceria nada. Eu quase matei o meu afilhado. Quão idiota eu fui. Eu queria poder voltar ao tempo. Ben, me desculpa... — Diana estava aos prantos, a voz embargada.

— Foi errado. Muito. Deveria ter me dito assim que lembrou, mas acho que uma vez, atraso do medicamento ou ausência dele não levaria até esse estado. O Thiago já havia me dito a importância da medicação certinha, mas creio que uma apenas não teria todo esse impacto, todas elas eram pontuais. Só tenha cuidado. Não deixe mais que aconteça. Se perceber que esqueceu me ligue. — Celina não podia exigir tanto da amiga, ela sabia seu erro muito bem. Não precisava jogar mais sal na ferida. E agora, a cabeça de Celina estava totalmente focada na recuperação de Ben.

— O que você vai fazer com seu emprego novo? Vai ligar para ele? — Diana perguntou mudando de assunto. Sabia que quanto mais falasse sobre o assunto, mais as duas se sentiriam pior.

— Meu emprego é o menor dos meus problemas agora. Minha prioridade é Ben. Se o dinheiro acabar, darei uma forma de resolver isso depois. Um problema de cada vez. Agora preciso odiar com Ben doente e precisando de uma cirurgia. Será nisso que vou ficar. Aliás, depois dela, eu descubro o que farei da minha vida. — Celina explicou. Nem estava lembrando do fato que precisava pagar um débito imenso ao agiota, mas mesmo assim, esse seria o menor do problema.

— Vou deixar você aqui com Ben e irei no seu trabalho pegar algumas coisas de vocês dois. Você não pode ficar aqui sem nada. — Diana disse para Celina, que se deu conta do problema que poderia arrumar para ela, caso deixasse que ela fosse na casa buscar suas roupas.

— Não, tudo bem. Vou aproveitar que ele ficará desacordado por um tempo e irei buscar. Pode ficar com ele por enquanto que irei lá? — Celina tinha que lidar com isso de qualquer forma. Não podia deixar Diana entrar em problemas por sua causa.

— Claro. Pode ir sem se preocupar. Irei tomar conta dele. E Thiago também está aqui. Qualquer coisa chamo ele. Se mudar algo prometo que grito por sem piscar. — Diana falou com a mão para cima, como tivesse jurando.

— Deixo então Ben com você dois. Tenho certeza que ficará bem. Já voltou. Qualquer coisa me ligue. — Celina disse antes de sair.

Celina pediu um Uber para voltar, o carro que usou para ir para o hospital havia desaparecido. No caminho para casa foi lembrando o que ela fez antes de sair. O soco que deu no Denilson e imaginando o ódio que Fernando deveria está. Seria bem complicado entrar e sair de lá. Ela estava certa que teria uma grande cabeça ainda nessa noite.