Consertando a bagunça

O dia se fez, a luz não entrou naquele quarto, não havia sequer janela para que luminosidade calorosa do sol preenchesse o cômodo. O que deixava aquele lugar um pouco pior do que já era. Celina sempre gostou daquela sensação gostosa do calor nas primeiras horas da manhã, mas hoje diferente do padrão, ela despertou com a troca de medicação de Ben. Uma enfermeira sorriu para Celina enquanto levantava rapidamente surpresa com a presença da profissional.

— Me desculpa. Acordei você. Estou terminando de trocar o soro dele que secou. Como precisamos manter a veia, deixaremos o soro devagarinho — A enfermeira explicou com um sorriso.

— Ele está bem? — Celina perguntou preocupada.

— Os sinais estão bons, mas o médico deve passar mais tarde para ronda. Como teve plantão de madrugada, ele deve passar no final do dia para visitar os pacientes que estão internados. Ben está em sua lista. Caso precise se algo, pode me chamar. Sou a enfermeira do turno. Pode voltar a descansar — A enfermeira explicou para Celina, que agradeceu enquanto a profissional se explicava.

Celina não conseguia mais dormir, seu corpo inteiro estava doendo. Não era nenhum pouco confortável dormir em uma poltrona dura apoiada em um pequeno berço. Sem conseguir mais voltar ao seu sono, ela se espreguiçou, se esticou um pouco regada aos bocejos. Aproveitou para tomar um banho, trocar de roupa e ligou para Diana pedindo que ficasse com Ben enquanto ela resolvia alguns assuntos de trabalho.

Não demorou muito, Diana chegou revigorada, totalmente recarregada e cheia de energia. Celina quase bateu nela por ela está sorrindo tanto e ela quebrada, mas não tinha tempo para isso. Com sua amiga cuidando de Ben. Celina pediu um Uber, foi para escola de Bianca. Precisava conversar com Bianca, mesmo que para ela Fernando tivesse sido um babaca, estava certo sobre conversar com Bianca. Ela era uma criança carente que via em Celina uma mãe. Sumir sem qualquer explicação para ela.

Celina fechou na porta da escola 40 minutos antes da saída. Como não tinha o número do patrão surtado dela, iria precisar conversar com quem que que viesse buscar Bianca. Por sorte ou azar, 20 minutos depois Denilson chegou, usando um curativo no nariz, Celina quais ri, aquele homem enorme com um curativo no nariz por um soco de uma mulher. Celina chegou a conclusão que deveria se desculpar pelo surto dela. Assim como os funcionários haviam dito, Denilson estava fazendo nada além das ordens recebidas.

— Senhor Denilson, bom dia, tudo bom? — Celina disse com um sorriso amarelo de quem não sabia como se portar naquela situação.

— Não muito, uma surtada me socou de graça ontem a noite. Acredita? Sem contar o omelete que fez de mim. E olhe, que eu nem sequer tinha tocado nela ou feito nada contra ela. — Denilson respondeu fazendo careta.

— Me desculpa, quando se trata do Ben eu fico um pouco mais violenta do que deveria. Eu ainda estou aprendendo a lidar com a maternidade, a doença de Ben e o meu trabalho louco com um agiota psicótico. Sabia que antes disso tudo eu apenas era uma assistente administrativa chata, com um trabalho padrão e sem nenhuma emoção. Eu não sonhava em engravidar e nunca sequer cuidei de uma criança pequena doente. Então, pode parecer apenas desculpas minha, mas realmente eu sinto um caos dentro de mim. Como se tivesse passado uma tempestade dentro de mim e bagunçado toda minha vida. — Celina confessou, para ela, parecia tudo uma desculpa, mas ela mal conseguia lidar com todas as mudanças da sua vida e estava reagindo mal a tudo isso.

— Tudo bem. Te entendo. Eu tive meu filho quando ainda era adolescente. Não te culpo. Na primeira vez que vi levantando uma injeção chorei mais que meu filho. Eu compreendo como se sente. Só peço que próxima vez não me soque, você parece pequena, mas tem muita força — Denilson respondeu com uma face mais relaxada. Seu filho teve pneumonia quando bem pequeno e quase faleceu. Por isso, com toda a sinceridade de Celina, ele compreendia ela.

— Obrigada por sua compreensão. Senhor Fernando pediu que eu viesse conversar com Bianca sobre o que aconteceu. Poderia deixar que eu levasse ela para tomar um sorvete antes de levar Bianca para casa? — Celina perguntou um pouco envergonhada por ter machucado Denilson e por querer rir da sua aparecia.

— Fernando já deixou avisado que você iria aparecer. Pediu apenas que eu ficasse próximo, já que Bianca pode ser alvo de sequestradores. — Denilson explicou para Celina, que caiu já gargalhada.

— Sabe que conheci Bianca perdida em uma praça, né? Não faz sentido essa dos sequestradores. Assim como achei ela e podia ter levado, qualquer um poderia ter feito o mesmo. — Celina brincou lembrando do primeiro encontro delas.

— Fernando não é bom em dizer não para Bianca. Naquele dia ela pediu para brincar de esconde-escode, mesmo sabendo que era perigoso, como sempre, o pedido de Bianca foi aceito. Mesmo assim, estava tudo sob controle, ele fechou todas as saídas da praça assim que concordou. Fernando é um pai muito babão, mas extremamente cauteloso, na verdade, a palavra certa é superprotetor. Ele fará qualquer coisa que for necessário para deixar ela segura e feliz. — Denilson explicou para Celina, que começou a compreender um pouco as atitudes de um agiota que quer a filha feliz e segura. É uma mistura extremamente perigosa.

Antes que Celina pudesse responder ao Denilson, o sinal da escola tocou, mostrando que as aulas haviam finalizado, não demorou muito e Bianca surgiu, já gritando por Celina, correndo em sua direção de braços abertos.

— MAMÃE! — Bianca gritou pulando nos braços de Celina, que girou ela no ar.

— Como está a linda Bianca? — Celina perguntou

— Feliz agora. Estava triste. Estava com saudade. — Bianca respondeu fazendo careta.

— Então que tal um sorvete para matar a saudade? — Celina sugeriu, Bianca concordou animada com a proposta.

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