Capítulo 8

...Isis

...

Não esperava que o tenente viria atrás de mim, mas ele estava disposto a me ajudar.

E ele tinha tanta convicção de que poderia me tirar dessa situação. Mas deixo de pensar nisso foco somente no meu filho.

Chego no hospital depois de arrumar a casa, deixar comida pronta e passar o uniforme do João, estou cansada e só de pensar que terei que enfrentar a cadeira do hospital, meu corpo já protesta.

Ao entrar no quarto vejo João dormindo e Ian está confortavelmente no bercinho.

Ponho minha bolsa em cima da mesinha e neste momento meu marido acorda.

— Finalmente, que demora, é horrível ficar aqui. Essa cadeira é dura. — João reclama.

— Desculpa, mas já fiz tudo. Deixei comida pronta e congelada, vai dar por pelo menos 4 dias. Seu uniforme está passado e a casa arrumada. Não precisa fazer mais nada.

— Isso que é mulher, uma mulher que cuida das necessidades do marido. — Ouço mas não falo nada. — Vou indo, fica bem esposinha. E ah precisa trocar a fralda do moleque, ele já está cheirando mau.

Ele nem foi capaz de trocar a fralda do nosso filho, espero ele sair do quarto e troco a fralda do Ian.

Ele me presenteia com seus olhinhos azuis e me dá um pequeno sorriso, isso já renova minhas energias.

.......

...

Seis dias se passaram desde que o meu menino ficou doente, o médico hoje nos transferiu para o quarto, Ian não está mais no oxigênio e nem ligado aos aparelhos para medir seus sinais vitais. O doutor falou que até segunda feira que vem, ele poderá voltar para casa, ficava feliz pois isso significava que meu filho, está saudável de novo.

Mas por outro lado, isso significaria ter que ver o carrasco de homem do meu marido.

O tenente realmente não veio mais me procurar ou ver o garotinho, eu lamentava mais eu sabia que era o melhor por mim e por meu bebê.

João todos os dias que pôde veio até aqui e me lembrou da dona de casa que eu era, fiz sua comida, passei seu uniforme e ajeitei a casa todos os dias.

Porém ele não me tratou mal nenhuma vez, não gritou comigo ou brigou.

Sei que não houve milagre dele mudar, já aprendi isso também. Eu só estou seguindo conforme ele me manipula.

Acaba a medicação do Ian e peço permissão para levar ele um pouquinho na brinquedoteca. Ele gosta de brincar na piscina de bolinha.

Coloco ele sentadinho na piscina e ele já pega uma bola vermelha, ele joga para cima e da risada quando a bola cai.

Sento em sua frente brincando com ele, quando vejo um homem se aproximar.

— Quem é esse garotão? — O homem pergunta jogando uma bola para o Ian que gosta.

— Ian. — Respondo vendo a felicidade do meu filho.

— Tão gostosa essa fase né? Eu lembro dos meus quando eram pequenos, eu tenho quatro filhos, todos já adultos e com filhos. Sinto tanta saudade deles assim, tão dependentes de mim. Um conselho, aproveita muito, quando menos esperamos eles estão barbados e falando de mulheres. — O homem parece ter sabedoria, talvez a idade seja a responsável, já que ele aparenta ter entre 50 a 60 anos. — A propósito sou o Dr Pedro, pediatra. — Ele se apresenta estendendo a mão para mim.

— Muito prazer sou Ísis mãe desse garotinho. — Respondo.

— Me desculpe a intromissão mas não pude deixar de reparar em como você parece triste e cabisbaixa, eu percebi como o seu marido trata você, estou sempre pelos corredores. — Ele faz uma pausa, então ele continua — Não precisa falar nada para mim, não quero me intrometer na sua vida, só vou te dar um conselho, eu sei que você não me pediu, mas você pode fazer o que quiser com ele. Eu sou casado e sou muito feliz com minha mulher e ela é feliz comigo, mas antes de eu a encontrar, ela sofreu na mão de um homem, ela apanhou dele e aguentou tudo isso calada, sabe no que isso resultou? Lucas, seu filho, foi molestado sexualmente pelo seu namorado. Não espere acontecer o pior para procurar ajuda. Grita sua dor para quem pode te ajudar, antes que seja tarde, não estou aqui para te colocar medo, é só um conselho, como eu disse, você pode fazer o que quiser com ele. — Ele diz, brinca mais um pouco com o Ian então vai embora.

O homem conseguiu me desestabilizar com suas palavras, e as suas palavras estão na minha mente. “Não espere acontecer o pior para procurar ajuda.”

Com isso em mente, pego o meu filho no colo e resolvo tomar uma atitude.

É só esperar o meu filho ter alta.

.......

...

Ian recebeu alta com 10 dias de internado, o médico que descobri ser Filho do Dr Pedro me explicou todos os cuidados que eu precisaria ter.

Depois disso fomos liberados para a casa, arrumei todas as nossas coisas e fui até o meu menino peguei ele no colo, os médicos e enfermeiros vieram se despedir da gente, inclusive o Dr Pedro, ele me deu um sorriso, me transmitindo a força que eu precisava.

Fomos embora a pé, quando cheguei em casa, aproveitei que o João estava no trabalho e comecei a arrumar as coisas que Ian iria precisar, não peguei nada que ele me deu, só peguei minha correntinha que foi minha irmã que me deu antes de eu a afastar por conta do João.

Mas minha intenção de ir embora sem que o João descobrisse foi por água a baixo quando vi ele entrar pela porta da sala e dá de cara comigo, Ian e a mochila no ombro.

— Onde você pensa que vai sua vadia? — Ele avança para ir perto de mim e eu dou um passo para trás. — Tá achando que pode se ver livre de mim? — Ele fala avançando para o meu lado, vou dando passos para trás até bater na parede.

— Pensa João, a gente já não dá mais certo juntos. — Tento argumentar e achar um jeito de escapar, mas ele me encurralou na parede.

— Eu já sei isso tem dedo daquele policialzinho né? — Ele da risada. — Acha que pode ficar com ele, sua puta? Se enxerga ninguém te olharia sendo gorda desse jeito, você tem sorte de eu conseguir comer você.

As palavras dele me acertam em cheio.

— Uma coisa é certa, você não será minha, mas também não será de mais ninguém. — ele aperta meu pescoço, o que me causa falta de ar, vejo meu filho que chora desesperado em meu colo, tiro forças de não sei aonde e consigo dar um chute em seu saco, ele se ajoelha no chão, eu saio correndo daquela casa e ligo para a única pessoa que poderá me ajudar o tenente, que o João não me ache antes do Harry chegar.

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