Capítulo 15

~ Angelo

- Estou atrapalhando algo? - Digo assustando a moça que mais parecia um animal assustado.

Nesse momento, a empurro contra a parede e pressiono seu corpo, aproximo nossos rostos e digo:

- Não pense se quer em colocar os pés fora dessa propriedade sem minha autorização. Você não vai embora enquanto não me der informações sobre as pessoas que a mantiveram em cativeiro, está me entendendo? - Olho em seus olhos, como se enxergasse sua própria alma. Ela então balança a cabeça como forma de afirmação.

- Agora sente-se, você passou muito tempo sem se alimentar. - Vou em direção à mesa e ela me acompanha a passos lentos.

Sentamos em lados opostos e realizamos a refeição. Depois disso, pedi para que me acompanhasse até meu escritório.

- Vou ser objetivo com você, sei o quanto quer se ver livre dessa situação. Então espero que seja honesta em suas respostas, quero que me conte detalhadamente tudo o que viu naquele dia, qualquer indício sobre a identidade daquelas pessoas. - Disse Angelo sério.

- Após contar a você vou poder ir embora? - Pela primeira vez Martina havia falado diretamente com Angelo.

- Não vou lhe garantir isso por hora, pois aquelas pessoas podem voltar para tirar de você as informações de que precisam. Quando toda essa situação normalizar, você poderá ir, isso claro, se me der o que preciso em troca e não causar problemas em minha casa.

Martina viu a sinceridade nas palavras de Angelo, então contou tudo que sabia, falou até a garganta doer. Para ela era como tivesse passado anos muda, sem alguém que a ouvisse, não que apenas ouvisse as palavras que saiam de sua boca, mas que a ouvisse de fato, como ser humano, como alguém que sente medo, tem fraquezas e sentimentos reprimidos. Tudo isso em um relato de como os últimos dias haviam se tornado aterrorizantes para ela...

Angelo ouviu atentamente, ficou impressionado pela riqueza de detalhes e teve certeza da participação de Felipe, além de fazer uma lista mental sobre seus possíveis comparsas.

- O que posso fazer durante os próximos dias? - Martina, mesmo ainda acanhada, estava um pouco mais a vontade, no entanto, mantinha a guarda alta sobre qualquer reação de Angelo diante das coisas que falava.

- Estamos sem médico, então para pagar sua estadia e proteção, você prestará serviços para mim. Nós da máfia não frequentamos hospitais fora de nosso território, somente em casos excepcionais, então você irá atender aqueles que estiverem feridos e doentes no clã. Nos próximos dias seu posto de atendimento ficará pronto, mas antes quero que me ouça bem...

Martina prestava atenção em cada palavra de Angelo, ficara indignada com essa troca involuntária a qual estava sendo imposta à ela. Mas ponderava bem se valeria a pena ir embora de imediato, pois com certeza ficaria vulnerável ao mundo exterior aqueles muros.

- Se prejudicar qualquer dos meus homens, se eles morrerem em seus plantões você também morrerá, não só você, mas aquele garotinho que você esconde no Brasil também, faço questão de trazê-lo até aqui e fazer o serviço em sua frente, está me ouvindo? - Disse Angelo em tom de ameaça.

Martina estava paralisada com a informação que Angelo continha. Seu irmão mais novo era a única pessoa que tinha nesse mundo, trabalhava duro para bancar seus estudos no Brasil. Uma família era paga para cuidar dele, visto que Martina teve que praticamente comprá-lo de seus pais para tentar conseguir a guarda. Não suportaria vê-lo passar por tudo que ela passou um dia na mão daquelas pessoas.

- Como sabe do meu irmão? Nem mesmo as pessoas com quem convivo no trabalho sabem sobre ele. - Martina já estava com os olhos marejados.

- Eu não trabalho com ameaças vazias garotinha. Sua vida pregressa foi revelada a mim como um livro aberto, não há como se esconder da máfia Rendall, estamos em todos os lugares, continentes, países e até mesmo estivemos por dias vigiando sua casa, contando seus passos.

A mente de Martina estava inquieta com tantas revelações. Essa informação explicava alguns acontecimentos atípicos em sua casa. As janelas abertas, o carro preto parado em frente sua residência, os barulhos durante a noite...

- Eu aceito, desde que me garanta que não fará nada ao meu irmão. Por favor, ele é só uma criança... - Não via saída para aquela situação, a não ser aceitar a proposta que havia sido imposta.

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